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Angela Merkel completa 65 anos: uma retrospectiva

17 jul 2019 - 12h24
(atualizado em 18/7/2019 às 06h13)
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À frente do governo desde 2005, chanceler federal marcou a política alemã, resultando na chamada "era Merkel". Em 14 anos de mandato, ela se afirmou como gestora de crises.Durante anos, as mãos postas em forma de losango eram o gesto que grande parte do mundo associava a Angela Merkel, que completa 65 anos de vida nesta quarta-feira (17/07). Na campanha eleitoral de 2013, o "losango Merkel" era visto até mesmo em outdoors, simbolizando a resistência inabalável da líder democrata-cristã.

Mãos em posição de losango viraram símbolo de Merkel
Mãos em posição de losango viraram símbolo de Merkel
Foto: DW / Deutsche Welle

Em 2019, o que se discute é um outro aspecto físico da chefe de governo alemã: seus tremores em aparições públicas. Ela estará doente?, perguntam-se muitos.

Do ponto de vista formal, ela tem menos poder do que os chefes de governo em Paris, Moscou ou Washington. Porém seus - até agora - 14 anos de mandato marcaram a Alemanha, resultando numa "era Merkel". Esta é a única chanceler federal que adolescentes do país conhecem.

Do ponto de vista econômico, foram bons anos, no geral, apesar de uma crise financeira passageira. De "criança-problema da Europa", como era vista ainda em 2005, a Alemanha voltou a se revelar uma locomotiva de crescimento.

De lá para cá, o desemprego reduziu-se à metade, as arrecadações de impostos aumentaram. O freio do endividamento aprovado em 2009 representou uma mudança de paradigma - bem-sucedida, pois os déficits se transformaram em superávits para o orçamento público.

O poder da chefe de governo tornou-se especialmente visível nos anos difíceis. Crise do euro, salvamento da Grécia, anexação da Crimeia pela Rússia: também devido aos entraves no nível europeu, ela interveio com toda força. A lista de visitantes à Chancelaria Federal tornou-se cada vez mais longa; a imprensa em Berlim espantava-se por a capital se transformar num foco da política de negociação.

Merkel se afirmou como gestora de crises: nem mais surpreendia o fato de ela ser proclamada quase regularmente a mulher mais poderosa do mundo. Os cidadãos da Alemanha a admiravam por isso, também no leste do país, onde ela cresceu. Apesar de tudo, a política protestante jamais assumiu ares de estrela.

Ela colocou o seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), num curso de modernização, fomentando as forças mais jovens e, sobretudo, as femininas. O quadro geral durante as convenções partidárias modificou-se. Merkel permaneceu a mesma de sempre, sua autenticidade rendia boas quotas de popularidade.

Em algum momento, muitos passaram a chamá-la simplesmente de "Mutti" (mamãe). A intenção era lisonjeira, mas também teve seu lado nocivo: de tanto se confiar na "mamãe", perdeu-se o ímpeto pelo embate democrático. E uma outra coisa se perdeu: a diversidade. Merkel alinhou seu partido e seu governo, a fim de garantir uma atuação sem atrito.

O apelido "Mutti" ganhou uma conotação negativa. A premiê impôs decisões como o fim do serviço militar obrigatório e da energia nuclear, os conservadores da CDU sentiram-se encurralados. Em retrospectiva, o politólogo Wolfgang Merkel (sem parentesco com a premiê) condenou recentemente o fato de o partido de centro-direita ter se tornado "só de centro", o que abriu o espaço para uma legenda mais à direita, a Alternativa para a Alemanha (AfD).

"Nós vamos conseguir"

Contudo, Merkel deverá entrar para os livros de história com outra imagem: sua frase "Nós vamos conseguir!", pronunciada em agosto de 2015, no auge da crise migratória. A Alemanha declarou-se disposta a acolher centenas de milhares de refugiados da Síria e de zonas de guerra e crise vizinhas. Embora mais tarde a líder alemã tenha tentado corrigir-se de várias formas, até hoje a população está dividida quanto à questão.

Essa polarização se alastrou no nível europeu. Os países do leste da União Europeia se opuseram aos planos alemães de distribuição de migrantes e refugiados dentro do bloco. Estabeleceu-se - e mantém-se - uma nova linha de conflito, que vai de Varsóvia a Roma, passando por Praga e Budapeste.

A nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, poderá fazer sarar algumas das fraturas. A democrata-cristã de 60 anos, pessoa de confiança de Merkel há vários anos, tem boa reputação internacional, também no Leste Europeu. Sua imagem é de negociadora dura e ambiciosa, mas também de jeito tranquilo e capaz de construir pontes.

Especula-se se desde o início Merkel queria Von der Leyen no cargo, ou se se tratou de uma decisão pragmática, por estar claro que nenhum dos candidatos vindos do Parlamento Europeu chegaria à chefia da Comissão. Se foi esse o caso, isso combina com o lema declarado pela própria líder, de sempre pensar os assuntos a partir do fim. O resultado a favor da nova presidente da Comissão Europeia acabou sendo apertado, mas maioria é maioria.

Próximos passos

Se Merkel fosse uma trabalhadora comum, tendo nascido em 1954 ela se aposentaria em 2020. Essa é a versão burocrática. Nos últimos dias, também diante de seus episódios de tremor, especula-se muito se ela deixará a política ou continuará até o fim da legislatura, em 2021. A coalizão de governo com o Partido Social-Democrata (SPD) é considerada frágil; o desempenho da CDU de Merkel nas enquetes é ruim - historicamente ruim, até.

Mas agora é verão, e , como todos os anos, a política conservadora começa suas férias, logo após seu aniversário, com uma visita ao Festival Wagner de Bayreuth. Ela também gosta de ir espairecer nas montanhas. Quando retornar, muitos olhos estarão sobre ela: era só uma questão de descanso e o tremor passou? Enquanto isso, outras questões da política alemã aguardam para ser discutidas.

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