Como funciona a 'prestação de serviços' de lavagem de dinheiro para o PCC em SP
Polícia Civil investiga 49 empresas que oferecem esquemas a traficantes, estelionatários e operadores de jogos de azar
Uma quadrilha de criminosos gerenciava uma rede de 49 empresas em um esquema de lavagem de dinheiro, atuando como um verdadeiro prestador de serviços para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo a Polícia Civil de São Paulo.
As investigações mostram como padarias, adegas, concessionárias e fintechs ofereciam a traficantes, estelionatários e operadores de jogos de azar esquemas para ocultar o "dinheiro sujo".
O coronel Paulo Mauricio Maculevicius Ferreira, secretário adjunto da Secretaria da Segurança Pública, explica que as empresas lavavam o dinheiro com a mescla de rendimentos (mistura do dinheiro 'bom' e do dinheiro 'ruim') e triangulação (múltiplas transações entre pessoas físicas, jurídicas e empresas de fachada).
"O que nós fizemos foi bloquear as contas bancárias daqueles CNPJs. Para que a gente consiga suspender a inscrição de cada um, atividade realizada por parte da Receita Federal, a gente precisa do retorno de algumas informações", explica.
As empresas possuíam um organograma definido, com divisão de tarefas. Cada integrante tinha funções distintas e estruturadas para fazer com que o esquema funcionasse.
- os coletores, que ficam na base do esquema criminoso, ofereciam a traficantes, estelionatários e operadores de jogos de azar mecanismos para ocultar a origem ilícita dos valores e captavam o dinheiro para inseri-lo no mercado formal;
- os intermediários são encarregados de movimentar e ocultar os recursos. "Eles faziam movimentações, como pagamentos de boleto, transferências de valores abaixo de radar, abaixo do limite do Coaf. São os mais importantes na nossa visão porque escondem o dinheiro", diz o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg.
- beneficiários finais, aqueles que recebem o dinheiro "limpo" e o recolocam no crime.
A Operação Falso Mercúrio, deflagrada nesta quinta-feira, 4, mirou o ecossistema financeiro do grupo. Ao todo, 57 contas foram bloqueadas (20 de pessoas físicas e 37 de pessoas jurídicas).
Como a Justiça determina que cada conta pode ter o bloqueio de até R$ 98 milhões, os investigadores calculam um bloqueio que pode chegar a R$ 6 bilhões.
Duas das empresas têm elo com Kauê do Amaral Coelho, olheiro do PCC envolvido no assassinato de Vinicius Gritzbach, delator da facção, executado no Aeroporto de Guarulhos no ano passado. O Estadão não localizou a sua defesa.
Sayeg explica que o êxito maior da operação são os bloqueios judiciais. Ao menos 257 veículos, avaliados em R$ 42 milhões, tiveram restrições judiciais aplicadas, além do sequestro de 49 imóveis no valor de R$ 170 milhões. Também foram bloqueadas três embarcações.