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Cidades

João Alberto é enterrado em meio a pedidos de justiça

Filha mais nova de João Alberto foi consolada por familiares e passou longos minutos acariciando a mão do pai

21 nov 2020 - 08h43
(atualizado às 16h10)
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Amigos e familiares estiveram presentes no cemitério municipal São João, na zona norte de Porto Alegre, para o velório e enterro de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, assassinado nesta quinta-feira, em uma unidade do Carrefour.

O velório teve início às 8h e o enterro ocorreu às 11h30. Durante o velório, duas coroas de flores ornamentaram o ambiente. Uma delas exibia homenagem de familiares. A outra ostentava uma faixa com os dizeres "Justiça por João Alberto Freitas".

A filha mais nova de João, de 9 anos, foi consolada por familiares. A menina passou longos minutos acariciando a mão do pai. Grávida de um segundo casamento, a ex-esposa de João Alberto, Marilene Santos Manoel, esteve no velório ao lado de duas filhas que teve com ele. "Fui casada por 20 anos com ele. Nosso relacionamento não deu certo, mas ele foi bom para meus filhos (uma menina de 9 anos, uma menina de 16 e um menino de 15). Deus sabe o que faz, mas o que fizeram com ele foi injustiça. Vou procurar os direitos dos meus filhos. Meu filho de 15 anos (João Alessandro) não quis vir ao enterro. Quis lembrar do pai dele como ele era. Éramos separados, mas ele era unido com os filhos", disse Marilene.

João Alberto tinha quatro filhos: Thais Alexia (com a primeira esposa), de 22 anos, além de Taynara, 16, João Alessandro, 15, e Desiree, de 9. A filha mais velha soube da morte do pai na madrugada de sexta-feira, 20, por um telefonema de um familiar e pediu justiça.

"Parecia que estavam jogando um pedaço de carne no chão. Mesmo que ele estivesse errado, nada justifica esse tratamento. Espero que a justiça seja feita. Não é justo que, daqui a seis meses, eles (dois seguranças) estejam na rua novamente. A morte dele é para chamar atenção, só quem não tem coração não vai dar bola para isso", contou Thais Alexia, mãe de uma filha de 6 anos.

João Alberto tinha um casamento civil com Milena Borges Alves programado para dezembro deste ano. O corpo foi sepultado com amigos e familiares pedindo justiça em meio a muitos aplausos. Não houve protestos no local.

A Polícia Civil do Estado investiga o crime. Um dos agressores era segurança do local e o outro, um policial militar temporário. Os dois homens foram presos em flagrante.

Após colher os primeiros depoimentos, a delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, recebeu, na tarde de sexta-feira, 20, os médicos legistas para elucidar as causas da morte de João Alberto. Durante as agressões, a vítima também foi imobilizada pelos vigias, com o joelho de um deles nas costas.

Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Foto: Twitter/Reprodução / Estadão

"O maior indicativo da necropsia é de que ele foi morto por asfixia, pois ele ficou no chão enquanto os dois seguranças pressionavam e comprimiam o corpo de João Alberto dificultando a respiração dele. Ele não conseguia mais fazer o movimento para respirar", informou.

Ao 'Estadão', João Batista Rodrigues Freitas, de 65 anos, lamentou a morte de seu filho na sexta-feira. "Nós esperamos por Justiça. As únicas coisas que podemos esperar é por Deus e pela Justiça. Não há mais o que fazer. Meu filho não vai mais voltar", disse.

À reportagem, o pai descreveu a vítima como um homem tranquilo. "Eles (Freitas e a esposa) frequentavam o mercado quase todos os dias. Ele até me incentivou a fazer um cartão do mercado."

O assassinato de João Alberto gerou protestos em diversos locais do Brasil na sexta-feira. Manifestantes entraram em unidades do supermercado.

Na capital do Rio Grande do Sul, a manifestação começou no início da tarde, em frente à unidade onde aconteceu o crime. Com cartazes, bandeiras e faixas destacando que "vidas negras importam", milhares de manifestantes exigiram Justiça pelo assassinato. A realização do protesto ganhou adeptos nas redes sociais e eclodiu em frente ao hipermercado. Cruzes e flores em homenagem a João Alberto também foram colocadas no local.

Em São Paulo, manifestantes se concentraram no vão do Masp por volta das 16h. Cerca de duas horas depois, um grupo de mais de 600 pessoas iniciou uma caminhada em direção ao Carrefour da Pamplona. Todo o trajeto foi acompanhado pela polícia, que não interferiu em nenhum momento. Ao chegar no local, a manifestação concentrou-se na rua, mas não demorou para que avançasse ao estacionamento que fica em frente ao supermercado.

Uma pequena parte dos manifestantes pegou pedras dos vasos do estacionamento e arremessou contra os vidros do supermercado. O grupo de seguranças do Carrefour não resistiu à invasão - a própria Polícia Militar não interveio.

Estadão
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