Mulheres mastectomizadas ganham linha própria de moda praia
Grife carioca lança coleção inclusiva de biquínis e maiôs para ajudar a retomada da autoestima após diagnóstico de câncer de mama
Embora seja uma intervenção necessária em muitos casos para preservar a saúde da paciente, a retirada de uma ou das duas mamas é algo que costuma impactar diretamente a autoimagem corporal e as emoções. Para incentivar a autoestima e ao mesmo tempo mostrar que a praia deve e pode ser inclusiva, a BlueMan acaba de lançar uma coleção de biquínis e maiôs pensados exclusivamente nas necessidades das mulheres mastectomizadas.
A nova linha da grife carioca foi desenvolvida a partir de um convite da Comissão de Direito da Moda da Ordem dos Advogados do Brasil/Rio de Janeiro (OAB/RJ) como uma ação específica do Outubro Rosa, mês da conscientização sobre a doença.
Segundo projeções do Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 73.610 casos novos de câncer de mama no Brasil em 2023, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. A prevenção, o autoexame, o diagnóstico precoce e o rastreamento adequado da doença são ações que ajudam a combater os índices de mortalidade, assim como as intervenções cirúrgicas necessárias.
A mastectomia é uma realidade que pode ser ressignificada, como mostra a coleção da Blue Man que traz peças pensadas e desenvolvidas para encaixar próteses, disfarçar assimetrias e cicatrizes. "É uma linha que chega para ficar, impulsionada pela inovação, pela inclusão e por um propósito poderoso", celebra Sharon Azulay, diretora criativa da marca.
Sharon relata que em meados de outubro de 2022 a OAB/RJ a procurou para desenvolver algo especial para homenagear Ana Paula de Paula, integrante da Comissão de Direito da Moda da entidade, que havia falecido em decorrência de um câncer de mama. "Fui entender, então, quem era a Ana Paula, descobrir as coisas que ela gostava, quais eram os seus hobbies e hábitos para pensar em algo para honrar o seu legado. Fiquei sabendo que ela tinha uma conexão muito forte com o mar, com a água, e tinha perdido o prazer de ir à praia durante a batalha contra o câncer. Fui investigar e entendi o porquê", conta a diretora.
Lugar de fala
Para dar o pontapé inicial à coleção, a BlueMan lançou dois modelos de maiô e dois modelos de biquíni - um convencional e outro com uma uma modelagem um pouquinho maior. Os modelos vão do tamanho P ao GG, nas cores preto e rosa. "Essa linha será permanente e vai se renovando a cada coleção. A ideia é que a gente tenha não só peças lisas, mas também peças estampadas coordenadas com os lançamentos vigentes", conta Sharon Azulay.
Segundo Sharon, o trabalho foi um desafio e tanto para a grife criada em 1972. "Eu queria de alguma forma ajudar a retomar a autoestima dessas mulheres e isso não é uma tarefa fácil, até porque não é meu lugar de fala", comenta.
No começo, a diretora criativa contou com a ajuda crucial de Madalena Fagundes, da própria equipe da BlueMan, que tinha acabado de retornar ao trabalho após vencer um câncer e passar por uma mastectomia unilateral. Mas ainda era pouco. Foi aí que a própria Mônica Alcântara, da Comissão da OAB, convocou quatro mulheres, com corpos, idades e cirurgias diferentes, para irem à fábrica.
"Assim que mostrei a prótese que estávamos usando como referência, elas apontaram que o modelo era caro e que usavam outras. Revimos várias vezes os forros para acomodar diferentes tipos de próteses, além de checar com atenção as costuras para que não incomodassem as cicatrizes. Tudo feito com muito cuidado e carinho, para ser realmente genuíno e bem pensado", relata Sharon.
As consultoras que ajudaram no processo foram as escolhidas para a estrelar as fotos da campanha. Além de Madalena e Mônica, que também passou por uma mastectomia, foram clicadas Daniele Freire, Simone Bernardo e Walkyria Nadaz.
O resultado final do projeto, que recebeu o nome de Ana Paula de Paula, é que as peças não contam apenas com modelagens maiores para esconder imperfeições. Eles trazem soluções específicas e necessárias para precisou retirar as mamas, como laterais mais espessas para disfarçar cicatrizes, enchimentos e bolsos para acolher próteses externas.
"São detalhes concebidos para deixar essas mulheres confortáveis e confiantes para estarem de volta ao mar. É uma iniciativa para ser copiada. Outras marcas deveriam fazer o mesmo. Foi tão importante e transformador pra mim enxergar a moda com um propósito muito maior do que só fazer roupa por fazer", festeja Sharon, que se diz aberta a pensar outras possibilidades inclusivas para a marca no futuro.