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Política

Congresso fecha 2023 com avanço em propostas importantes para o País mesmo com 'tretas' nas redes

Casa aprovou a primeira reforma tributária desde a redemocratização brasileira, num momento em que o Legislativo se torna ainda mais empoderado na relação com o Executivo

23 dez 2023 - 03h10
(atualizado às 12h01)
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BRASÍLIA — Empoderado na relação com o Poder Executivo, o Congresso mais conservador da história se voltou para a agenda econômica e procurou afastar-se da polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no seu primeiro ano. Mesmo com uma Casa composta majoritariamente por integrantes que se definem como conservadores e com o clima acirrado na maior parte do tempo, o que garantiu muitos cliques nas redes sociais, propostas ideológicas não dominaram a agenda e sequer prosperaram.

Foi nesse caminho que o Legislativo federal conseguiu aprovar a primeira reforma tributária após a redemocratização brasileira. Lula retomou a política do toma lá, dá cá implementada nas gestões petistas e entregou ministérios com "porteira fechada" ao Centrão, dando liberdade ao partido do ministro para nomear todos os cargos na pasta, além de liberar R$ 32,7 bilhões em emendas para garantir aprovações relevantes. A fórmula "votou, levou" foi a saída para um governo que não fez maioria no Congresso.

Rafael Cortez, analista político e sócio da Tendências Consultoria, diz acreditar que o impeachment de Dilma, em 2016, ainda repercute no PT e causa preocupações no partido para não repetir o passado. "Há hoje, no PT, um senso de urgência, uma insegurança em relação a cenários de um poder mais dividido, que resultou no impeachment de Dilma", diz.

Como resultado, analisa Cortez, o PT acaba tendo que assumir mais custos para aprovar projetos próprios ou apoiar propostas mais à esquerda. "A vida da esquerda é mais difícil nesse sistema dividido, em que os presidentes das Casas legislativas não necessariamente são aliados do chefe do Executivo. Isso gera um custo maior", afirma.

A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) viu, especialmente no trabalho de Lira, um obstáculo para o avanço de proposições mais à esquerda. "Há um pressão organizada do Centrão, que fez que a gente tivesse ganhos menores que a gente esperava e tivéssemos derrotas contundentes", diz.

O mês de maio foi um dos mais dramáticos. Logo no dia 3, a Câmara aprovou, por 295 a 136, um projeto de decreto legislativo (PDL) que derruba parte dos decretos que alteram as regras de saneamento, editados no início de abril por Lula.

O placar mostrou ao governo a falta de apoio no parlamento e o risco de ver um processo de impeachment prosperar. Para isso, são necessários 342 votos, 50 a mais apenas do que o registrado na votação do saneamento. "Acho que essas derrotas foram alertando o governo e acendendo a luz amarela para melhorar essa interlocução", diz Marangoni (União-SP).

O deputado foi o relator da medida provisória (MP) que recriou o Minha Casa, Minha Vida e, àquele período, tinha queixas do diálogo, em especial, com Rui Costa. "Vejo que foi o ano de ajuste dessa nova legislatura frente a essa nova realidade de governo", observa. A partir disso, Lula faria novas acomodações em ministérios, acolhendo indicações do Centrão na Câmara, e usaria o repasse de emendas dias antes de votações importantes para assegurar adesões de integrantes do grupo.

Uma análise do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) define o atual Congresso como conservador, em relação aos valores; liberal, em relação à economia; fiscalista, do ponto de vista de gestão; e potencialmente refratário aos direitos humanos e ao meio ambiente. Segundo o Diap, são 332 deputados de direita ou centro-direita, o equivalente a 64% da composição da Casa. No Senado, o percentual chega a 69%, com 56 senadores desse perfil.

O Senado foi o responsável por aprovar as duas indicações de Lula ao STF: os nomes apresentados foram os de Cristiano Zanin, que era ex-advogado do presidente, e de Flávio Dino. O governo teve poucas derrotas pela Casa, em que a base tem mais aderência. Foram 86 indicações feitas neste ano, incluindo a de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República.

Relação com o Centrão esteve prestes a romper no primeiro semestre e Lula precisou entrar em campo para negociar

O final de maio foi o período mais perigoso para o presidente. Naquele período, o governo tinha acumulado derrotas importantes e teve que recuar e não pautar a votação definitiva do projeto de lei das fake news, com o receio de derrota após intensa pressão da oposição e das big techs.

