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Intersexo: definição do termo, tipos e bandeira

Confira o que significa ser uma pessoa intersexo e entenda como o conceito está relacionado à diversidade e inclusão

4 jun 2023 - 05h00
(atualizado em 25/1/2024 às 15h30)
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Resumo
A intersexualidade não é caracterizada como uma patologia; Existem mais de 40 características de DDS (Diferença do Desenvolvimento do Sexo), o intersexo é uma delas; Estima-se que cerca de 1,7% da população mundial apresente essas características; No Brasil, cerca de 167 mil pessoas são intersexo; A identificação pode ocorrer em várias fases da vida, como na puberdade e até mesmo já na fase adulta.
Pessoas intersexo foram incluidas na sigla LGBTQIA+ há 3 anos
Pessoas intersexo foram incluidas na sigla LGBTQIA+ há 3 anos
Foto: iStock

Você sabe o que significa a letra “I” da sigla LGBTQIA+? Não são muitas as pessoas que conhecem o significado: a intersexualidade ainda é um tópico com pouca visibilidade. 

A diversidade humana é extremamente vasta. Cada pessoa é única, seja pela sua identidade, pelas suas experiências ou até mesmo pelas características que possui. 

Entre as muitas possibilidades da existência humana, a intersexualidade é um tema que merece ser abordado e melhor explicado.

O termo "intersexo" nada mais é do que um conceito que desafia as categorias binárias tradicionais e nos convida a explorar a variedade de experiências que existem além de um padrão já estabelecido. Pessoas intersexuais acabam apresentando características sexuais, como testículos e ovários, por exemplo, que não seguem a binaridade entre o que é masculino e feminino. Além disso, características físicas, genéticas e hormonais também podem seguir essa mesma regra.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a intersexualidade é presente em até 1,7% da população mundial. Aqui no Brasil, estima-se que cerca de 167 mil pessoas apresentam alguma dessas características.

Esse assunto ainda carrega tabus e por isso é tão importante compreender que cada pessoa intersexo tem uma jornada única de autodescoberta e aceitação. Ao reconhecermos e celebrarmos a individualidade, contribuímos para a construção de uma sociedade mais inclusiva, diversa e que respeite as diferenças entre as pessoas.

O que é intersexo?

Diferente das outras letras da sigla LGBTQIAPN+, o I de “intersexo” está associado a uma característica biológica. De acordo com Flávia do Vale, ginecologista e coordenadora do Serviço de Obstetrícia do Hospital Icaraí, “Intersexo, por definição, é quando alguém geralmente parece ser de um sexo, mas tem a anatomia dominante do outro sexo ou quando alguém nasce entre os sexos masculino e feminino típicos. Um exemplo disso seria uma pessoa de apresentação feminina com anatomia predominantemente masculina".

Basicamente, a intersexualidade afasta a ideia de binaridade. Enquanto a sociedade muitas vezes simplifica a compreensão da sexualidade humana como binária, a intersexualidade reconhece a complexidade e diversidade biológica que existe.

Ou seja, indivíduos intersexuais podem apresentar combinações de características que não se alinham rigidamente com as categorias tradicionais de masculino ou feminino. Essas variações podem ser evidentes desde o nascimento ou se tornarem aparentes durante a puberdade.

Mas não só isso! A identidade intersexo também se refere à experiência desses indivíduos em relação à sua própria identidade de gênero. Algumas pessoas intersexuais podem se identificar estritamente como homem ou mulher, enquanto outras podem se identificar fora do espectro binário de gênero.

Karen Bachini revelou ser uma pessoa intersexo

Em março de 2023, a influencer Karen Bachini, de 33 anos, conhecida por vídeos sobre maquiagens, revelou ser uma pessoa intersexo. 

A condição, pouco discutida no Brasil, chamou atenção daqueles que acompanham Bachini. “Categorizando em um termo geral para as pessoas entenderem, eu sou pseudo-hermafrodita feminina, onde tenho as genitais e os órgãos internos, mas não possuo qualquer tipo de hormônio”, disse a influencer na época.

Karen afirmou que recebeu o diagnóstico após um longo processo e que precisou passar por terapia hormonal, já que não produz hormônios considerados femininos, mesmo possuindo genitais e órgãos típicos de mulheres.

“Naquela época (quando tinha 18 anos), eu fui aos médicos e não sabia o que estava acontecendo com meu corpo, meu ovário era desse ‘tamanho’, eu não tinha glândula mamária, estava totalmente com o corpo atípico”, revelou Bachini.

Influenciadora revelou ser uma pessoa intersexo; pesquisa da ONU estimou em até 1,7% da população com tal característica
Influenciadora revelou ser uma pessoa intersexo; pesquisa da ONU estimou em até 1,7% da população com tal característica
Foto: Reprodução/Youtube / Perfil Brasil

Qual é a diferença entre hermafrodita e intersexo?

Ao entender o que é intersexo, muitas pessoas resgatam um conceito que durante muito tempo foi utilizado para descrever pessoas com algumas essas características. Mas qual a diferença entre hermafrodita e uma pessoa intersexo?

“Hermafrodita” é o termo para ambivalência sexual, ou seja, da pessoa com órgãos genitais internos e/ou externos de ambos os sexos. O uso desse termo para se referir a pessoas intersexo pode soar ofensivo pelo fato de existir dezenas de possibilidades de ser intersexo, sendo “hermafrodita” apenas uma delas. 

