Menino de 9 anos vende cavalo por R$ 2 mil para tentar vaga no Bolshoi: ‘Meu melhor amigo’
Enzo Francisco foi aprovado na 1ª etapa da seletiva da Escola do Teatro Bolshoi e sonha em dançar profissionalmente
Mesmo tão pequeno, Enzo Francisco Campos da Silva, de 9 anos, precisou tomar uma decisão importante e escolher entre perseguir o sonho de entrar para a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil ou seguir com seu cavalo Trovão. Com o dinheiro, ele conseguiu viajar de Sarapuí (SP), onde mora com os pais e a irmã, para Joinville (SC), onde se apresentará nesta sexta-feira, 24, para a fase final da seletiva.
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“Eu quase chorei. Minha mãe conversou bastante comigo, minha irmã também. Mas, entre o Bolshoi e o cavalo, eu escolhi o Bolshoi. Para mim, ele é meu melhor amigo. Me relaxa, me cheira, deixa eu montar nele. Ele é leal só a mim”, contou o menino ao Terra.
A mãe dele, Maria de Fátima Campos da Silva, técnica em enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), conta que conseguiram arrecadar recursos para a viagem com a venda do animal por R$ 2 mil e também com rifas. Familiares e amigos também ajudaram na arrecadação, tudo para conseguir realizar o sonho do pequeno dançarino.
Amor pela dança
A paixão pela dança é de família. Enzo cresceu vendo a irmã mais velha, Élen Maria, fazer aulas da modalidade e também quis. Mas, aparentemente, foi a mãe quem passou o gosto pelo bailado para os dois.
“Quando eu estava grávida, eu gostava de dançar. Dançava em casa mesmo, para relaxar, porque faz bem para a alma, para o coração. Já perto de ele nascer, eu falei assim, ‘quero ver se a criança sente mesmo que a mãe está sentindo, porque se sentir, ele vai gostar de dançar. Não é que ele ama dançar mesmo”, reflete Maria de Fátima.
Ele começou a praticar com 4 anos, inspirado pela irmã. Inclusive, foi a professora dela que viu o talento dele e incentivou que os pais o colocassem nas aulas. Desde então, nunca mais parou.
“O Enzo é bastante agitado, gosta de várias músicas, vive dançando e não tem vergonha. Às vezes, se ele está passando em algum lugar e escuta alguma musiquinha, seja na rua, no shopping ou em qualquer lugar, ele já começa a dançar”, afirma a mãe.
Hoje ele pratica balé e já participou de dois concursos, que ficou em terceiro lugar. Mas nem tudo são flores, pois quando ele começou a fazer dança, passou a sofrer alguns episódios de bullying. Alguns coleguinhas da escola diziam que ‘balé não é coisa de menino’, e ele chegou a pedir uma vez para sair da escola. No entanto, tanto o pai, o caminhoneiro Roberto Pires da Silva, quanto a mãe conseguiram convencê-lo a seguir seu sonho.
De tanto persistir, agora ele concorre a uma vaga na tradicional escola de balé. Ele define a dança como sinônimo de liberdade e leveza. “Quando eu estou dançando, me acalma. Eu voo no ar, tipo uma sensação que me leva”, explica.
Bolshoi
A professora de balé do Enzo foi quem apresentou a Bolshoi para a família, dizendo que seria possível que ele concorresse a uma vaga, pois enxergava nele um potencial. Neste ano, ocorreu uma pré-seletiva na cidade em que ele mora e, para emoção da família, o caçula conseguiu classificar-se para a fase final da seletiva.
Foi então que começou a corrida contra o tempo para arrecadar dinheiro e fazer viagem até Joinville. Com dor no coração, eles decidiram vender o Trovão. “Nossa, ele ama muito esse cavalo. É o que o distrai, mas a gente conversou e ele entendeu”, explica a mãe. Por sorte, o animal foi vendido para o irmão de Maria de Fátima e eles já pensam em comprá-lo de volta mais para frente. “A gente vai trabalhar mais e mais, o dobro para não ficar sem o trovão”, reforça.
A família já chegou em Joinville e espera com ansiedade que ele passe na avaliação física desta sexta. Se ele for selecionado, fará uma prova de dança no sábado, 25, e saberá se está dentro ou não da Bolshoi. Para a família, a participação de Enzo é motivo de orgulho.
“Estou muito feliz e muito orgulhosa do Enzo. Estamos na torcida para que ele consiga. Se for para o bem dele e da nossa família, que dê tudo certo”, finaliza.