A falta de articulação entre Lula e ministros com Lira e demais líderes partidários pôs, inclusive, em risco a estrutura do Executivo federal. O dia 31 de maio era o último dia de vigência da medida provisória dos ministérios, que remodelou a estrutura da Esplanada para acomodar 37 diferentes pastas.

Caso a MP não fosse aprovada na Câmara e no Senado, o desenho voltaria para como era no governo Bolsonaro, com 23 ministérios, e comprometeria toda a estrutura administrativa do governo Lula. A aprovação ocorreu praticamente no último de vigência da MP, no dia 1º de junho.

Dois dias antes, líderes de partidos do Centrão na Câmara, incomodados com a composição do governo só beneficiar indicações do Senado, ameaçaram uma rebelião. Lira manifestou as queixas publicamente. "Há uma insatisfação generalizada dos deputados com a falta de articulação política do governo, não de um, nem de outro", disse Lira. "Se o resultado não for de aprovação, não deverá a Câmara ser responsável pela falta de articulação política."

Lula cedeu a pressão. No dia 31, liberou R$ 1,7 bilhão em emendas. E assim conseguiu aprovar a MP por 337 votos favoráveis, 125 contrários e 1 abstenção. A aprovação no Senado ocorreu no dia 1º de junho, sem mais problemas.

Petistas, lideranças do governo e até ministro ajudaram a derrubar vetos de Lula; veja lista

Começo do Legislativo em 2022 mostrou uma oposição bolsonarista barulhenta, que precisou ser contida

Os primeiros dias de atividade do Congresso Nacional já expuseram como se comportaria o grupo bolsonarista agora na oposição e os petistas, agora na situação.

Na cerimônia de posse e eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, realizada no primeiro dia de fevereiro, lulistas e bolsonaristas já disputavam gritos de guerra na Câmara. De um lado, apoiadores do petista puxaram "olê, olê, olê, olá; Lula, Lula..."; do outro, a oposição respondeu com "Lula ladrão, seu lugar é na prisão". Parlamentares bolsonaristas apareceram em massa com adesivo escrito "Fora Lula" e "Fora Ladrão".

Um mês seguinte, Lula faria trocas na Esplanada. André Fufuca (PP-MA), então líder do partido na Câmara, assumiria o ministério do Esporte no lugar de Ana Moser e Silvio Costa Filho (PE), então filiado ao Republicanos, foi para o Ministério dos Portos e Aeroportos. Márcio França (PSB-SP), foi realocado no ministério do Empreendedorismo, criado por Lula para acomodá-lo.

A mudança assegurou apoio do Centrão da Câmara para pautas do ano e praticamente anulou a CPI do MST. No fim, a CPI sequer votou o relatório, enquanto a CPMI do 8 de janeiro blindou Dino, o Planalto e optou por indiciar Bolsonaro e mais 60 pessoas.

"O governo usou de maneira despudorada todos os instrumentos de cooptação de parlamentares, tanto através de verbas, emendas, cargos e vantagens de diversas naturezas", afirma Salles. "O Legislativo se deixou, em alguns momentos, se enredar por essas tentativas de cooptação, trocando votações por ministérios, cargos e verbas. O que é muito ruim para o País."

A cooptação alcançou até o PL. Cerca de 20 deputados votou repetidamente com o governo nas pautas mais importantes, como a reforma tributária. Eles fazem parte de um núcleo mais próximo ao presidente do partido, Valdemar da Costa Neto. O Republicanos, autointitulado "o verdadeiro partido conservador do Brasil", indicou um ministro para a Esplanada - Silvio Costa Filho, no Ministério de Portos e Aeroportos.

TSE cassou mandato de deputado de Deltan Dallagnol

Um dos principais nomes da oposição terminou cassado. Em maio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em decisão unânime, cassou o mandato de Deltan Dallagnol (Podemos-PR). A condenação veio pela lei da Ficha Limpa.

Dallagnol foi último deputado a deixar o plenário da Câmara, no dia em que a Casa confirmou a sua cassação. Ele gravou uma live e posou para fotos.
Dallagnol foi último deputado a deixar o plenário da Câmara, no dia em que a Casa confirmou a sua cassação. Ele gravou uma live e posou para fotos.
Foto: Levy Teles/Estadão / Estadão

O ex-procurador da Lava Jato ainda esperou um mês para de fato perder o mandato. Isso ocorreu quando a Mesa Diretora da Câmara confirmou a decisão do TSE.

