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Análise: Canonização de Irmã Dulce é símbolo do trabalho da Igreja na América Latina

Santa dedicou a vida aos pobres, público para o qual a igreja se voltou há 50 anos no continente

13 out 2019 - 18h35
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O Brasil recebe da Igreja liderada pelo Papa Francisco um presente notável. É canonizada a primeira santa brasileira, Irmã Dulce, o Anjo Bom. A proclamação oficial da santidade desta baiana é forte e simbólica em muitos aspectos.

Em primeiro lugar, Irmã Dulce é a encarnação de tudo o que a Igreja da América Latina vem vivendo e propondo há mais de 50 anos. Em 1968, os bispos reunidos em Medellín voltaram o olhar da comunidade eclesial preferencialmente para os pobres e oprimidos, propondo então o que se chamou de uma opção preferencial pelos pobres. Tratava-se de uma virada radical que levava a Igreja para as margens da sociedade e privilegiava o trabalho evangélico, unido indissoluvelmente à transformação social. Fé e justica passaram a ser um binômio inseparável, como o foram desde sempre na tradição bíblica judaico-crista.

Irmã Dulce dedicou sua vida aos pobres. Voltou toda a sua vocação e vida religiosa para aqueles que não tinham direitos, que eram fracos e vulneráveis. A tal ponto que foi conhecida como o anjo dos pobres. Além disso, é uma mulher.

A Igreja tem canonizado muitas mulheres. Mas chama a atenção que, juntamente com Irmã Dulce, o papa Francisco haja canonizado várias outras. Aumenta o número de mulheres reconhecidas oficialmente pela Igreja como santas. Isso se encontra em perfeita sintonia com as posições que o papa Francisco tem tomado últimamente, de palabra e de obra. Sem cessar, ele tem sublinhado a importância da mulher para a vida da Igreja.

Com Irmã Dulce, a Igreja do Brasil ganha sua primeira santa canonizada, a America Latina vê reconhecida uma testemunha privilegiada da opção continental pelos pobres, e a santidade de uma mulher é reconhecida e proclamada oficialmente pelo Sumo Pontifice.

Parabéns, Bahia. Parabéns, Brasil. Irmã Dulce interceda pelo seu povo. Ajude-o a viver sempre mais a opção pelos pobres que você encarnou com tanta radicalidade.

* É PROFESSORA TITULAR DO DEPARTAMENTO DE TEOLOGIA DA PUC-RIO

Estadão
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