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Papa Francisco no Brasil

RJ: sem medo de protestos, jovens de todo mundo vão atrás do Papa

BBC Brasil ouviu representantes de diferentes continentes sobre as expectativas da Jornada Mundial da Juventude

19 jul 2013 - 08h22
(atualizado às 09h44)
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<p>Entre a ala mais jovem da Igreja, há também a expectativa de que o novo papa promova reformas</p>
Entre a ala mais jovem da Igreja, há também a expectativa de que o novo papa promova reformas
Foto: AP

Milhares de jovens católicos de vários países são aguardados no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho, quando a cidade sedia a Jornada Mundial da Juventude. O evento será marcado pela presença do papa Francisco, que faz sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o pontificado. A BBC Brasil ouviu representantes de diferentes continentes sobre suas expectativas quanto ao evento, incluindo suas percepções sobre o Brasil e o Rio de Janeiro.

A maioria tende a apoiar a onda de protestos que ocorre no Brasil, e nega preocupações, apesar de citarem a criminalidade e a violência ao comentarem os contrastes locais. Entre a ala mais jovem da Igreja, há também a expectativa de que o novo papa promova reformas - distantes, porém, de temas mais "espinhosos" como aborto e homossexualidade. Veja os depoimentos abaixo:

Estados Unidos

Há mais de um ano, a família Echeverry, de Los Angeles, vem se preparando para participar da Jornada. A filha mais velha, Vanessa, 18 anos, e a mãe, Jessica, 40 anos, já haviam participado da Jornada anterior, em Madri, em 2011. Neste ano, convenceram o pai, Charlie, 39 anos, a viajar também. Os filhos mais novos ficarão nos Estados Unidos com os avós. "Inspirado pela experiência que elas tiveram em Madri, fiquei muito interessado na Jornada e decidi que era algo que gostaria de compreender melhor", disse Charlie Echeverry.

Igreja comenta sobre agenda do Papa no Brasil:

Eles fazem parte da caravana de mais de 7 mil americanos que viajarão ao Brasil para participar do evento, segundo dados da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês). Entre os peregrinos americanos há desde grupos pequenos, como o da paróquia dos Echeverry, composto por apenas quatro pessoas, até grandes excursões, como a da Diocese do Brooklyn, em Nova York, que enviará cerca de 300 devotos ao Brasil.

A diretora do Ministério Jovem da Arquidiocese de Nova York, Cynthia Martinez, 33 anos, que irá ao Brasil para sua terceira Jornada, disse que o evento é uma oportunidade de ver como católicos do mundo todo professam sua fé. "De poder falar, ainda que não a mesma língua, a língua católica. E, claro, de mostrar ao Santo Padre que o apoiamos e amamos", afirmou.

Alemanha

A Alemanha tem mais de 24 milhões de católicos, que representam quase 30% da população. A Igreja Católica tem mais força no sul do país e foi lá que nasceu o papa emérito Bento 16, na cidade de Marktl am Inn, no Estado da Baviera. Cerca de 2 mil jovens do país viajarão ao Brasil para a Jornada Mundial, e muitos deles vão participar de eventos e trabalhos sociais em diferentes partes do Brasil antes do encontro no Rio de Janeiro.

A BBC Brasil acompanhou o embarque de 20 jovens no aeroporto de Berlim, rumo a Diamantina (BA), onde vão passar dez dias em uma fazenda antes do início da Jornada. Para a maioria deles será a primeira vez no Brasil, como é o caso do comerciante Martin Kodritzki, 28 anos, que classifica a viagem como um momento de aprofundar a fé e conhecer novas mentalidades. "Vamos conhecer no Brasil pessoas que não têm o mesmo nível de qualidade de vida que temos na Alemanha, e desta experiência expande-se o olhar sobre o ser humano", acredita ele.

Sobre os recentes protestos, ele diz ter acompanhado a cobertura da imprensa e afirma que se identifica com o movimento, em vista dos problemas vividos no Brasil. A estudante de 21 anos Elisabeth Zell concorda. Ela diz que, se estivesse no lugar dos brasileiros, também protestaria e acredita o papa Francisco tem uma mensagem importante para toda a América Latina no que diz respeito à pobreza.

"Eu acho que uma coisa que muitos católicos precisam trabalhar, ao menos na Europa, é vencer os preconceitos. Não olhar para as pessoas de uma posição superior, por exemplo, os portadores de HIV, ou os sem-teto. Não vê-los como sujos, ou inferiores, mas como seres humanos, criados e amados por Deus, como eu e você", disse.

