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Batizado de 'Núcleo', grupo de Maia no WhatsApp traça estratégia na Câmara e provoca ciúmes

Presidente da Casa se cercou de líderes dos partidos de centro para auxiliá-lo na definição da pauta de votações

16 set 2019 - 18h35
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BRASÍLIA - Chamado de primeiro-ministro nos corredores do Congresso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cercou-se de líderes dos partidos de centro para auxiliá-lo na definição da pauta de votações da Casa e para traçar estratégias políticas. O fortalecimento desse núcleo de decisões, no entanto, tem incomodado outras siglas, que cobram mais atenção por parte de Maia.

O entourage do presidente da Câmara costuma se encontrar em uma reunião informal de líderes às segundas ou terças-feiras para discutir o que poderá ser votado na semana. Pela proximidade, eles pleiteiam a inclusão de projetos do seu interesse, mas também conseguem barrar o que não é do agrado do grupo.

O time é composto pelos líderes do PSD, André de Paula (PE), do PL, Wellington Roberto (PB), do Avante, Luis Tibé (MG), do PP, Arthur Lira (AL), do DEM, Elmar Nascimento (BA), do Solidariedade, Augusto Coutinho (PE), do PSDB, Carlos Sampaio (SP), do MDB, Baleia Rossi (SP), do Republicanos, Jhonathan de Jesus (RR) e da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). No total, esses partidos comandam 260 deputados.

Eles também se organizam por meio de um grupo de WhatsApp, batizado de "Núcleo". Ali, debatem durante as votações, pedem a inclusão de projetos e comentam questões políticas, mas ninguém quer receber o carimbo de "Centrão". O grupo de conversas é restrito e comporta apenas os parlamentares mais próximos de Maia.

Integrantes do "Núcleo" avaliam que a relação é normal até por representarem um número grande de deputados e por convergirem politicamente com Maia. Nos bastidores, eles admitem que há um privilégio na escolha das pautas e lembram que já conseguiram frear algumas vontades do colega, como a manutençãodos Estados e municípios na reforma da Previdência.

Na outra ponta, conseguiram emplacar a votação do projeto que abriu uma brecha para aumentar o valor do Fundo Eleitoral a ser usado no financiamento das campanhas de candidatos a prefeitos e vereadores em 2020 e o projeto que endurece as penas para casos de abuso de autoridade de agentes públicos, incluindo juízes, promotores e policiais.

Deputados de outros partidos se queixam, porém, de que, com a definição prévia de uma pauta, muitos acabam não tendo a chance de emplacar suas demandas, embora Maia garanta a eles o direito de manifestar suas opiniões na reunião de líderes, que normalmente ocorre às terças-feiras com todos os partidos da Casa.

"Eu respeito muito o Rodrigo Maia, mas a concentração desse grupo é ruim. A gente sabe que são necessárias articulações, mas isso limita a participação dos demais partidos", afirmou o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO).

Na sua avaliação, como Maia não pode se candidatar a mais uma reeleição para o cargo, não precisa compor maioria em torno do seu nome. "Agora, ele vai querer fazer um substituto e isso pode influenciar", disse o deputado.

O PSL foi um dos primeiros partidos a aderir à campanha de Maia pela presidência da Câmara e reúne hoje a segunda maior bancada da Casa, com 53 deputados. Questionado se já reclamou sobre o assunto com Maia, Waldir respondeu que não faria isso por respeitá-lo. "É uma escolha dele."

Para o deputado Ênio Verri (PT-PR), o sistema de funcionamento do Congresso está muito centrado na figura dos presidentes das duas Casas. "Se ele falar não, é não. Isso nos deixa muito limitados", argumentou.

Verri contou que a bancada quer marcar uma reunião com Maia justamente para discutir essa questão. "Sentimos exatamente isso na pauta da semana. Queremos ter uma participação mais efetiva nesse tipo de decisão", afirmou.

A exemplo de colegas de outros partidos, Verri ressalvou que Maia tem ouvido os parlamentares, mas disse que o diálogo precisa ter efeito prático. "Achamos que, por ser a maior bancada (54 deputados), nós podemos ter um espaço maior. Sem dúvida nenhuma, a base que elegeu Maia foi o Centrão e ele acaba ouvindo mais esse grupo nas indicações de relatoria e na pauta. Mas entendemos que a oposição precisa ter maior participação nas decisões", observou o petista.

Estadão
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