9 de julho: restos mortais de pai e filho que lutaram em 1932 vão para mausoléu do Obelisco
Homenagens por todo o Estado e até além da divisa marcam os 93 anos da chamada 'guerra paulista'
Os restos mortais de pai e filho que combateram na Revolução de 32 serão depositados nesta quarta-feira, 9, no Mausoléu do Obelisco, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O cabo Manoel Mario Tapia morreu durante os combates no front leste, na divisa de São Paulo com Minas Gerais. Ele se alistou junto com o pai Manoel Tapia Pugas, que participou dos combates e sobreviveu. Os dois serviam à Força Pública, a polícia militar da época, e foram convocados para defender São Paulo.
O traslado faz parte das comemorações dos 93 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, um movimento armado protagonizado pelo Estado de São Paulo para depor o governo provisório de Getúlio Vargas. De 9 de julho a 4 de outubro daquele ano, os paulistas pegaram em armas para exigir uma nova Constituição e enfrentaram sozinhos as tropas federais.
Para lembrar a data, importante para os paulistas, o 9 de Julho é feriado, mas só no Estado de São Paulo. Os paulistas prestam homenagem a seus mortos em combate: oficialmente a revolução teve 934 baixas, a maioria de paulistas, mas alguns historiadores apontam até 2 mil mortos.
Os corpos dos dois combatentes estavam sepultados em Cruzeiro, cidade do Vale do Paraíba, próximo às divisas com Minas Gerais e Rio de Janeiro, que foi estratégica durante os combates. Os restos de Manoel Mario já tinham sido transferidos para o Cemitério do Araçá, na capital e, agora, ficarão definitivamente no mausoléu.
Também irão para o Obelisco os restos do combatente Theodoro de Souza Barros, que seguiu de São Pedro, na região de Piracicaba, para as frentes de combate. Outros nomes ligados à revolução - Armênio Borges Barbosa, Octávio Francisco Monteiro e Emílio Sciola - serão homenageados.
As cerimônias, no Obelisco do Ibirapuera, começam às 8 horas, com hasteamento de bandeiras, o sepultamento dos combatentes e o desfile cívico-militar. As solenidades, incluindo o desfile, estão em vias de serem declaradas patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo, conforme proposta do deputado Guto Zacarias (União) em tramitação na Assembleia Legislativa.
Após o desfile haverá sessão solene na Assembleia.
Comemorações em cenários de batalhas
Cidades que foram palcos dos principais confrontos armados durante a revolução realizam eventos para comemorar os 93 anos. Em Cruzeiro, onde se deu a rendição dos paulistas, será feita uma releitura do armistício que selou o fim dos combates na Escola Arnolfo Azevedo, a mesma onde o documento foi assinado.
Em Itapira, haverá uma cerimônia comemorativa no Morro do Gravi, local emblemático, onde muitos soldados perderam a vida em um dos combates mais sangrentos da revolução. Só no mausoléu do Cemitério da Saudade, o principal da cidade, foram sepultados 16 combatentes mortos no conflito. Restos de trincheiras ainda existentes no local serão visitados.
Mogi Mirim relembra a revolução com um passeio turístico que está em sua 11.ª edição. Os participantes vivenciam o clima da guerra, embarcando em uma composição que lembra o "trem blindado" que, durante a revolução, transportava as tropas para o front. Uma encenação de atores e figurantes locais vai lembrar os bombardeios sofridos pela cidade. Haverá visita ao "bunker", um abrigo subterrâneo usado pelas tropas paulistas.
Em Itararé, no front sul, por onde as tropas federais invadiram São Paulo enfrentando forte resistência, haverá desfile e um cortejo motorizado até o Monumento aos Ex-Combatentes, no Parque da Barreira, na divisa com o Paraná. Uma exposição vai mostrar o acervo da revolução no prédio da Estação Ferroviária.
Batalhas serão lembradas além das divisas
Embora não seja feriado no Estado, duas cidades mineiras vão reverenciar a revolução de 1932 neste 9 de julho. Em Jacutinga, que fica na divisa com São Paulo, uma exposição de fotos e documentos na antiga Estação Ferroviária, no centro, vai relembrar a passagem das tropas paulistas estado adentro, depois o recuo e o avanço das tropas federais. A cidade foi ocupada duas vezes - a primeira pelos paulistas, depois pelas tropas de Getúlio.
Em Passa Quatro, o Trem Turístico da Serra da Mantiqueira fará duas viagens especiais da estação ferroviária da cidade até a Estação Fulgêncio, na boca do Túnel da Mantiqueira. Durante a viagem, historiadores falarão sobre a revolução e a participação mineira nos combates. A estação no ponto final da linha férrea homenageia o Coronel Fulgêncio de Souza Santos, que morreu lutando contra os paulistas na defesa do túnel.
O que foi a Revolução de 32
A Revolução de 1932, também chamada de guerra paulista, foi o maior movimento armado já ocorrido em São Paulo e tinha como metas derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova Constituição - por isso também leva o nome de Revolução Constitucionalista.
Foi uma resposta paulista à Revolução de 1930 que acabou com a autonomia dos Estados, vigente desde a Constituição de 1891, impediu a posse do presidente eleito, o paulista Júlio Prestes, e derrubou do poder o presidente Washington Luís.
Além das perdas humanas, a estrutura do Estado ficou seriamente abalada pelos ataques por terra e pelos bombardeios aéreos sofridos durante os combates. Mas São Paulo voltou a ser governado pelos paulistas, após um período de intervenção, e dois anos depois - em 1934 - foi promulgada a nova Constituição.