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UFRJ prevê construção de nova casa de shows em área do Canecão

Assembleia aprovou projeto para revogar tombamento do local, facilitando trâmite. Universidade quer modelo em que também possa usar espaço

11 jun 2019 - 23h25
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RIO - Depois de praticamente dez anos fechada, uma das mais tradicionais casas de show da cidade poderá voltar a funcionar. A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou na semana passada por unanimidade um projeto de lei que revoga o tombamento do Canecão - permitindo que obras possam ser feitas no local. A previsão é de que em dois anos o Rio receba de volta o espaço que consagrou os maiores nomes da MPB e se encontra, atualmente, completamente abandonado.

O tombamento havia sido proposto em 1999 com o objetivo de preservar a importância do ponto como uma "referência cultural" da cidade. O destombamento aprovado pela Alerj atende a um pedido da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que é a dona do terreno. O reitor da universidade, Roberto Leher, já anunciou que uma licitação deverá ser feita até o fim deste ano para que uma nova casa de shows possa ser construída no local.

A área é uma das mais valorizadas do Rio, no bairro de Botafogo, na zona sul, entre o campus da Praia Vermelha da UFRJ e o Shopping Rio Sul. Inaugurada em 1967, a casa - originalmente uma cervejaria, daí o nome Canecão - sediou turnês históricas de Elis Regina, Tom Jobim e Chico Buarque, entre tantos outros, além de lançar nomes como os de Cazuza e Marisa Monte no cenário nacional.

Durante pelo menos quatro décadas foi o palco mais cobiçado do Rio e, certamente, um dos maiores do Brasil, fazendo jus à frase de Ronaldo Bôscoli estampada na entrada da casa: "Aqui se escreve a história da música popular brasileira". Há dois anos, quando completou 50 anos, o espaço já estava completamente destruído. Uma luta judicial pela exploração do terreno se arrastara por quase 40 anos, terminando em 2009 com a devolução da área para a universidade.

"Era a melhor casa de shows que tínhamos; durante muito tempo, na verdade, o Rio só tinha essa grande casa de shows", sustenta o pesquisador e escritor Ricardo Cravo Albin, considerado um dos maiores especialistas em MPB. "Mas apesar de todas as advertências feitas, não houve acordo; o espaço acabou sendo retomado pela UFRJ e nove anos depois, está completamente destruído. É uma dor muito grande no coração de todos nós que frequentávamos o Canecão ver aquele espaço desta maneira. Espero que, agora, dê tudo certo e possamos ter ali um projeto à altura do espaço."

Roberto Leher contou que a universidade e o BNDES estão desenvolvendo um modelo de projeto para a cessão do terreno. A ideia é que a UFRJ ceda a área para alguém explorar, com o compromisso de ter ali uma casa de espetáculos que possa ser usada tanto pela universidade quanto por produtores culturais privados. Leher afirmou que, pelas contas já feitas, uma reforma do Canecão não seria viável, devido ao atual estado de destruição da antiga casa. O mais provável, contou, será a construção de um novo espaço.

"Estamos terminando a preparação desse modelo de cessão do terreno com o BNDES, que é o passo inicial", contou Leher, lembrando que a proposta será apresentada até setembro. "Agora, estamos numa etapa em que pretendemos fazer uma ampla discussão com produtores culturais do Rio, escutar as expectativas deles, é um tema que mobiliza muito."

A partir dessas conversas será elaborado um "plano de necessidades" para a área, que deverá ser cumprido por quem vencer a licitação para a exploração do terreno.

"Já conversamos com diversos artistas, de Elymar Santos a Isaac Karabtchevsky", disse o reitor, referindo-se ao cantor que arrendou a casa de show para se lançar na carreira nos anos 90 e ao maestro. "Temos a responsabilidade de incorporar a expectativa que a cidade tem com o espaço."

A nova reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, que assume o cargo em 02 de julho, concorda com o colega: "A UFRJ não podia ter deixado a situação do Canecão chegar a esse ponto", disse. "O BNDES contratou um consórcio que está fazendo um estudo para uso de terrenos e áreas na Praia Vermelha, no Fundão e na Praça da República. A ideia é conceder para que a iniciativa privada construa prédios e use, através de concessão, por 50 anos. O consórcio deve entregar o projeto no segundo semestre, para que a UFRJ licite."

Estadão
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