No caso da influencer Karen Bachini, por exemplo, a intersexualidade foi diagnosticada pelo fato dela possuir genitais e órgãos internos considerados femininos, mas não possuir qualquer produção hormonal. 

Em resumo, enquanto hermafrodita refere-se geralmente à presença de órgãos sexuais de ambos os sexos em um único organismo, intersexo é um termo mais amplo que abrange uma variedade de condições em que as características sexuais não se enquadram nas categorias tradicionais de masculino ou feminino. 

O termo “hermafrodita” tem origem grega e, durante muito tempo, foi usado pela biologia para descrever animais que apresentavam características duplas e podiam se reproduzir de forma solitária, devido às características apresentadas.

Hoje em dia, não é comum utilizar essa nomenclatura para se referir a pessoas intersexo porque o conceito foi utilizado durante muitos anos para hostilizar e constranger essas pessoas. 

Tipos de Intersexo

O médico psiquiatra e psicoterapeuta Saulo Ciasca aponta que existem mais de 40 tipos de Diferença do Desenvolvimento do Sexo (DDS) e o intersexo é uma delas.

 "Há condições em que o paciente vai apresentar uma genitália com características masculinas e femininas ao mesmo tempo, a ponto de não conseguirmos identificar. A gente chama os de atipia genital, é uma genitália atípica", explica. 

Saulo destaca que não são usados termos como "anomalia", "defeito" ou "erro genético". "A gente compreende a intersexualidade como mais uma condição da diversidade humana e não como anomalias ou defeitos", justifica.

Existem várias formas de variação intersexo, incluindo diferenças cromossômicas, hormonais e anatômicas, por exemplo. Alguns indivíduos podem ter cromossomos sexuais atípicos, como XX, XY, XXY, ou outros padrões. Já outros, podem apresentar variações nos órgãos genitais ou nos níveis hormonais.

Um dos desafios enfrentados é a identificação e o reconhecimento dessas variações. Muitas vezes, essas diferenças não são óbvias externamente, o que pode levar a mal-entendidos e estigmas. Além disso, não há uma regra de quando se descobrir uma pessoa intersexo. Essas características podem ser identificadas ainda na puberdade, mas também, muitas vezes, esse processo é tardio.

Por isso a importância do acompanhamento médico desde a infância, já que facilita a identificação e o tratamento quando existem alterações hormonais. A identificação de uma pessoa intersexo geralmente ocorre durante exames médicos.

É importante notar que a intersexualidade é uma variação natural e não uma condição patológica. Além disso, o respeito pelos direitos e autonomia das pessoas intersexo é fundamental. A decisão de realizar ou não intervenções médicas deve ser tomada com cuidado, considerando o bem-estar da pessoa e o seu consentimento.  

Intersexo e a sigla LGBTQIA+

Após reivindicação de pessoas associadas à causa, há três anos, em 2020, a palavra “intersexo” foi incluída na sigla LGBTQIAPN+. Reconhecer e respeitar pessoas intersexo como parte da comunidade é um dos passos para expandir a visibilidade e avançar em relação à ausência de direitos. 

A aceitação e o respeito pela diversidade intersexo são fundamentais, isso porque além de diminuir o tabu, auxilia pessoas a se fortalecerem e sentir orgulho das suas individualidades. É importante reconhecer que a experiência intersexual é única para cada indivíduo, e não existe uma só definição do que significa ser intersexo.

Ao explorar esse assunto, abre-se espaço para uma conversa mais inclusiva e respeitosa sobre a diversidade humana. A compreensão e o apoio são essenciais para criar um ambiente onde todos possam viver autenticamente, independentemente de sua biologia ou de suas características próprias. 

Ainda há muito preconceito

Infelizmente, muitas sociedades ainda enfrentam desafios em reconhecer e respeitar a diversidade, levando a práticas médicas desnecessárias, estigmatização e discriminação. O movimento intersexo busca conscientização, aceitação e direitos iguais para esses indivíduos, promovendo uma compreensão mais inclusiva e respeitosa da diversidade humana.

Para combater o preconceito e desconstruir estereótipos, é preciso reconhecer que a diversidade de identidades de gênero é uma parte natural da condição humana. Nos últimos tempos, é possível perceber um movimento mais intenso na conscientização sobre a intersexualidade. Com o apoio da ONU, o movimento contrário ao preconceito e a estigmatização de pessoas intersexo tem ganhado força ao redor do mundo.

Ao discutir e desafiar o preconceito contra pessoas intersexo, estamos dando passos importantes em direção a uma sociedade mais igualitária. Isso porque a discriminação afeta fatores básicos para a sobrevivência humana, como por exemplo o acesso à saúde, trabalho, educação, lazer, etc.

Bandeira

Bandeira intersexo
Bandeira intersexo
Foto: Wikimedia

Segundo a iniciativa Queer In The World, a bandeira do orgulho intersexo mais comum é projetada com um fundo amarelo e um círculo roxo no centro.

Em 2013, Morgan Carpenter, da Intersex Human Rights Australia, escolheu amarelo e roxo porque nenhuma dessas cores representa as construções tradicionais de identidades binárias (masculino e feminino). 

Essas cores foram escolhidas para refletir a diversidade de experiências e identidades dentro da comunidade intersexo, destacando a importância de reconhecer e respeitar a variedade de formas como as pessoas podem experimentar o gênero e a identidade sexual.

Fonte: Redação Terra
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