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A versão original do diário de Anne Frank

12 jun 2019 - 08h42
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Em seu diário, a menina judia não escondia o desejo de ser escritora. E chegou a preparar ela mesma, do esconderijo em Amsterdã, uma versão editada para publicação. Obra chega agora finalmente ao público, em alemão.Com um pouco mais de sorte e menos perversidade humana, Anne Frank estaria talvez completando 90 anos nesta quarta-feira (12/06). Possivelmente ela estaria celebrando seu aniversário com seus familiares em Amsterdã, Frankfurt ou em algum lugar dos EUA, e não seria impossível que "Peter" estivesse entre os convidados. Jener Peter, que compartilhou com Anne Frank o esconderijo na casa dos fundos de Amsterdã e com quem ela trocou seu primeiro beijo.

Jovens mortos permanecem sempre jovens, e é assim também com Anne Frank. Ela será sempre a menina de 15 anos que estava procurando em seu diário um substituto para um amigo ou interlocutor. E ela tinha um grande desejo: viver como uma escritora.

"Depois da guerra, eu gostaria de publicar um livro com o título 'O anexo secreto'", escreveu Anne no seu diário em 11 de maio de 1944. Menos de três meses depois, ela foi deportada juntamente com as outras sete pessoas que estavam no esconderijo.

Anne Frank morreu em fevereiro de 1945 no campo de concentração de Bergen-Belsen, provavelmente devido a tifo, exaustão e desnutrição.

Seu diário foi preservado e tornou-se um dos livros mais famosos e mais lidos do mundo. Otto Frank, o pai de Anne e único membro familiar que conseguiu sair vivo do campo de concentração, realizou o desejo da jovem e editou o diário de capa cor vermelho-bege, diversas páginas soltas, registros no verso de faturas ou em livros de contabilidade.

Dois anos após o fim da guerra, em 25 de junho de 1947, foi publicado o livro O diário de Anne Frank (em holandês, Het Achterhuis ou O anexo secreto, como Anne queria). A primeira impressão, de 1.500 livros, se esgotou rapidamente.

Nesse meio tempo, O diário de Anne Frank tornou-se parte indispensável da leitura escolar na Alemanha e de escolas de várias partes do mundo. A conhecida edição de bolso da editora Fischer Verlag pode ser encontrada em muitos lares alemães.

Mirjam Pressler, grande tradutora e autora que morreu em janeiro de 2019, trabalhou juntamente com Otto Frank nesta versão sem omitir, como fez anteriormente o pai de Anne Frank em sua primeira versão por motivos de discrição, detalhes como referências da filha sobre a mãe e pensamentos dela sobre sua própria sexualidade.

Este texto completo, histórico-crítico, foi publicado primeiramente em 1986 em língua holandesa e, em 1986, na língua alemã. O diário de Anne Frank se tornou um clássico mundial após uma adaptação cinematográfica de Hollywood na década de 1950, seguida de filmes e peças de teatro em várias línguas.

Atualmente, os registros de Anne Frank sobre sua vida confinada no esconderijo estão novamente no topo da lista dos livros independentes mais vendidos, que inclui publicações de 160 editoras independentes na Alemanha.

Já se passaram 20 anos desde que as últimas cinco páginas até então desconhecidas foram descobertas e acrescentadas ao livro. Então, o que poderia ser novo e justificar esse sucesso atual do clássico?

Em março de 1944, o então ministro da Educação holandês, Gerrit Bolkestein, por meio do canal clandestino da emissora de rádio BBC Radio Oranje, apelou à população de seu país ocupado para que guardassem cartas e diários.

"Imagine como seria interessante seu eu publicasse um romance sobre o esconderijo", dirigiu-se Anne em seu diário à sua amiga imaginária Kitty. Depois disso, ela deve ter começado a escrever de forma obsessiva: até aquele trágico 4 de agosto de 1944, quando uma batida policial na casa pôs fim à vida no esconderijo, ela havia escrito 215 páginas para criar uma primeira versão de um romance com base nos registros em seu diário.

O resultado não foi uma transcrição, mas uma revisão rigorosa e autocrítica de suas observações formuladas em forma de carta e pensamentos de uma vida num esconderijo. Este manuscrito, juntamente com outros documentos originais, o diário e a coleção de folhas soltas formaram a base para todas as edições posteriores.

O fato de agora, pouco antes do seu 90º aniversário, ter sido publicado pela primeira vez um fragmento do romance em uma nova tradução, presta homenagem ao promissor talento literário de Anne Frank.

"Eu nem sabia que a minha pequena Anne era tão profunda", disse Otto Frank anos após a morte da filha. Seus registros diários cobrem 779 dias de vida, dos quais 753 dias confinados atrás de um armário de arquivo no prédio do escritório do seu pai.

Liebe Kitty (Querida Kitty, em tradução livre), o título da edição deste novo romance em alemão, contempla o período de 12 de junho de 1942 a 29 de março de 1944 - Anne Frank não conseguiu ir mais além do que isso em sua nova versão. Se compararmos com a versão original do diário, na medida em que foi preservada, torna-se evidente a perícia literária da jovem de 15 anos.

"Ela suprimiu completamente alguns registros, revisou outras, acrescentou novas descrições, percepções e conexões de pensamentos e, assim, criou um texto altamente interessante e legível", escreveu a especialista em estudos literários Laureen Nussbaum no epílogo do livro.

Como amiga da família e pesquisadora sobre Anne Frank em Seattle, Nussbaum, que conheceu Anne e sua irmã Margot pessoalmente, esperou 25 anos por essa edição. "O diário que todos conhecemos é uma amálgama, uma mistura do diário espontâneo e de retoques posteriores feitos pela Anne", conta Nussbaum, que trabalhou 25 anos no projeto de reedição da obra.

A primeira versão, que é chamada agora de versão A, Anne Frank começou a escrever espontaneamente, enquanto sua família estava escondida dos nazistas em Amsterdã. Depois, jovem reescreveu parcialmente seu diário com a esperança de ver o texto publicado depois da guerra, o que resultou na chamada versão B, agora publicada.

"Essa é a grande questão: alguma vez serei capaz de escrever algo grande, serei jornalista e escritora? Espero que sim. Eu espero muito que sim!" O desejo de Anne Frank, que ela confiou ao seu diário no dia 5 de abril de 1944, tornou-se finalmente realidade com esta nova edição que lhe dá reconhecimento como uma jovem escritora.

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