Mobilização nas 27 capitais brasileiras surpreende direita e manda recado para a esquerda
As manifestações levaram às ruas cartazes e faixas contra a jornada 6x1, a favor da Palestina, em defesa das minorias, mas principalmente contra a anistia a Jair Bolsonaro e contra os desmandos do Congresso, personificados na Proposta de Emenda Constitucional que blinda parlamentares de investigação.
As manifestações levaram às ruas cartazes e faixas contra a jornada 6x1, a favor da Palestina, em defesa das minorias, mas principalmente contra a anistia a Jair Bolsonaro e contra os desmandos do Congresso, personificados na Proposta de Emenda Constitucional que blinda parlamentares de investigação.
Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília
Bolsonaristas vão tentar minimizar, mas sabem que as manifestações desse domingo foram fortes, barulhentas e politicamente muito importantes, com consequências imediatas: vão sepultar de vez, no Senado, a PEC da Blindagem — ou da Bandidagem, como foi chamada em centenas de cartazes — e vão exigir justificativas e arremates muito mais cuidadosos para propostas que tentem mexer no tamanho das penas para quem atenta contra a democracia do país. Já o impacto que isso terá sobre candidatos de direita depende de outros fatores e capítulos, até porque eles também se abastecem da polarização.
Para a esquerda, as manifestações trouxeram uma aura de renovação, quase uma lavagem de alma, já que há muito tempo o discurso da moralidade foi bandeira dos adversários. Assim como os atropelos desesperados de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos deram a Lula o lábaro do patriotismo, a fome sem limites de poder do Centrão permitiu agora à esquerda entoar gritos contra os descalabros do Legislativo.
Recado para nichos da esquerda
Mas justamente por isso, as ruas também são um recado para nichos da esquerda. O maior escândalo do ano — o desvio de dinheiro de aposentados do INSS — começou no governo Bolsonaro e continuou na gestão Lula, que depois, é verdade, abriu investigação e promoveu demissões, inclusive de aliados de esquerda. Isso mostra que é mais fácil tirar a bandeira anticorrupção do adversário do que vesti-la novamente. Bem sabem alguns deputados de esquerda que votaram a favor da blindagem aos políticos corruptos o constrangimento que foi encarar este domingo.
As manifestações não tiveram um protagonista ovacionado; não foi um ato pró-Lula nem pró-Alexandre de Moraes, ainda que, para o governo, o resultado seja positivo. Foi um protesto contra abusos de poder, contra um Congresso marcado por emendas secretas e outros excessos. Por isso, pisar na bola neste momento, colocando o pragmatismo político acima de tudo, pode ser um tiro no pé de um governo que acumula erros na articulação política.