Espanha

Um dos países de grande população católica da Europa, a Espanha também abriga muitos jovens que se preparam para ir à Jornada Mundial da Juventude. Segundo a Conferência Episcopal Espanhola, cerca de 3 mil jovens espanhóis e 13 bispos participarão. Sergio Adán Delgado, 24 anos, é um deles. O estudante de Matemática conta que faz parte de sua rotina colaborar com a paróquia de El Masnou (a 22 quilômetros de Barcelona), onde é catequista e integra um grupo de jovens que se reúne para discutir a fé e fazer uma "revisão de vida".

Ele se diz animado com a viagem ao Brasil, cujo roteiro também inclui a Semana Missionária, na cidade paulista de Campo Limpo, e uma visita à Aparecida do Norte. Ele e os demais peregrinos da Delegação da Juventude da Diocese de Barcelona estarão hospedados em casas de famílias voluntárias no Brasil. O jovem acredita que são necessárias algumas inovações na Igreja Católica, e que o papa Francisco deveria falar com os jovens sobre temas polêmicos como o aborto e o uso de métodos contraceptivos, mas diz que "todo tipo de mudança é perigosa" e requer cuidado. "Acho uma mudança necessária à Igreja é rever o sacerdócio só para homens e permitir que as mulheres também possam exercê-lo", afirmou.

Itália

Embora a crise financeira e o alto preço das passagens aéreas tenham dificultado os planos de viagem de muitos jovens italianos, estima-se que até dez mil deles devam participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. A enfermeira Alessandra Broggini, 26 anos, integra a delegação do país que abriga a sede do Vaticano. "Eu venho de uma cidade com 5 mil habitantes. Nem daria para encher um pequeno quarteirão do Rio de Janeiro. O impacto vai ser forte. É uma nova cultura para entender, numa paisagem de tirar o fôlego, com sol, mar, sorrisos e um Cristo para nos acolher", diz.

Ela faz parte de um grupo de 60 pessoas da diocese da pequena comunidade Solbiate Arno, próxima de Milão. A jovem teme a violência, mas não os protestos que há várias semanas tem tomado conta do país e da cidade. "Eu condeno a violência, mas a manifestação em si, pacífica, por direitos como o acesso à educação e saúde, é legítima", argumenta.

Já o estudante Matteo Didonè, de 25 anos, também de Solbiate Arno, lembra que protestos já ocorreram em outras ocasiões e que não está indiferente a eles. "Vivemos uma situação análoga em Madri, em 2011, com os 'indignados' que estavam até mesmo contra a Igreja. No Rio, as manifestações revelam um mal estar geral da população que quer, e muito, receber o papa. Fomos informados sobre a criminalidade, mas ela não nos assusta apesar de deixar um gosto amargo na boca. Quando penso ao Rio, me vem à mente uma cidade colorida, um povo amável e uma baía muito bonita, além da pobreza extrema da periferia e o grande desequilíbrio de riqueza dentro da sociedade", diz.

Contrastes e polêmicas

Silvia Fregoso, 24 anos, cientista política natural de Milão, também não teme os recentes protestos e acha que "como peregrina e turista" não pode ignorá-los. "Ao contrário, acho que os problemas e as esperanças da população devem ser compartilhados por todos sem a manipulação dos meios de informação", completa a jovem que será acompanhada por dois padres brasileiros.

<p>Os Correios colocarão em circulação, na terça-feira (23), um selo comemorativo com a imagem de Francisco</p>
Os Correios colocarão em circulação, na terça-feira (23), um selo comemorativo com a imagem de Francisco
Foto: Divulgação

Os jovens italianos acham que a Jornada Mundial da Juventude pode servir para renovar a fé na humanidade e na própria Igreja. Para eles, as discussões sobre o aborto e o casamento entre as pessoas do mesmo sexo são espinhosos. "Estes são argumentos tão grandes que acho difícil ter uma posição fechada. Precisamos ter uma preparação e conhecimento para poder expressar um juízo", diz Silvia Fregoroso.

Argentina

Mais de 42 mil argentinos se inscreveram para a Jornada e muitas paróquias e colégios religiosos do país natal do papa Francisco devem enviar seus representantes para participar do encontro de jovens católicos no Brasil. Os irmãos Lucas e Alan Regueiro, de 19 e 24 anos, respectivamente, relatam suas expectativas antes de viajar, neste fim de semana, de Buenos Aires para a capital fluminense. Eles acham que Jorge Bergoglio, o ex-cardeal de Buenos Aires e atual chefe da Igreja Católica, vai "renovar" a instituição, mas não fará uma "revolução" e acreditam que apesar da capacidade de promover "reformas", o papa não mudará os princípios do Vaticano sobre temas polêmicos.

