Secretário da Segurança Pública e GCM são condenados por furto na Grande SP
Segundo denúncia do MP, secretário da Segurança Pública de Ribeirão Pires está envolvido em esquema de furto a açougues da cidade
Secretário da Segurança Pública de Ribeirão Pires e ex-inspetor da GCM foram condenados por furto qualificado a açougues em 2018; decisão inclui perda dos cargos e segue em recurso no STJ.
O secretário da Segurança Pública de Ribeirão Pires (SP), Sandro Torres Amante; o antigo inspetor-chefe da Guarda Civil Municipal (GCM), Gutembergue Martins Silva; e o ajudante geral Marcelo Cruz Dallavali foram condenados pelo crime de furto qualificado. A decisão, em segunda instância, foi proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) neste ano, segundo informações da TV Globo.
Na decisão, a Justiça também decretou a perda dos cargos públicos de Sandro e Gutembergue. No entanto, Sandro permanece no cargo porque recorre da condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) -- última instância ordinária antes do trânsito em julgado.
O crime de furto de mercadorias pelo qual foram condenados ocorreu em açougues em junho de 2018. Naquele ano, Sandro era subcomandante da GCM de Ribeirão Pires, cidade localizada a cerca de 30 km da capital paulista.
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Segundo a denúncia do Ministério Público, a qual a Globo teve acesso, os réus cometeram dois furtos consecutivos na madrugada do dia 18 de junho de 2018. Em um curto espaço de tempo, os envolvidos teriam subtraído aproximadamente 60 quilos de carnes nobres e R$ 28 mil em dinheiro dos estabelecimentos comerciais Izzo e Parati, localizados no centro da cidade, a poucos metros de distância um do outro.
No primeiro açougue, os criminosos levaram:
- 15 kg de picanha
- 10 kg de contrafilé premium
- 12 kg de alcatra
- R$ 8 mil em dinheiro
- Um cofre
Já no segundo açougue, foram furtados:
- 20 kg de carne bovina
- R$ 20 mil em espécie
- Diversos cheques
- Equipamentos de segurança (câmeras de vigilância)
- Gravações do sistema de monitoramento (DVD)
- Dispositivos de rede (roteadores)
De acordo com as investigações, os furtos foram premeditados. Consta nos registros processuais que Gutembergue, à época inspetor-chefe da GCM, teria manipulado o sistema de videomonitoramento municipal momentos antes da ação criminosa, redirecionadas as câmeras para não filmarem os açougues.
Paralelamente, durante o período em que as câmeras estavam sendo manipuladas, uma denúncia falsa foi registrada, simulando uma ocorrência que demandou o deslocamento das equipes da Guarda Civil e da Polícia Militar para longe do Centro, distanciando-as do local dos crimes.
À TV Globo, Sandro afirmou ser inocente. "Em primeira instância fui absolvido, em segundo instância, dos sete crimes que inventaram sobre mim, esse daí deu essa condenação que foi um acórdão, né? Que já foi respondido já foi o meu advogado já fez a defesa para agora para terceira Instância, né? E com fé em Deus vai ser esclarecido porque não tem nada a ver comigo. Com certeza, 30 anos de funcionário público aqui", disse. O Terra tenta contato com a defesa dele.
Câmeras registraram suspeitos
Uma testemunha do caso, sob proteção, contou que, ao voltar do intervalo, notou que câmeras de segurança haviam sido movidas. Ao ajustá-las de volta, registrou Sandro, Gutembergue e Marcelo repartindo os produtos roubados.
O processo também aponta que, um dia depois dos furtos, Gutembergue ficou por horas na sala de monitoramento da Guarda Civil. A suspeita é que ele tentou apagar as filmagens da noite do crime.
Mesmo sendo réu no processo por furto, Sandro assumiu em 6 de dezembro de 2023 o cargo de Secretário Municipal de Segurança Urbana, Mobilidade e Defesa Civil de Ribeirão Pires.
A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, aponta também que os réus formaram uma milícia privada. Por isso, além do furto, foram denunciados por esse crime.
Segundo o MP, entre 2019 e 2023, os guardas municipais envolvidos participaram de um esquema que misturava segurança privada e crimes. Testemunhas disseram que empresas legais eram usadas como fachada. "Os serviços de segurança oferecidos aos clientes parecem ter como função principal a obtenção de pagamentos para que os estabelecimentos comerciais não sejam vítimas da própria criminalidade do grupo, como ocorreu nos dois furtos ora denunciados", diz trecho da denúncia.
O Ministério Público afirma ainda que há provas ligando Sandro a outros crimes, como recebimento de propina de traficantes. A Justiça rejeitou a denúncia por milícia, mas as investigações seguem em andamento.
O que diz a prefeitura
Em nota ao Terra, a Prefeitura de Ribeirão Pires informou que não foi notificada pela Justiça sobre eventual condenação, em segunda instância, em processo movido contra Sandro Torres, Secretário de Segurança do município.
Em relação ao GCM Gutembergue Martins Silva, a Prefeitura afirmou que houve ordem judicial para afastamento das funções na Guarda Civil Municipal, sem prejuízo de vencimentos e sem, até o presente momento, determinação contrária.
"A Prefeitura de Ribeirão Pires permanece à disposição para prestar informações e eventuais esclarecimentos", acrescentou a administração municipal.
O Terra tenta localizar as defesas dos acusados. O espaço permanece aberto para manifestações.