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Por que chama a atenção o beijo entre duas pessoas mais velhas?

Para muitos é como se desejo, paixão, afeto estivessem reduzidos à fase da juventude. Lula e Janja escancaram o quanto isso não é verdade

3 jan 2023 - 18h18
(atualizado às 18h29)
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Lula e Janja se beijam no show da posse do presidente
Lula e Janja se beijam no show da posse do presidente
Foto: Reprodução/Youtube

No ano de 2013, passei uma temporada gravando no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, histórias para o programa Chegadas e Partidas (GNT), comandado pela jornalista Astrid Fontenelle. A equipe do programa, da qual fiz parte como diretora, antes de abordar algum passageiro, primeiro observava as cenas que rolavam nos corredores do aeroporto, atenta ao que poderia render uma boa história. Nada era produzido ou combinado com antecedência. Mas sempre entravam no radar da equipe, casais trocando beijos apaixonados, alheios ao que acontecia em volta. 

As cenas dos casais se reencontrando ou se despedindo no aeroporto, remetem um pouco à famosa foto "O Beijo do Hôtel de Ville'', do fotógrafo francês Robert Doisneau. Não exatamente pela beleza do cenário, já que na icônica fotografia, feita em 1950, um jovem casal se beija tendo ao fundo a imponente Prefeitura de Paris. As semelhanças estão mais na essência do gesto, como se tudo ficasse em estado de suspensão no momento em que dois lábios se tocam.

Nossos olhares são imediatamente atraídos para um instante que pode revelar um pouco da intimidade e dos códigos de um casal apaixonado. Mesmo que na foto de Doisneau sejam dois figurantes, escolhidos pelo fotógrafo para evitar problemas com direitos autorais, o beijo em público está simbolizado naquilo que a imagem sugere: uma demonstração de afeto espontânea, uma outra forma de se comunicar que vai além das palavras. 

Em muitos casos, um gesto de afeto, requer também não se intimidar com o medo da reação dos outros. Quando um casal LGBTQIA + demonstra o sentimento em público é uma forma de dizer "nós existimos" e com os mesmos direitos de qualquer outro casal. É sobre não se deixar invisibilizar, de reafirmar que a sexualidade não é igual para todo mundo. De poder ser quem se é em qualquer espaço público que não esteja restrito apenas aos limites de uma comunidade. É inconcebível que, em pleno século 21, alguém tenha que passar pela dor de temer pela própria felicidade. 

De alguma forma, isso se aplica às pessoas mais velhas. O pensamento comum é que, com a idade, torna-se antinatural beijar na boca e ainda ter uma vida sexual. Como se desejo, paixão, afeto estivessem reduzidos apenas à fase da juventude. Esse é um tema ainda pouco abordado, mesmo com o fenômeno da longevidade em pleno curso. Por que a sexualidade não poderia se adaptar a essa fase da vida? Se, por um lado, perde-se a vitalidade física com as mudanças do organismo, por outro, pode haver menos inibição e mais conhecimento do próprio corpo, especialmente entre as gerações nascidas no pós-guerra. Quando chegaram à juventude, os nascidos nesta geração foram influenciados pelos novos ares trazidos pela Revolução Sexual das décadas de 60 e 70.

Um dos momentos mais simbólicos da posse de Lula aconteceu diante da multidão que estava presente no Festival do Futuro. O atual presidente se dirigiu ao público e disse: “em agradecimento a vocês, mulheres, vou dar um beijo na Janja”. Lula até insinuou que um Presidente da República não poderia dar um beijão de novela na mulher. Mesmo com aviso, o primeiro-casal se beijou na boca, divertindo quem testemunhou o episódio. Foi um momento doce, de quem estava transbordando de alegria, e que não deixou dúvida de que a espontaneidade de um beijo muitas vezes supera qualquer protocolo. Afinal, ao contrário do que canta o personagem Sam no filme Casablanca, um beijo nem sempre é só um beijo.

Fonte: Redação Nós
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