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Lua de Saturno 'tem potencial de abrigar vida', diz Nasa

17 abr 2017 - 07h54
(atualizado às 08h22)
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Jatos de vapor d'água expelidos por uma rede de gêiseres tornam mais fácil investigar lua de Saturno
Jatos de vapor d'água expelidos por uma rede de gêiseres tornam mais fácil investigar lua de Saturno
Foto: NASA/JPL-Caltech/SSI / BBC News Brasil

A lua gelada de Saturno Enceladus pode ser o melhor lugar para encontrar vida além da Terra, segundo cientistas da Nasa, a agência espacial americana.

A afirmação ocorre após novas observações feitas pela sonda Cassini no pequeno satélite, que tem um raio de 500 km. A sonda deu um "rasante" pela superfície de Enceladus e recolheu amostras dos jatos de vapor d'água que a lua emite a partir de seu polo sul.

A análise química da água, que vem de um oceano subterrâneo do satélite, sugere que seu leito oceânico possui fontes hidrotermais - locais que, na Terra, são repletos de micro-organismos.

Os cientistas esclarecem que a existência destes sistemas hidrotermais não é garantia de que há micróbios, por exemplo, em Enceladus. O ambiente pode ser estéril. Mas os resultados obtidos pela Cassini justificam voltar à lua de Saturno com instrumentos mais sofisticados para refazer os testes.

"Temos basrtante certeza de que o oceano interno de Enceladus é habitável e precisamos voltar para investigar mais", disse à BBC o pesquisador Hunter Waite, do Instituto de Pesquisas do Sudoeste em San Antonio, no Texas, um dos responsáveis pela Cassini.

"Mesmo que não haja vida lá, por que não ir? E, se houver, tanto melhor. Mas queremos fazer estas perguntas porque, devido às condições do local, não ter vida seria quase tão interessante quanto ter."

Na Terra, micróbios em fontes hidrotermais nos oceanos sustentam organismos mais complexos
Na Terra, micróbios em fontes hidrotermais nos oceanos sustentam organismos mais complexos
Foto: WHOI/NSF/NASA / BBC News Brasil

Respiradouro

Os cientistas acreditam que o oceano subterrâneo de Enceladus fica sob uma camada de gelo e tem muitos quilômetros de profundidade. A água seria mantida em estado líquido pelo calor gerado pela pressão gravitacional constante que a lua recebe de Saturno.

Uma das principais missões da Cassini será tentar detectar moléculas de hidrogênio. Isso seria um sinal da existência de respiradouros quentes no fundo do oceano gelado. Isso seria outro fator que poderia contribuir para a existência de vida.

Tais respiradouros existem na Terra e fornecem energia e nutrientes para ecossistemas marinhos de alta profundidade. Nesses sistemas, a água é puxada para o leito rochoso, aquecida e saturada com minerais antes de ser expelida.

Análises anteriores da Cassini já haviam identificado a presença de sais e compostos orgânicos nos jatos de água. Indicadores da existência de respiradouros seriam as partículas de sílica e metano.

Mas o que os cientistas realmente queriam saber era se um processo específico que ocorre na Terra também estaria ocorrendo em Enceladus - a serpentinização.

Nas cadeias montanhosas em meio aos oceanos do nosso planeta, a água salgada passa por rochas quentes que são ricas em ferro e magnésio, reagindo com elas. Os minerais nas rochas incorporam moléculas de água em sua estrutura e, assim, liberam hidrogênio - que pode ser usado por alguns micróbios como fonte de energia para seu metabolismo.

Agora, a Cassini confirmou definitivamente que há hidrogênio na pluma de vapor d'água ejetada em Enceladus.

"Se você fosse um micro-organismo, hidrogênio seria como doce - sua comida favorita", explica Christopher McKay, astrobiólogo da Nasa.

"Ele é muito bom em termos de energia e consegue sustentar muito bem os micro-organismos. Encontrar hidrogênio é uma ótima notícia - é a cereja do bolo no argumento de que há potencial para a vida."

O micróbios descritos por McKay são chamados de metanógenos, porque produzem metano através da reação do hidrogênio com o dióxido de carbono.

Europa, lua de Júpiter, tem um oceano de água salgada sob uma grossa camada de gelo
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Foto: NASA/JPL-Caltech/SETI Institute / BBC News Brasil

Facilidade

A Nasa planejava fazer o anúncio sobre a confirmação da existência de hidrogênio dois meses depois do último rasante da Cassini pelos jatos de vapor d'água, em outubro de 2015. Mas a agência decidiu segurar a informação.

Uma das preocupações era que o espectrômetro presente na sonda produzisse hidrogênio molecular sozinho, caso a água entrasse no instrumento de uma maneira específica.

A equipe de Hunter Waite passou um ano analisando os dados para certificar-se de que o hidrogênio de fato vinha do vapor d'água de Enceladus.

A missão da Cassini está chegando ao fim. Depois de passar 12 anos circulando Saturno, a sonda está com pouco combustível e deve ser deixada na atmosfera do planeta em setembro - para garantir que ela não colidirá com Enceladus no futuro.

Apesar de eficientes, os instrumentos da Cassini não foram criados para detectar vida diretamente na lua de Saturno. Para isso, seria necessário um novo tipo de espectrômetro. A agência pretende enviá-los em 2026.

Nasa já aprovou uma missão para a Europa, a lua oceânica de Júpiter - onde o processo de serpertinização provavelmente acontece.

No fim de sua missão, a Cassini será abandonada na atmosfera de Saturno
No fim de sua missão, a Cassini será abandonada na atmosfera de Saturno
Foto: Cassini Imaging Team/SSI/JPL/ESA/NASA / BBC News Brasil

Mas a camada de gelo em Europa é mais grossa e é possível que uma pequena quantidade de água consiga escapar para ser recolhida por uma sonda.

O apelo de Enceladus é a facilidade com que sua superfície consegue ser estudada, já que uma rede de gêisers ejeta vapor d´água para o espaço.

A sonda só precisa voar em meio a estes jatos para colher material.

"Para ter vida, precisa-se de água líquida, de materiais orgânicos e dos elementos carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. Ainda não medimos os índices de fósforo e enxofre em Enceladus, mas é preciso ter alguma fonte de energia metabólica, e os resultados encontrados por Cassini são muito importantes", diz Waite.

O estudo dos cientistas da Nasa na revista científica Science.

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