Após derrubar IOF, Motta se reúne com Doria e aliados de centro-direita: 'É da democracia discordar'
Encontro se dá no momento em que o presidente da Câmara está em rota de colisão com o Palácio do Planalto e reclama da postura do Executivo
Em rota de colisão com o governo após comandar a sessão que derrubou as mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), recebeu homenagem e se reuniu com empresários e políticos da direita e da centro-direita em São Paulo nesta segunda-feira, 30. O encontro foi comandado pelo ex-governador de São Paulo e fundador do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), João Doria, anfitrião do evento.
A assessoria de Doria informou que ele promove jantares com políticos e empresários de forma rotineira e que o evento desta segunda-feira, 30, foi marcado antes da crise entre o governo Lula e o presidente da Câmara estourar na semana passada.
Em discurso no evento, Motta afirmou que fazia uma conversa "pluripartidária", que seria "muito mais de escuta para que possamos construir o melhor para o País".
Ele elogiou a "sinergia" com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, mas afirmou que esse diálogo também se dá com o Executivo e com o Judiciário.
"A polarização existe, mas precisamos descobrir o que podemos fazer pelo País. Nos temos esse espírito colaborativo, e essa vontade não está alterada. É da democracia discordar" afirmou.
Motta ainda afirmou que a votação da última semana "foi um retrato de um parlamento muito aguerrido, pronto para fazer um enfrentamento a favor do País".
"Não queremos arroubos e nem criar em instabilidade. Momentos como esse são importantes. Quando eu assumi essa função eu sabia o tamanho da responsabilidade. É uma posição complexa e desafiadora, mesmo em momentos de divergência buscamos oportunidade de impulsionar o Brasil através da política. Esse diálogo se dá também com o setor produtivo."
Em seu discurso no jantar, Doria disse que Motta convenceu os parlamentares de que a derrubada do IOF não era contra o governo Lula e sim uma "decisão a favor do Brasil".
"Eu mandei uma mensagem pra ele essa semana e agora reafirmo: Hugo, você é o herói do Brasil", disse o ex-governador de São Paulo.
Nas redes sociais, Doria exaltou Motta:"Recebemos em nossa casa para jantar o deputado Hugo Motta, presidente da Câmara Federal.Hugo tem se revelado uma grande liderança, dedicado às causas do Brasil. O empresariado aplaude sua postura, equilíbrio e firmeza. O País espera gestões públicas eficientes e comprometidas com o controle fiscal. Parabéns Hugo Motta", disse Doria em suas redes sociais.
A lista completa de convidados não foi divulgada. Contudo, estiveram presentes, além de Motta e de Doria, o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), assim como o presidente do PSD e secretário de Governo do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). Embora seu partido tenha três ministérios, ele tem se distanciado da gestão petista e articula lançar candidato a presidente em 2026 ou apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
A lista de convidados que compareceram também incluiu o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o deputado federal Antônio Brito (PSD-BA) e o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Antonio Ricardo Alvarez Alban. Empresários como Johnny Saad, presidente da Band, e Julio Serson, presidente do grupo Serson, também estavam presentes.
A relação de Motta com o governo Lula está estremecida desde que ele pautou na semana passada a derrubada do decreto presidencial que aumentaria o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Pega de surpresa, a gestão petista adotou o discurso de que quer promover justiça tributária no País, com os pobres pagando menos e os ricos mais imposto, enquanto o Congresso se alinharia à elite econômica contra os interesses da população.
Mais cedo nesta segunda-feira, Motta publicou vídeo nas redes sociais no qual negou ter traído o Planalto e disse ter avisado ao governo que o decreto do IOF poderia ser derrubado.
Na gravação, há um narrador que diz ser "fake" que o Congresso não olha para o povo e que o governo tenha sido pego de surpresa. Motta, então, aparece no vídeo e afirma: "Primeiro, quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos".
Em seguida, o presidente da Câmara mencionou os 383 votos favoráveis à derrubada do IOF "de deputado de esquerda e de direita" e afirmou que o tributo "afeta toda a cadeia econômica".
"A polarização política no Brasil tem cansado muita gente, e agora querem criar a polarização social", continuou Motta.