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Análise: PSL, de partido unido a ninho de arapongas

Quem é que pode dizer que a crise não vai contaminar as votações importantes que estão por vir?

18 out 2019 - 05h41
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Por várias vezes falou-se aqui mesmo, nessas análises, sobre a impressionante capacidade que o governo de Jair Bolsonaro tem para do nada criar crises políticas. Portanto, mais uma crise aqui, outra ali, deveria entrar para a cota das coisas triviais de um governo. Mas as crises são tantas, e surgem de forma tão inusitada, que fica difícil não se surpreender.

Um exemplo: do nada, o presidente Jair Bolsonaro disse, na semana passada, a um eleitor que o procurou para uma selfie, que esquecesse o PSL, que esquecesse o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), "queimado para caramba".

A crise interna do PSL, que vinha dividindo bolsonaristas e partidários de Bivar, só aumentou. Aí, o presidente pediu uma auditoria nas contas do partido, investigado por suspeita de uso de candidatas laranjas em 2018 para desviar dinheiro do Fundo Eleitoral, fundo bilionário constituído por dinheiro público que financiou as eleições do ano passado.

Com o acirramento do confronto entre as duas alas, o presidente decidiu, ele mesmo, comandar o processo de destituição do líder do partido, Delegado Waldir (GO), para substituí-lo pelo filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores e candidato a ser indicado, pelo pai, embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

No processo de pressão sobre os deputados, não um, mas vários deles grampearam o presidente.

Em resposta ao trabalho comandado por Bolsonaro, Waldir, que conseguiu se manter na liderança, prometeu numa reunião mostrar um grampo com Bolsonaro que, pelas palavras do deputado, vai implodir o presidente, chamado de "vagabundo" pelo líder. Esse xingamento foi obtido por outro grampo, agora de quem estava numa reunião na tarde desta quinta-feira, 17, com o líder.

De um partido unido, que se elegeu com a bandeira única do combate à corrupção, o PSL se tornou um partido de arapongas, em que todo mundo grava todo mundo.

Quanto ao "vagabundo", isso é palavra para se referir ao presidente, mesmo que Waldir e ele estejam em lados contrários, embora no mesmo partido? Cadê a elegância política?

Quem é que pode dizer que a crise não vai contaminar as votações importantes que estão por vir? E tudo porque, num desses impulsos, o presidente decidiu aconselhar um eleitor a esquecer o PSL.

Estadão
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