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Filha diz que senador boliviano que fugiu para o Brasil sofria de depressão

26 ago 2013 - 14h31
(atualizado às 15h22)
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O senador boliviano Roger Pinto Molina sofria de "um quadro grave de depressão" e enfrentava "restrições" durante seu refúgio na embaixada brasileira em La Paz, disse nesta segunda-feira sua filha Denise Pinto. O senador escapou para o Brasil na última sexta-feira, em operação que contou com a participação do encarregado de negócios do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, e do senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

No domingo, o Itamaraty - que diz não ter tido conhecimento da operação - afirmou que vai abrir inquérito sobre a entrada de Pinto em território nacional e que tomará "medidas administrativas e disciplinares cabíveis" quanto à atuação de Saboia. À BBC Mundo, a filha de Roger Pinto disse que soube da operação na quarta-feira passada, por intermédio de seu pai, mas que "sabia muito pouco sobre o assunto".

Segundo Denise Pinto, o senador pediu que ela deixasse La Paz e voltasse para Brasileia (AC), onde vive sua família. Pinto, por sua vez, foi levado em um carro com placa diplomática, protegido por fuzileiros navais, até território brasileiro, segundo informou Eduardo Saboia à TV Globo. Ao chegar a Corumbá (MS), Saboia pediu a ajuda de Ricardo Ferraço para levar Pinto a Brasília.

Em entrevista à rádio BandNews FM, Ferraço disse que pediu emprestado o avião de um empresário capixaba, após tentar, sem sucesso, contato com "autoridades em Brasília". O senador disse que decidiu ajudar Saboia a transportar o senador boliviano porque "ele estava convivendo no dia a dia com um problema sem solução".

'Restrições'

Denise diz que o pai tinha "problemas nos rins", mas que o diagnóstico não pôde ser confirmado porque ele não podia ser levado a um hospital para exames. Além disso, "ele sofria de um quadro de depressão muito grande", segundo ela.

De acordo com Denise, a última visita do chanceler brasileiro Antonio Patriota a La Paz não resultou em avanços, apenas em "restrições". "Era Saboia quem o via todos os dias", disse. E, diante da piora do estado de saúde de Pinto, é possível que a decisão tenha sido tomada sem o conhecimento do Itamaraty, avalia a filha do senador.

A Bolívia qualificou o episódio como "grave" e pediu explicações do caso ao Brasil, mas disse que isso não afetará as relações bilaterais.

Asilo

Roger Pinto esteve asilado na embaixada brasileira em La Paz por mais de um ano, alegando perseguição política por parte de autoridades bolivianas, por acusar funcionários do governo de Evo Morales de corrupção e conivência com o narcotráfico.

O parlamentar de 53 anos da província de Pando, na região amazônica da Bolívia, chegara à embaixada em La Paz em 28 de maio de 2012 e, dez dias depois, recebera asilo político do governo de Dilma Rousseff. Ele pedia um salvo-conduto para conseguir deixar a Bolívia, pedido negado pelas autoridades bolivianas.

O governo boliviano alega que Pinto está envolvido em pelo menos 14 crimes e se refugiou na embaixada para escapar da Justiça boliviana - que o condenou, em um dos casos, a um ano de prisão por supostos danos de US$ 1,7 milhão aos cofres públicos do país - e tem manipulado as informações para dificultar as relações entre La Paz e Brasília. Mas Eduardo Saboia disse à TV Globo que decidiu levar Roger Pinto para o Brasil porque "havia risco iminente à vida e à dignidade do senador".

"Havia uma violação constante, crônica de direitos humanos, porque não havia perspectiva de saída e havia um problema de depressão que estava se agravando", disse Saboia, acrescentando que o senador já falava em suicídio após "passar 452 dias (confinado) em um cubículo" na embaixada.

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