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Letalidade policial cai 9,5% em SP, mas patamar se mantém acima das 400 mortes no semestre

Mortes cometidas por policiais em confronto teve redução após ano recorde. Especialista diz que número de vítimas permanece 'inaceitável' e pede política institucionalizada de controle do uso da força

31 jul 2018 - 21h14
(atualizado às 21h23)
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SÃO PAULO - Policiais do Estado de São Paulo mataram 415 pessoas em confrontos no primeiro semestre deste ano, queda de 9,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o índice atingido havia sido o maior em 14 anos -este tipo de ocorrência bateu recorde histórico ao longo de 2017. No mesmo período, 27 policiais morreram, menor número de vitimização desde 2001.

O levantamento de dados foi feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a partir de informações divulgadas mensalmente pelas polícias no Diário Oficial do Estado. A conta leva em consideração o que os órgãos declaram como "mortes decorrentes de oposição à intervenção policial", que inclui ocorrências envolvendo policiais em serviço e de folga. As 415 vítimas deste ano superam a quantidade registrada em 2016 (403), mas está abaixo do número de mortes de 2015 (449) e de 2014 (416).

Diretora executiva do Fórum, Samira Bueno diz que o resultado é positivo, mas há ressalvas. "Não há política institucionalizada de controle do uso da força pelos policiais. Com isso, a redução tem mais a ver com lógicas locais, tem mais a ver com o coronel da área que é mais engajado e pega no pé", disse. Ela classifica o número de 415 como "muito alto" e "inaceitável". "Sem essa política, é impossível prever a continuidade dessa redução, pois não há sustentabilidade ao longo do tempo. Não sei se podemos comemorar."

A polícia diz haver políticas de redução da letalidade. "Nós estamos dando continuidade às políticas de redução da letalidade adotada desde comandos anteriores, pois entendemos que a preservação da vida é o principal objetivo de uma instituição policial", disse ao Estado o comandante-geral da corporação, coronel Marcelo Vieira Salles.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública classifica como "equivocada" a forma de reunião dos dados feita pela reportagem por unir casos envolvendo policiais de folga e em serviço. "O correto é mantê-los separados, já que possuem dinâmica e políticas de redução completamente diferentes." A reportagem age baseada no próprio formato divulgado pelas polícias no Diário Oficial, em que, apesar da especificação de quantos casos aconteceram em serviço ou de folga, ficam reunidos sob o mesmo termo "morte decorrente de intervenção policial", como é possível perceber por meio da imagem do comunicado publicado na edição desta terça-feira, 31.

Trecho do Diário Oficial mostra comunicado da Polícia Militar sobre número de mortes decorrentes de intervenção policial
Trecho do Diário Oficial mostra comunicado da Polícia Militar sobre número de mortes decorrentes de intervenção policial
Foto: Reprodução/Diário Oficial / Estadão

A pasta acrescenta que as ocorrências envolvendo agentes em folga caíram 33,07% no primeiro semestre deste ano, em comparação com igual período de 2017 - de 127 para 85 casos. Já as mortes decorrentes de intervenção policial envolvendo policiais civis e militares em serviço, disse a secretaria, caíram 0,62% neste mesmo período - de 332 para 330.

"Em 2017, o índice de suspeitos que morreram após confronto com a polícia foi de 18%. Também no ano passado, foram presos em flagrante 152.448 pessoas. No mesmo período, 687 morreram ao confrontar a polícia durante o serviço, ou seja, 0,45% do total de prisões", disse a pasta, que acrescenta que "a opção pelo confronto é sempre do criminoso".

A secretaria disse investigar todos os casos para se certificar da legitimidade do uso da força. "Todas as MDIPs (Mortes Decorrentes de Intervenção Policial) são acompanhadas, monitoradas e analisadas para constatar se a ação policial foi realmente legítima."

Secretário abriu mão de desconto em bônus

Apesar desse posicionamento, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, decidiu deixar de aplicar um desconto previsto no bônus pago a policiais civis, militares e peritos em caso de alta nas mortes cometidas por esses agentes, como revelou o Estado em maio.

Mesmo com a letalidade policial recorde constatada em 2017, em todos os trimestres Mágino tomou a decisão de que a redução de até 20% no bônus trimestral, cujo valor total pode chegar a R$ 2 mil para cada policial, não seria aplicada em razão de um suposto "novo paradigma no comportamento criminal": os bandidos estariam atuando com mais violência e usando fuzis, por exemplo, com maior frequência.

Estadão
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