Aliados de Bolsonaro temem 'efeito dominó' após voto no TSE pela inelegibilidade
Deputados e senadores aliados do ex-presidente acreditam que bolsonaristas também podem ser alvos de ações da Corte eleitoral
BRASÍLIA - Parlamentares bolsonaristas temem que o voto pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dado pelo ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), abra a porta para punição semelhante ou cassação de mandato de aliados do ex-presidente que também tentaram surfar em ataques à Justiça Eleitoral e à integridade do sistema de votação.
"Efeito dominó é a busca de um precedente. Podem usar a jurisprudência para outras pessoas, mesmo que situações não sejam da mesma dimensão. O Direito e a doutrina evoluem assim", afirmou ao Estadão o senador Esperidião Amin (PP-SC), que critica o voto pela inelegibilidade de Bolsonaro.
"Quando falta crime, tem que escrever bastante: 300 ou 400 páginas (em referência ao tamanho do voto de Gonçalves). Acho que o voto, por não ser contemplado pela clareza da causa, se embaraçou na profusão de argumentação. Sem esconder o desejo, já manifesto, conhecido, de condenar à pena máxima", acrescentou o aliado de Bolsonaro.
Aliados já expunham temor sobre o teor dos votos dos ministros do TSE ainda durante a argumentação de Gonçalves. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) reclamou da fundamentação jurídica do ministro em post no Instagram, no qual fala em "efeito dominó" contra bolsonaristas.
"Inesperadamente e sem embasamento jurídico, o relator do processo contra Bolsonaro no TSE defende inclusão de minuta na ação, que veio posteriormente ao dia 08 e abre precedente para cassar aliados de Bolsonaro", reclamou a deputada bolsonarista.
"Lição de Zanin"
Depois do voto de Gonçalves, o julgamento será retomado nesta quinta-feira, 29, para a apresentação dos votos dos outros seis ministros do TSE. Mas Bolsonaro e aliados já disseram nas últimas semanas que esperavam pelo pior resultado, a inelegibilidade, e esse discurso fez parte de uma estratégia de vitimização do ex-presidente. O objetivo político é retratar Bolsonaro como alvo de perseguição e colher dividendos eleitorais pela exposição dele enquanto o PL filia prefeitos para as eleições de 2024 e busca alternativas para a disputa presidencial de 2026.
Ainda assim, a defesa de Bolsonaro e aliados defendem que ele recorra ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra eventual punição do TSE e falam até em uma odisseia internacional nos moldes da empreitada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a Operação Lava Jato.
"Acho que vai dar margem a recursos ao STF. E se tiver bom advogado, como Cristiano Zanin, à ONU também. Zanin nos ensinou uma coisa: recorre", afirmou Amin.
Aliados de olho em 2024
Como mostrou o périplo de Bolsonaro pelo país nos últimos dias, aliados do ex-presidente pretendem aproveitá-lo como cabo eleitoral para as eleições de 2024. A aposta é que, mesmo em caso de condenação no TSE, ele conseguirá fortalecer candidaturas a prefeituras.
"Estamos vendo uma tentativa de sepultar o bolsonarismo. Mas estão dando grande tiro no pé, porque Bolsonaro vai sair muito fortalecido. Em 2024, vamos ver esse resultado nas eleições municipais", afirmou o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição ao governo Lula na Câmara dos Deputados.