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Polícia

Julgamento do Carandiru: comandante nega ter visto tiros dentro das celas

Policiais militares se dizem inocentes durante depoimento ao júri

19 abr 2013 - 14h22
(atualizado às 14h52)
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Julgamento ocorre no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo
Julgamento ocorre no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo
Foto: Tércio Teixeira / Futura Press

Depois de três horas da atraso, 24 réus - de um total de 26 - começaram a ser interrogados nesta sexta-feira durante o julgamento em que são acusados pela morte de 15 dos 111 presos no episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru, em 2 de outubro de 1992. Os réus - membros da Rota - atuaram no segundo pavimento do Pavilhão 9. Os 20 primeiros interrogados se disseram inocentes ao juiz e, posteriormente, se mantiveram em silêncio, não respondendo às perguntas da promotoria. O julgamento está em seu quinto dia e deve ser encerrado entre sábado e domingo. O jurado que se sentiu mal nos últimos dois dias apresentou melhora no seu quadro clínico e se mostrou apto a prosseguir os trabalhos.

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O primeiro a dar a sua versão para o que ocorreu naquele dia foi o capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos, comandante da 2ª Companhia do Batalhão de Choque (Rota). Hoje ele é tenente-coronel e informou estar na reserva há oito anos. Ele disse ter dado três disparos durante a ação, não soube informar se acertou algum detento e afirmou não ter presenciado disparos - por parte dos policiais - no interior das celas.

Santos disse ter dividido o comando no 2º pavimento com o tenente Aércio Dornelas - e que já na entrada ao Pavilhão 9 se deparou com pelo menos dois corpos, na escadaria. Afirmou ter visto clarões vindos do meio dos presos, que ele acredita terem sido produzidos por armas de fogo. "Eu estava com um revólver e uma metralhadora. Disparei três tiros com o revólver. Não usei a metralhadora. Se acertou (alguém), não sei dizer", disse ao juiz José Augusto Nardy Marzagão.

Ele conta que entrou à frente da tropa, pelo lado direito do Pavilhão 9, protegido por dois escudeiros, que não estavam armados. O tenente "Dornellas" teria entrado pelo lado direito. Santos negou que durante o confronto tivesse ouvido rajadas de metralhadoras em seu andar. "A determinação era para avançarmos e manter a ordem. Havia uma barricada na entrada, com fogo. A ordem era ocupar o pavilhão e, para isso, poderíamos utilizar os meios necessários. Deveríamos agir no mesmo nível (das agressões)."

Segundo ele, o plano de ação da Polícia Militar foi seguido à risca pela tropa. O capitão afirmou ao juiz que a situação era difícil para os policiais, porque estava escuro e havia fumaça dentro do pavilhão. Contou que não sofreu ferimentos e que pelo menos três colegas foram atingidos por projéteis de armas de fogo. Ele disse que após a ação foram encontradas pelo menos três armas naquele andar, que estariam em poder dos presos.

O comandante afirmou à promotoria que não possuía qualquer relação pessoal com o coronel Ubiratan Guimarães, comandante geral da tropa naquele dia e que as ordens recebidas por ele foram perfeitamente legais. "Por isso as cumpri." Ele disse ainda que ordens ilegais não se cumprem. "É uma das primeiras coisas que se aprende na polícia". Ele conta que logo após a operação entregou a arma que utilizou à corporação.

Júri de 26 PMs

Devido ao tamanho do processo, o julgamento do caso foi dividido em etapas: neste júri, são julgados os 26 policiais militares que atuavam no 1º Batalhão de Policiamento de Choque, e que são apontados como responsáveis por 15 mortes ocorridas no 1º andar do pavilhão 9 - cenário do massacre.

Pelo menos outros três júris devem ocorrer até o fim do ano, já que outros 53 PMs são apontados como responsáveis pelos demais assassinatos, registrados nos outros pavimentos. Até hoje, o único condenado pelo caso foi o coronel da PM Ubiratan Guimarães, que comandava a operação e pegou 632 anos de prisão em 2001. Em 2006, entretanto, a Justiça decidiu absolvê-lo em novo julgamento. Ele morreu assassinado naquele mesmo ano.

Nos dois primeiros dias de júri, 11 testemunhas - cinco de acusação e seis de defesa - foram ouvidas, entre elas o então governador Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB) e o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco de Campos, que afirmaram que a entrada da PM no Carandiru era "necessária", devido à situação no pavilhão. De acordo com a denúncia, uma briga entre dois presos de facções rivais motivou o tumulto no presídio, o que provocou a invasão por parte dos policiais.

Também foram ouvidos como testemunhas três sobreviventes (dois ex-detentos e um presidiário), que negaram haver uma rebelião generalizada e acusaram os PMs de atirar aleatoriamente; um dos diretores da Casa de Detenção, que também criticou a operação policial e considerou ter havido uma "execução"; três juízes que participaram das negociações antes da invasão; além do perito criminal responsável pela análise da cena do crime, que acusou a PM de tentar prejudicar a investigação.

Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos. Nenhum deles a bala.

Julgamento

Passados 20 anos do episódio que terminou com 111 presos mortos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, em outubro de 1992, 26 policiais militares serão julgados pelo caso que ficou conhecido como Massacre do Carandiru.

Pelo menos 79 PMs acusados de envolvimento nas mortes aguardam julgamento. O único que recebeu a sentença foi o coronel da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, que coordenava a operação no dia do massacre, mas teve sua pena de 632 anos de prisão anulada em 2006, sete meses antes de ser assassinado.

Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos. Nenhum deles a bala.

 
Fonte: Terra
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