Alimentos ultraprocessados são perigo para saúde pública mundial, dizem especialistas
Os alimentos ultraprocessados são uma grande ameaça à saúde pública que deve ser tratada com urgência, de acordo com uma nova série de artigos de autoria de 43 especialistas globais publicados na revista médica Lancet.
Os cientistas, incluindo o professor brasileiro que cunhou o termo UPF, da sigla em inglês, com pares há cerca de 15 anos, argumentam que os alimentos ultraprocessados são cada vez mais comuns em todo o mundo e estão ligados a um declínio na qualidade da dieta e a uma série de doenças, da obesidade ao câncer.
"Trata-se das evidências que temos hoje sobre (...) alimentos ultraprocessados e a saúde humana", disse Carlos Monteiro, professor da Universidade de São Paulo (USP), nesta terça-feira. "O que sabemos agora justifica uma ação pública global."
PROCESSAMENTO E POLÍTICA
Os UPFs são uma classe de alimentos ou bebidas fabricados com técnicas de processamento, aditivos e ingredientes industriais e, em sua maioria, contêm poucos alimentos integrais. Os exemplos incluem refrigerantes ou macarrão instantâneo.
Embora o termo UPF tenha sido amplamente utilizado nos últimos anos, alguns cientistas e o setor de alimentos argumentam que ele é simples demais, e a luta tem se tornado cada vez mais politizada.
Os autores reconhecem as críticas na série da Lancet, dizendo que são necessárias mais evidências, especialmente sobre por que e como os UPFs causam problemas de saúde, bem como sobre produtos com diferentes valores nutricionais dentro da classe UPF. Mas eles dizem que o sinal já é forte o suficiente para que os governos tomem providências.
Em uma revisão sistemática de 104 estudos de longo prazo realizados para a série, 92 relataram maiores riscos associados a uma ou mais doenças crônicas ligadas a padrões alimentares com UPF e associações significativas para 12 condições de saúde, incluindo diabetes tipo 2, obesidade e depressão.
A maioria desses estudos foi projetada apenas para mostrar ligações, em vez de causalidade direta, o que os autores reconheceram. No entanto, eles disseram que a situação precisa ser resolvida enquanto mais dados são coletados, principalmente porque o consumo de UPFs está aumentando em todo o mundo como parte da dieta, chegando a mais de 50% em países como os Estados Unidos.
Os três artigos da série, financiados pela Bloomberg Philanthropies, também descrevem maneiras de lidar com o problema, como a inclusão dos UPFs nas políticas nacionais sobre alimentos com alto teor de gordura, açúcar ou sal. Mas eles advertem que o setor de UPFs é a maior barreira para o enfrentamento da questão.
A International Food and Beverage Alliance, uma organização que representa as principais multinacionais de alimentos e bebidas, disse que seus membros também querem melhorar os resultados globais de saúde por meio da qualidade da dieta, e que as empresas de alimentos deveriam fazer parte da formulação de políticas.
"As recomendações dessa série vão muito além das evidências disponíveis", disse o secretário-geral da IFBA, Rocco Renaldi, argumentando que há risco de reduzir a disponibilidade de opções acessíveis e estáveis nas prateleiras em todo o mundo.