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Tragédia em Santa Maria

Polícia e Receita Federal fiscalizam bebidas estocadas na Boate Kiss

Produtos que teriam sido importados de forma irregular serão apreendidos pela Receita Federal, segundo delegado

25 mar 2013 - 16h13
(atualizado às 23h12)
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<p>Foram retirados de dentro da boate 10 volumes de bebidas, entre energéticos e uísques importados</p>
Foram retirados de dentro da boate 10 volumes de bebidas, entre energéticos e uísques importados
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Policiais civis, auditores da Receita Federal e fiscais da Vigilância Sanitária entraram na tarde desta segunda-feira na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde um incêndio deixou 241 mortos em janeiro deste ano. Segundo o delegado Marcelo Arigony, que comandou a investigação da tragédia, os trabalhos desta segunda-feira são focados na análise de bebidas e outros produtos comercializados na casa noturna.

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"Uma das questões acompanhadas pela Receita é a apreensão de bebidas que eventualmente podem ser objeto de descaminho, frutos de importação irregular. E também há a questão das bebidas que lá estão, mas que podem estar inviabilizadas em função do incêndio. Por isso, chamamos a Vigilância Sanitária para verificar em que condições estão esses produtos em estoque", afirmou o delegado regional de Santa Maria.

Antes de abrir o cadeado dos tapumes, dois policiais civis tiveram todo o cuidado para não danificar qualquer ato de homenagem às vítimas. Aos poucos, foram sendo deslocados para o lado flores, faixas e cartazes. Nada se perdeu. A medida era necessária para que os tapumes fossem abertos. 

Para ajudar no trabalho, a equipe de repressão ao contrabando da Delegacia de Receita Federal em Santa Maria mandou o auditor fiscal Carlos Luciano Sant’Anna e três auxiliares terceirizados. Eles retiraram de dentro da Kiss 10 volumes de bebidas, entre energéticos e uísques importados.

As bebidas foram encaminhadas para o depósito da Receita em Santa Maria à espera que os donos da Kiss apresentem uma documentação que comprove a importação legal das bebidas. Caso não façam isso, poderão responder pelo crime de contrabando ou descaminho.  

Os delegados Marcelo Arigony e Sandro Meinerz acompanharam o trabalho. Todos que entraram na boate precisaram usar máscaras cirúrgicas, pois o cheiro de queimado ainda é muito forte e há risco de intoxicação.

Por enquanto, o local ainda ficará isolado. A decisão agora sobre a manutenção dos tapumes cabe ao Ministério Público e ao Judiciário.

Uma equipe da Vigilância Sanitária do município também foi ao local para verificar se as bebidas nacionais que ainda estavam no local eram impróprias para consumo ou não. A Polícia Civil avalia a possibilidade de devolver as bebidas para um fornecedor da boate, caso elas estejam em condições.  Alimentos que estavam na casa noturna já foram retirados na semana seguinte ao incêndio.

Imagens mostram início do incêndio na Boate Kiss:

Integrantes da banda Projeto Pantana – da qual o sócio da Kiss Elissandro Spohr, o Kiko, fazia parte – aproveitaram a oportunidade para retirar equipamentos de som e instrumentos musicais que estavam em um depósito na boate. Praticamente tudo o que eles foram buscar estava danificado pela fumaça ou pelo fogo.

A retirada de bebidas e equipamentos de som é importante para deixar o local mais limpo para a reprodução simulada dos fatos, que será feita pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). Uma equipe técnica do IGP está estudando o inquérito para preparar a reconstituição. Como há risco de desabamento em alguns locais, o cenário da tragédia vai passar por algumas modificações e limpezas, orientadas por engenheiros do IGP.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Colaborou Luiz Roese, especial para Terra

Fonte: Terra
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