Bastidores de julgamento têm mais de uma hora de fila, esperança bolsonarista, troca de farpas e até fogo em banheiro
STF vive sessão tensa entre votos, intervenções e atenção à segurança
O julgamento da trama golpista prosseguiu nesta terça-feira, 9, no Supremo Tribunal Federal (STF), em sessões marcadas por divergências, intervenções bem-humoradas e troca de farpas, que terminaram em um placar de 2 a 0 pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 7 aliados. O resultado parcial alimentou certezas entre os políticos governistas, mas instigou esperanças aos bolsonaristas, principalmente pelos sinais de divergências apresentados pelo ministro Luiz Fux.
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O dia começou às 7h, com uma superlotação de jornalistas tentando uma vaga no plenário. Após passar por seguranças e detectores de metais, foi preciso enfrentar uma fila de mais de uma hora, que não garantiu a entrada. Muitos profissionais da imprensa ficaram de fora e tiveram que acompanhar as sessões do lado externo da Primeira Turma.
O ministro Alexandre de Moraes iniciou a leitura de seu voto, que ainda não teve o número de páginas divulgado, mas foi muito bem guardado na mochila do relator ao final da sessão. Ao justificar o pedido de condenação de todos os réus, ele ironizou a alegação das defesas sobre violação ao sistema acusatório. "A ideia de que o juiz deve ser uma samambaia jurídica durante o processo não tem ligação com o princípio acusatório".
Moraes voltou a recorrer a ironia ao citar uma fala de Bolsonaro. Na tentativa de atacar a credibilidade de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), insinuando haver parcialidade da Corte, sem apresentar provas, o ex-presidente apontou a existência de um "marxista" e um "advogado do MST" na cúpula do Judiciário. "Esse cidadão que está aqui é um marxista, advogado do MST. Não sou eu, ministro Flávio", disse o relator, se dirigindo ao colega Flávio Dino, que respondeu, em tom de brincadeira: "Eu também não". Segundo Moraes, a referência era ao ministro Edson Fachin.
Intervenções bem-humoradas de Dino e troca de farpas
Apesar da seriedade do julgamento e do silêncio dominar o plenário por boa parte das sessões, os poucos minutos de descontração partiram do ministro Flávio Dino. Em um dos momentos, ele solicitou aparte a Moraes: “Eu percebo que Vossa Excelência quer beber água e por isso farei dois comentários”.
Brincadeira que não agradou nem um pouco a Fux e até gerou uma troca de farpas. “O voto é muito extenso, a gente perde o fio da meada”, ponderou Fux, ao lembrar as regras combinadas entre os ministros. Dino respondeu: “Eu o tranquilizo, ministro Fux, que eu não pedirei [aparte] de Vossa Excelência. Pode dormir em paz.”
Um pouco antes, Fux também interrompeu Moraes e sinalizou um debate sobre os pontos do processo nos quais divergiu. A interrupção ocorreu seis minutos após o início da manifestação do relator. "Vossa Excelência está votando nas preliminares. Eu vou me reservar o direito de me manifestar sobre elas na oportunidade em que for votar", disse Fux, que se ausentou do plenário por quase dez minutos, logo após a sua manifestação.
Entre os momentos bem-humorados, Dino mencionou o café oferecido a Moraes, brincou sobre prometer votar em uma hora para a ministra Cármen Lúcia, citou o ChatGPT e até fez referência ao advogado de Augusto Heleno quando o presidente da Corte, Cristiano Zanin, determinou a pausa para o almoço. "Se quiser cancelar o almoço, eu e o advogado do general Heleno vamos ficar felizes", disse, arrancando risos no plenário.
A fala faz referência à ocasião em que o advogado Matheus Mayer Milanez, responsável pela defesa do general Augusto Heleno, pediu a Moraes o adiamento da sessão de interrogatório dos réus do 'núcleo crucial' para ter mais tempo para 'minimamente jantar'. A fala e a resposta do relator viralizaram nas redes sociais.
Esperança de bolsonaristas e certeza de governistas
Assim como nas primeiras sessões, nenhum dos réus compareceu ao julgamento, que teve uma baixa adesão de políticos ligados ao ex-presidente Bolsonaro. O líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), e o deputado federal Evair de Mello (PL-ES) foram os únicos a marcarem presença.
"Esperamos também que o ministro Fux se posicione em função de tudo o que ele está vendo. [...] A esperança é que o ministro Fux esteja vendo o que os advogados constituídos já abordaram em suas defesas, de que não tiveram um tempo hábil para analisar todas as provas trazidas, e que ele possa pedir um tempo de análise. Essa é a esperança jurídica", disse Zucco.
Evair destacou a tranquilidade de Bolsonaro --que assistiu ao julgamento acompanhado de Michelle, como apurou o Terra-- e afirmou que o voto de Moraes pela condenação do ex-presidente “não é surpresa”. Quem também discordou da análise do mérito foi Celso Vilardi, advogado do ex-presidente. "Vamos aguardar o prosseguimento do julgamento", afirmou ele.
Ao término da sessão, Matheus Milanez, advogado do general Augusto Heleno, afirmou que espera um voto favorável do ministro Cristiano Zanin. "Ele vivenciou na pele o que estamos passando aqui. Acho que ele olha e fala: 'Já estive no lugar dele'", disse em tom de esperança.
Em contrapartida, os políticos ligados ao governo Lula comemoram os votos favoráveis a condenação dos réus. Na sessão, estavam presentes os deputados federais Rogério Correia (PT-MG), Taliria Petrone (PSOL-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP) e Lindbergh Farias (RJ-RJ).
O vice-líder do governo Lula no Congresso Nacional minimizou a força da oposição para pautar a anistia. “Nesta semana, não”, respondeu Lindbergh sobre a possibilidade de o presidente da Câmara, Hugo Mota, pautar o projeto. “Da semana passada para cá, mudou muita coisa. Eu acho que a fala do Tarcísio, a repercussão que teve aqui no Supremo... A votação da Anistia, nesta semana, está mais distante do que teve na semana passada.” Segundo ele, o centrão não vai querer medir forças com os ministros do STF.
Lado externo tem incêndio e acidente de trânsito
Mesmo com o reforço do policialmento, que contou com viaturas, barreiras, armas longas, drones e cães farejadores, enquanto a sessão acontecia, uma fumaça preta tomou conta do céu. Um banheiro químico montado para o público na Esplanada dos Ministério foi incendiado. A Polícia Militar do DF prendeu Lucas Ferreira Alves Cirilo da Silva, suspeito do ato de vandalismo. Ninguém se feriu, mas o episódio aumentou a tensão fora do STF. Segundo apuração do Terra, o suspeito foi detido ainda no local.
Também foi registrado um acidente de trânsito envolvendo um microônibus coletivo e um carro, deixando dois passageiros feridos, que receberam atendimento imediato. O motorista Rodrigo Augusto relatou: “Estava vindo na via do ônibus e ela [outra motorista] entrou no ministério de uma vez”.

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