Como políticos e autoridades se posicionaram sobre tarifaço de Trump contra o Brasil
Personalidades internacionais também reagiram à medida de Trump ao classificá-la como instrumento de coerção e intimidação
Líderes políticos e autoridades divergiram sobre as tarifas de 50% de Trump contra o Brasil, com Lula criticando a medida e prometendo retaliação, enquanto Bolsonaro e seus aliados apoiaram a decisão e culparam o governo atual pela situação.
Líderes políticos, especialistas e autoridades nacionais e internacionais se posicionaram após a decisão do presidente americano Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. As declarações divergiram entre apoiadores do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Veja abaixo como algumas personalidades se posicionaram sobre a medida:
Donal Trump
Trump anunciou na quarta-feira, 9, a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o país em carta pública a Lula. No texto, o republicano criticou o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e as eleições no Brasil.
Segundo Trump, a decisão é uma resposta direta ao que chamou de "censura" a redes sociais americanas por parte do governo brasileiro. Ele também mencionou críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), acusando a Corte de promover ataques à liberdade de expressão.
Em pronunciamento a jornalistas nesta sexta-feira, 11, o mandatário norte-americano afirmou que irá falar com Lula “em algum momento, mas não agora”.
Trump disse ainda achar que o petista “está tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta” e que já negociou com o brasileiro anteriormente. “Ele é um bom negociador. Posso te falar que ele é um homem muito honesto e ama o povo brasileiro”, disse.
Lula
Lula chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de "covarde" e afirmou que, além de articular um golpe de Estado, ele enviou seu filho Eduardo Bolsonaro aos EUA para pressionar por medidas contra o Brasil. O presidente ironizou a situação e disse que seu antecessor deveria "enfrentar o processo de cabeça erguida" em vez de buscar ajuda externa.
O petista declarou que buscará reverter a tarifa de 50% imposta por Trump por meio de diálogo com a OMC e o BRICS, mas alertou que, se necessário, o Brasil adotará medidas de retaliação. "Taxou aqui, a gente taxa lá", declarou, reforçando que o País não aceitará desrespeito à sua soberania.
O presidente ainda destacou que está disposto a negociar com os EUA, mas criticou a decisão de Trump, alegando que o líder americano está "mal-informado" sobre o déficit comercial entre os países. Lula ressaltou que, na verdade, o Brasil é quem tem prejuízo na balança comercial com os EUA, acumulando um déficit de US$ 410 bilhões em 15 anos.
Integrantes do governo Lula
Integrantes do governo Lula manifestaram apoio à posição do presidente contra as tarifas impostas pelos Estados Unidos. O Advogado-Geral da União, Jorge Messias, enfatizou que "quem tem que resolver o problema dos brasileiros são os brasileiros", acrescentando que "o presidente Lula presta continência a uma única bandeira, a bandeira do Brasil".
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, fez críticas indiretas a opositores do governo: "Por que muitos carregavam em campanhas eleitorais recentes a bandeira do Brasil nas costas para dizer que eram brasileiros de verdade, mas agora com o ataque dos Estados Unidos, nós sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria."
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, citou trechos do hino nacional para reforçar sua posição: "'Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta'. Nós estamos com o Presidente Lula para defender o Brasil desse ataque à soberania nacional". Teixeira ainda criticou indiretamente a família Bolsonaro: "É melhor andar em melhores companhias, porque ele anda muito mal acompanhado com alguns brasileiros que estão querendo fugir para os Estados Unidos."
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, também culpou a família Bolsonaro pela taxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos. Em entrevista às mídias independentes, na quinta-feira, 10, ele também comentou a declaração do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre o tema, e não demonstrou convicção de que a tarifa vai, de fato, ser aplicada.
"Não faz o menor sentido para as tradições diplomáticas brasileiras, um país que tem 200 anos de relação com o Brasil ter esse tipo de atitude. Ela só é explicável porque foi gestada dentro do Brasil. A única explicação plausível para o que foi feito é porque a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil e com um objetivo específico que é escapar do processo judicial que está em curso", afirmou Haddad.
Jair Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro elogiou a decisão do mandatário dos Estados Unidos de elevar para 50% as tarifas aplicadas às exportações do Brasil.
"Recebi com senso de responsabilidade a notícia da carta enviada pelo presidente Donald Trump ao governo brasileiro, comunicando e justificando o aumento tarifário. Deixo claro meu respeito e admiração pelo Governo dos Estados Unidos", disse ele.
Bolsonaro ainda disse que a medida "é resultado direto do afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade, o estado de direito e os valores que sempre sustentaram nossa relação com o mundo livre", e pediu o fim de uma suposta "escalada de abusos e perseguição".
"Essa caça às bruxas - termo usado pelo próprio presidente Trump - não é apenas contra mim. É contra milhões de brasileiros que lutam por liberdade e se recusam a viver sob a sombra do autoritarismo. O Brasil caminha rapidamente para o isolamento e a vergonha internacional. O alerta foi dado, e não há mais espaço para omissões", acrescentou.
Família Bolsonaro
Em solo americano desde a posse de Donald Trump, no início deste ano, Eduardo Bolsonaro também prestou apoio à medida do republicano. Em uma nota pública, atribui ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e ao governo Lula a responsabilidade pelo tarifaço. Ele defende que a medida seria consequência de um processo de afastamento do Brasil dos “valores do mundo livre”, citando o respeito à liberdade de expressão, ao devido processo legal e à democracia.
Em entrevista à CNN, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que "o primeiro passo" para que ocorra uma negociação com Trump é pautar o projeto da anistia no Congresso Nacional. "Por que ele está fazendo isso? A carta dele é muito clara e muito objetiva, é um combate ao lawfare aqui no Brasil, ele quer lutar pela liberdade que tem que ter nas redes sociais", acrescentou.
Já o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL), afirmou que "a culpa é do Lula" e que a "tarifa é apresentada como uma medida inicial de correção, que poderá ser ampliada caso novas investigações confirmem abusos do Brasil em áreas como tecnologia, comunicação digital e propriedade intelectual".
Governadores
Alguns governadores se manifestaram publicamente sobre o tarifaço de Trump, reforçando posições contra e pró-governo.
Governadores aliados de Bolsonaro, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO), responsabilizaram o Palácio do Planalto pela decisão dos EUA. Eles argumentam que a imposição tarifária seria uma reação às declarações do presidente Lula contra a administração norte-americana.
Já o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) defenderam o governo e afirmaram que o Brasil não pode aceitar qualquer tipo de desrespeito a soberania nacional.
Outros países
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que tarifas não devem ser usadas como instrumentos de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países, ao ser questionada sobre a imposição de tarifas por Trump contra o Brasil. "A igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e normas básicas das relações internacionais", disse ela.
O economista norte-americano Paul Krugman também criticou Trump. Ganhador do Prêmio Nobel de Economia, ele afirmou que a taxação contra o Brasil é "descaradamente ilegal" e que a decisão "não tem nada a ver com economia". Para ele, a medida é na verdade uma "tentativa de interferir na política de outro país".
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