"Acho que o Papa Francisco, no seu pontificado, vai abordar, aos poucos, todos os temas que estão na agenda do mundo de hoje. Homossexualidade, aborto, redução dos católicos. Mas tudo dentro do que prega o evangelho. Não acho que ele fará uma revolução na Igreja Católica, mas acho que ele já está pregando o essencial (...)", diz Lucas.

"Mas espero que ele seja severo com a pedofilia que é responsável de uns poucos, mas que mancha a imagem da Igreja Católica", acrescenta.

Austrália

Estima-se que, reunidos, os países da Oceania devam enviar cerca de 1,8 mil peregrinos à Jornada. O maior grupo é o dos jovens da Austrália, país que conta com uma das maiores comunidades católicos desta parte do mundo. Entre os australianos há quem seja veterano nas jornadas juvenis católicas. Kelly Paget, 30 anos, é professora secundária e já participou cinco vezes do evento.

Ela lidera um grupo de 32 peregrinos e já esteve em Toronto há 11 anos e também foi a Colônia, na Alemanha, além de Madri, na Espanha, e de ter participado da edição em Sydney, em seu próprio país. "Acho que esse encontro vai abordar principalmente questões relacionadas à injustiça entre classes, algo muito próximo do coração do nosso atual papa", diz.

Para Stephen Maiolo, 18 anos, a violência no Rio não assusta. "Nós já temos um grupo no Facebook e vamos montar um blog para contar aos amigos que ficaram na Austrália como será a visita do papa", diz. O estudante de filosofia e teologia leva na mala broches, coalas de pelúcia e bandeirinhas australianas para trocar com os novos amigos que pretende fazer. "O maior desafio da nossa juventude é encontrar o próprio senso de fé em uma sociedade tão mundana", afirma, e "utilizar as mídias sociais pra compartilhar a mensagem de Cristo é a melhor forma de mudar isso".

Sudeste asiático

Na Ásia, países como Malásia, Indonésia e a ilha de Macau, na China, (que teve colonização portuguesa), devem enviar delegações à Jornada Mundial da Juventude - embora muito menores do que de países da América Latina e da Europa. Entre os indonésios, 130 peregrinos se preparam para ver o papa Francisco no Rio de Janeiro. Trata-se de um grupo menor do que os 300 devotos que participaram da Jornada de Madri, em 2011.

"Mas essa viagem é bem mais cara, por isso menos gente está indo", diz a estudante Devi Carmelia, 21 anos, de Jacarta, capital da Indonésia. Para bancar a passagem, a jovem levantou fundos com rifas e venda de roupas usadas. No Rio ela espera conseguir ter a boa sorte de chegar mais perto de Francisco. Quanto à homossexualidade, que é proibida no país de maioria muçulmana, Devi acha que não cabe a ela julgar a escolha dos outros.

"O que precisa haver é respeito", diz. Mas ela é contra o aborto sem exceções e vê no perdão a solução para o problema dos abusos sexuais na Igreja. "Se o padre pecador admite, confessa e se arrepende, também ele será perdoado" conclui. Para Lincoln Lee Keng Chuan, executivo de 33 anos natural de Kuala Lumpur, capital da Malásia, é difícil ser cristão em um país muçulmano. De família chinesa convertida ao catolicismo há várias gerações, ele é ativo na fé desde a infância.

"Há muita perseguição aberta ou velada", conta. "A última pedra jogada foi a proibição do uso da palavra Alá para designar Deus. Não podemos chamar Deus de Alá, pois eles dizem que é só para os muçulmanos, mas não há outra palavra no idioma", explica.

Papa Francisco no Brasil

Com um público estimado em 1,5 milhão de pessoas, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2013 ocorre entre os dias 23 e 28 de julho, no Rio de Janeiro. O evento, realizado a cada dois ou três anos, promove um encontro internacional de jovens católicos o Papa. A última edição da JMJ ocorreu em 2011, em Madri, na Espanha, e reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, de mais de 190 países.

O evento marca também a primeira grande visita internacional do papa Francisco desde sua nomeação como líder máximo da Igreja Católica, em 13 de março desde ano. O Pontífice chega ao Rio de Janeiro na tarde do dia 22 de julho, com retorno a Roma previsto para o dia 28. Sua agenda no Brasil contempla a visita à comunidade de Varginha, no complexo de Manguinhos, na zona norte do Rio, e ao Hospital São Francisco de Assis. Além disso, terá um encontro com a sociedade no Theatro Municipal, no centro da cidade, e ao Santuário de Aparecida, em São Paulo. O ponto alto fica por conta de duas grandes celebrações na praia de Copacabana, na zona sul do Rio, nos dias 25 e 26.

vc e o papa

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