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Como a exploração de uma árvore nativa pode ajudar a reduzir o desmatamento na Amazônia

Segundo uma pesquisa da Embrapa, área desmatada que recebeu sementes da árvore se recuperou melhor que lote sem intervenções.

14 fev 2018 - 18h14
(atualizado em 15/2/2018 às 09h17)
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Experimento com plantio do paricá em áreas desmatadas teve início em 1995 | Foto: Ronaldo Rosa
Experimento com plantio do paricá em áreas desmatadas teve início em 1995 | Foto: Ronaldo Rosa
Foto: BBC News Brasil

Uma técnica que recupera a floresta amazônica a partir do plantio de uma única espécie nativa pode ajudar a reconstituir uma área do tamanho do Estado do Paraná e reduzir a pressão sobre regiões preservadas.

A técnica, desenvolvida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, estatal vinculada ao Ministério da Agricultura) em parceria com uma empresa madeireira, consiste no plantio do paricá, árvore cuja madeira é usada para fazer laminados.

Pesquisadores verificaram que, a partir da plantação de paricás em uma área desmatada de 108 hectares (1 km²), outras espécies passaram a se propagar naturalmente no local. Treze anos depois, a área tinha valor comercial 36% maior do que a de um lote vizinho também desmatado, mas onde não havia sido feita qualquer intervenção.

O experimento teve início em 1995 e ocorreu em uma fazenda em Dom Eliseu, município no nordeste do Pará, em uma parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental e o grupo madeireiro Arboris.

Segundo a Embrapa, a metodologia pode ser aplicada em mais de 19 milhões de hectares (área equivalente à do Paraná) em áreas em diferentes graus de degradação no Pará. Pesquisadores afirmam que a técnica pode ser replicada em outros Estados amazônicos e também empregada com fins comerciais, aproveitando o valor do paricá.

Para isso, porém, seria preciso alterar a legislação ambiental, para permitir o corte de árvores com menos de 30 anos de idade e menos de 50 cm de diâmetro, já que os paricás costumam cair naturalmente por volta dos 18 anos de idade, antes de atingir essa grossura.

Em parceria com a UEPA (Universidade Estadual do Pará), a Arboris está catalogando espécies surgidas na mata regenerada e que poderiam ser exploradas comercialmente.

Metodologia pode ser aplicada em mais de 19 milhões de hectares em áreas em diferentes graus de degradação no Pará
Metodologia pode ser aplicada em mais de 19 milhões de hectares em áreas em diferentes graus de degradação no Pará
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Grande polo serralheiro

O engenheiro florestal da Embrapa Jorge Yared diz que a região onde a pesquisa foi feita começou a ser desmatada nos anos 1960, com a construção da rodovia Belém-Brasília. "Na década de 1980, a região era conhecida como o maior polo serralheiro do mundo", afirma.

Quando o experimento começou, sobravam poucas árvores, nenhuma de grande porte. "Era o que chamamos de floresta de paliteiro", diz o engenheiro agrônomo Ademir Ruschel, da Embrapa.

Ruschel afirma que mudanças nas regras ambientais para permitir o corte do paricá, árvore de madeira branca, reduziria a pressão para a retirada das árvores de madeira vermelha, com maior densidade e maior valor de mercado. "Quem explora a área ganha tempo para colher essas árvores, que geralmente duram centenas de anos, em um tamanho maior", afirma.

O engenheiro diz que a rentabilidade pode fazer com que os proprietários não só mantenham a cobertura florestal em 50% em suas terras, conforme exigido por lei, mas até mesmo invistam em preservar ou recuperar um percentual maior de floresta.

"Existe uma pressão grande sobre a floresta da expansão da monocultura da soja e dos pastos para a criação de gado", afirma.

Segundo Romulo Batista, coordenador do Projeto Amazônia do Greenpeace, a iniciativa é importante porque aumenta a possibilidade de lucro com a floresta em pé, além de diminuir a pressão sobre as áreas preservadas.

"É uma alternativa ao ciclo de desmatar ou deixar pegar fogo e depois ocupar", diz. "É claro que a área recuperada não tem os mesmos benefícios da mata nativa, mas o trabalho trata de áreas em que a mata original já foi destruída."

Para difundir a técnica, Slaviero, da Embrapa, afirma que pretende contatar assentamentos e agricultores familiares que vivem na região.

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