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Alvorada 'é local de apoiadores', diz youtuber bolsonarista que faturou R$ 1,76 milhão

Anderson Rossi, dono do canal Foco do Brasil, arrecadou US$ 330 mil entre março de 2019 e maio de 2020 e explica como funciona acesso ao Alvorada

5 dez 2020 - 13h06
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BRASÍLIA - Dono do canal Foco do Brasil, o técnico de informática Anderson Rossi disse em entrevista ao Estadão que o acesso a áreas restritas do Palácio da Alvorada se deve à "simpatia" do presidente Jair Bolsonaro por sua equipe. O canal dele, que se declara apoiador do chefe do Executivo, faturou US$ 330 mil (o equivalente a R$ 1,76 milhão na cotação atual de câmbio) em monetização entre março de 2019 e maio de 2020, segundo relatório da PF obtido pela reportagem.

Para ter acesso exclusivo ao presidente e às dependências do Palácio da Alvorada, dois funcionários de Rossi se identificam junto aos seguranças e em seguida seguem para áreas internas da residência oficial em que Bolsonaro conversa com apoiadores, longe do espaço reservado à imprensa tradicional.

Vídeo do canal Foco do Brasil mostra o presidente Jair Bolsonaro conversando com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas sobre aplicativos de transporte rodoviário
Vídeo do canal Foco do Brasil mostra o presidente Jair Bolsonaro conversando com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas sobre aplicativos de transporte rodoviário
Foto: Reprodução/YouTube / Estadão

"Simplesmente entramos e nunca fomos bloqueados. Inclusive, como todos sabem, também somos apoiadores. Ali é local de apoiadores", afirma Rossi, referindo-se ao espaço, dentro de um cercadinho, onde a militância bolsonarista costuma aguardar o presidente. "Nós gravamos com o celular o Alvorada desde quando começaram os apoiadores (a irem até a porta do Palácio para conversar com o presidente), já faz bastante tempo", completou.

Em vídeo exibido no dia 2 de dezembro, pelo canal Foco Brasil, Bolsonaro deixou claro que é dele a ordem para que a imprensa não acompanhe suas entrevistas, garantindo que apenas seus apoiadores possam acessar o conteúdo de suas falas. "Eu não respondo a perguntas (da imprensa). Aqui já é particular, por assim dizer, minha propriedade. Lá fora, imprensa", disse referindo-se ao Palácio do Alvorada, residência oficial dos presidentes da República.

Rossi disse, ainda, que o Foco do Brasil costumava participar das entrevistas coletivas na área da imprensa, externa ao Palácio da Alvorada. "Mas devido ao tipo de perguntas de alguns jornalistas parece que o presidente ficou nervoso e decidiu não falar mais nada ali", frisou. Quando o presidente passou a receber apoiadores do lado interno do Alvorada, o Foco do Brasil aproveitou o acesso obtido e passou a fazer vídeos exclusivos.

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"O Foco do Brasil é o único que aparentemente o presidente Jair Bolsonaro tem simpatia por ali e até agora não nos bloqueou para fazer as filmagens e perguntas", observou o dono do canal, que tem 2,3 milhões de seguidores.

Ao explicar por que tem acesso à área interna do Palácio da Alvorada, Rossi observou: "temos cautela quando queremos fazer perguntas pelo respeito ao momento".

Questionado pela reportagem se ainda recebe ajuda do assessor especial da Presidência Tércio Arnaud Tomaz, integrante do "gabinete do ódio", Rossi disse que as conversas com o assessor presidencial têm acontecido com "pouca frequência". À PF, no entanto, o youtuber havia afirmado que não tinha mais contato com o assessor. "Fiquei inclusive um tempo sem nenhum contato, depois voltei a ter contato novamente com pouca frequência. Ele parece ser uma pessoa muito reservada que não é muito de conversa. Mas, com razão, por ser um assessor de confiança do presidente".

Ao responder às perguntas do Estadão, Rossi admitiu que, diante do sucesso de seu canal, vislumbra ampliar sua equipe em Brasília. "Como estou iniciando minha empresa jornalística, tenho no momento dois 'jornalistas' e estou contratando um terceiro. Tenho a matriz aberta em São Bernardo do Campo (SP) e a filial em Brasília, onde ali é uma sala que pode ser utilizada para reunião e uma pessoa que atende telefonemas para recados."

Desde a última sexta-feira, 27, o Estadão tem pedido uma manifestação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). A reportagem enviou à Secom três e-mails desde então, mas não havia obtido uma resposta do governo federal até a publicação desta reportagem.

O Estadão indagou a Secom se os os assessores Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes, Mauro Cesar Barbosa Cid e Mateus Diniz gostariam de se manifestar, já que são citados tanto no inquérito do STF quanto na reportagem. A Secom também foi indagada se Tercio gostaria de se pronunciar sobre a sua relação com os canais investigados.

Três perguntas para Anderson Rossi, dono do canal bolsonarista Foco do Brasil

Como foi o acesso ao satélite que lhe garantiu acesso a imagens do presidente da República?

Verifiquei que o (Portal) G1 transmitia, ao vivo, algumas cerimônias e solenidades do presidente com o logotipo da TV Brasil. Liguei na TV Brasil para perguntar como eles têm o acesso, e me passaram, na época, para o Bill, que me explicou que o acesso era público. Era só apontar a parabólica e colocar a frequência. Então comprei uma parabólica e coloquei na frequência informada. (...) Me informou também que a TV Brasil disponibiliza e, se a imprensa ou qualquer pessoa quiser, retransmitir ou publicar qualquer conteúdo. Basta manter o logotipo da TV Brasil.

E o acesso às senhas da TV Brasil?

Houve um vídeo que passou, na TV Globo, de uma entrevista coletiva do presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos, com o logotipo da TV Brasil. Eu procurei e não achei em outros locais. Liguei para a TV Brasil, onde me passaram para Daniel, que era coordenador ali. Eu me apresentei e expliquei o caso. Daniel então me informou que são arquivos que são disponibilizados para acesso à imprensa. Como temos credenciamento, ele me informou o acesso da imprensa em geral. Há uns meses não tem mais esse acesso. Apareceu a informação que, a partir daquela data, os vídeos se tornariam públicos, não só para a imprensa.

O senhor já financiou, com dinheiro próprio ou de terceiros, caravanas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro?

Nunca financiei, com dinheiro próprio ou de terceiros, nenhuma caravana de apoio ao presidente. Inclusive nunca financiei nada, na verdade, e nunca recebi nenhum financiamento, também. Meus custos são com a equipe de jornalistas e cinegrafistas, equipamentos, e imposto todo mês. Eu forneci, tranquilamente, acesso à PF da minha conta física e jurídica. Tranquilamente isso será provado.

Estadão
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