Na Câmara, o substituto Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) foi saudado pelo relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), como um colaborador da maior vitória do governo Lula neste ano. "O nosso reconhecimento ao deputado Luiz Carlos Hauly, grande entusiasta dessa reforma, e e que quis o destino estivesse como deputado hoje aprovando a matéria de sua vida", anotou.

Presidentes da Câmara e do Senado tiveram desentendimentos ao longo do ano

A disputa entre os presidentes da Câmara e do Senado também marcou o ano legislativo. "Lamento muito claramente que a política regional ou local de Alagoas interfira no Brasil. O Senado não pode ser refém de Alagoas ou do Amapá. O Senado é muito maior, é uma casa federativa que representa todos os Estados", disse Lira, em março, se referindo a Renan Calheiros (MDB-AL) e Davi Alcolumbre (União-AP), aliados de Pacheco.

A minirreforma eleitoral, bancada por Lira, que propunha significativas alterações no sistema eleitoral para já vigorarem nas eleições de 2024, tinha até o começo de outubro para ser sancionada por Lula e poder valer no próximo ano.

A proposta foi desmembrada em dois projetos de lei, aprovados na Câmara, mas sequer tiveram avanços no Senado, fruto do desentendimento entre ambos. No Senado já tramita o Código Eleitoral, texto que prevê mudanças ainda mais significativas, anteriormente aprovado pelos deputados.

Do lado inverso, Pacheco apoiou e conseguiu aprovar em plenário uma PEC que limita decisões monocráticas do STF. Lira sinaliza que não pretende pautar a discussão "sua Casa".

No fim do ano, houve sinais de pacificação. Pacheco decidiu que a Câmara dos Deputados seria o lugar da promulgação da reforma tributária, o que gerou agradecimentos de Lira.

"Rodrigo, eu queria lhe agradecer pela deferência e fazer essa promulgação no plenário da Câmara", afirmou. "A realização é por motivo de justiça. É a casa do povo e é uma conquista do povo brasileiro", retribuiu Pacheco.

Eleições municipais e votação para o presidente do Senado e Câmara devem ditar o próximo ano no Congresso

No próximo ano, as eleições municipais devem esvaziar o Congresso, projetam deputados ouvidos pelo Estadão.

Os ânimos devem se intensificar na reta final de 2024, quando acabam os mandatos de Lira e Pacheco. Ambos não poderão pleitear um terceiro mandato consecutivo e serão substituídos por outros nomes.

Davi Alcolumbre (União-AP), que já foi presidente do Senado pode ser o nome para suceder Pacheco. Foi ele quem bancou a candidatura do senador mineiro.

Elmar Nascimento, à esquerda, é o candidato favorito de Lira para sucedê-lo na presidência da Câmara.
Elmar Nascimento, à esquerda, é o candidato favorito de Lira para sucedê-lo na presidência da Câmara.
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

A oposição tem planos alternativos. Um deles é que apoiar Alcolumbre se ele admitir pautar propostas ideológicas, como a liberação de armas. Hoje, proposições do tipo repousam na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida por Alcolumbre.

Na Câmara, Lira tem Elmar Nascimento (BA), líder do União na Câmara, como favorito para sucedê-lo. Grupos mais à esquerda rejeitam tanto Lira quanto Elmar, que integra o partido que é o principal rival do PT na Bahia e chegou a ter uma indicação a um ministério de Lula barrada por causa disso.

"Há uma condução na Câmara com mão de ferro. É preciso pensar num horizonte com uma outra alternativa", afirma Talíria Petrone, do PSOL. "É um momento em que a gente precisa pensar em alternativas ao Centro mesmo, não precisa ser à esquerda, porque a gente sabe que não tem número suficiente para escolher alguém do nosso campo."

Davi Alcolumbre, presidente da CCJ, deverá ser novamente candidato à presidência do Senado.
Davi Alcolumbre, presidente da CCJ, deverá ser novamente candidato à presidência do Senado.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado / Estadão

Há outros dois nomes no certame: Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos e hoje primeiro-vice-presidente da Câmara, e Antônio Brito (BA), líder do PSD na Casa. Diferente de Elmar, o PSD é um dos principais aliados do PT na Bahia. Mas o mesmo PSD, porém, também compõe o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.

Estadão
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