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Especial/2018,O ano que as fakes news caíram na boca do povo

Fenômeno ocorrido no Brasil foi considerado "sem precedente"

26 dez 2018 - 16h03
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Por Luciana Ribeiro - O fenômeno não é inédito nem exclusivo do Brasil. Mas, em 2018, as chamadas "fake news", ou notícias falsas, inundaram as mídias digitais possivelmente apenas com um propósito: tentar influenciar o voto popular nas eleições presidenciais.

Especial/2018,O ano que as fakes news caíram na boca do povo
Especial/2018,O ano que as fakes news caíram na boca do povo
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

    O termo tem sido debatido desde 2016, quando surgiram denúncias de que notícias falsas foram disseminadas por hackers russos supostamente patrocinados pelo Kremlin para influenciar o processo eleitoral nos Estados Unidos em benefício do então candidato republicano, Donald Trump. Além disso, as fake news também estiveram presentes nos debates do Brexit e na Itália.

    Neste ano, no entanto, marcou a acalorada disputa política no Brasil, principalmente entre o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, e o então representante do PSL, Jair Bolsonaro, eleito no segundo turno do pleito com 55,13% dos votos válidos.

    "É impossível saber o tamanho das notícias falsas. Não existe como parar a internet para medir quantas notícias falsas existem em um determinado período. Mas, assim como classificado pela chefe da Organização do Estados Americanos (OEA), Laura Chinchilla, aqui no Brasil, sem dúvidas, as fake news foram sem precedentes", explicou Cristina Tardáguila, diretora da agência de fact-checking Lupa.

    Embora esse fenômeno já tenha sido observado em processos eleitorais de outros países, a disputa brasileira apresentou novos desafios, principalmente como o uso de sistemas de mensagens criptografados para uma divulgação massiva de desinformação. Fazendo uma comparação com as eleições norte-americanas, a disputa no Brasil contou com três principais diferenças: a mudança de plataforma, de formato e de conteúdo.

    Em 2016, as notícias do Trump foram disseminadas no Facebook, principalmente, e compartilhadas por meio de URL, o que faz o usuário clicar em um link e ser direcionado para um site com banners de propaganda. "A mentira era contada em site e aqui acabou sendo contada em meme, imagem", informou a diretora da agência Lupa. A outra grande diferença está relacionada com o conteúdo da desinformação. Enquanto nas eleições norte-americanas o protagonismo foi de Trump e da democrata Hillary Clinton, no Brasil o foco principal foi a presença dos "velhos políticos", como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, Fidel Castro, Nicolás Maduro, e não dos próprios candidatos, Haddad e Bolsonaro.

    Segundo Tardáguila, existem algumas ferramentas, pelas quais a agência consegue monitorar o que está se destacando em termos de popularidade no Twitter, no Facebook e no Google. Elas monitoram a velocidade do avanço de uma mentira. "No WhatsApp, não existe essa possibilidade. Não temos como monitorar a proliferação de uma informação falsa, de um áudio falso ou de qualquer conteúdo que circula pelo WhatsApp, porque se fala muito pelo aplicativo", acrescentou.

    As notícias falsas estão cada vez mais presentes no WhatsApp, que conta com mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo. Em 2018, o aplicativo foi um dos protagonistas no compartilhamento de fake news. Inclusive, o Brasil precisou implementar mecanismos para reduzir o impacto do avanço das mensagens.

    O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a criar um grupo para estudar formas de combater a ação das informações enganosas nas eleições de 2018. Entretanto, o jornal "Folha de São Paulo" denunciou que empresas compraram pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no aplicativo e prepararam uma operação na semana anterior ao segundo turno, uma prática totalmente ilegal.

    Na ocasião, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que, na avaliação dela, seu partido subestimou o papel do WhatsApp na campanha.

    Para especialistas em comunicação, tecnologia e internet ouvidos pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, o poder público não conteve as fake news que foram espalhadas aos brasileiros, mesmo existindo mecanismos legais para combater estratégias para impulsionar o conteúdo.

    Tanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto o Ministério Público foram omissos diante do ocorrido durante o processo eleitoral, na avaliação da entrevistada. "Eles foram lentos, muito lentos. A gente efetivamente só conseguiu um movimento real do TSE no dia 2 de outubro. O checador só pode ir até um ponto. Os poderes de justiça e polícia deixaram a desejar", finalizou Tardáguila.

Ansa - Brasil   
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