“Faxina não tem gênero”, defende homem que trabalha como diarista
Com agenda lotada, o faxineiro Tiago Haka faz sucesso nas redes sociais ao compartilhar dicas de limpeza
“Hakabô a bagunça”. É com esse bordão que Tiago Haka, de 35 anos, conquista cada vez mais clientes e seguidores na internet através do seu perfil @homemdiarista, e vai muito bem, obrigado. Com a agenda de julho já fechada e alguns clientes em espera, ele encontrou nas faxinas uma forma de sustento durante a pandemia. O trabalho virou carreira e fez sucesso nas redes sociais. Com mais de 33 mil seguidores no Twitter, ele pretende fazer faxina de forma voluntária para mães solo, pessoas com depressão ou com deficiência, por exemplo.
Tiago não fazia ideia de como o novo trabalho daria tão certo quando começou a fazer faxinas. Foi no meio da pandemia de Covid-19 que ele perdeu o emprego como recepcionista em um hotel e precisava de dinheiro para sobreviver. A primeira barreira que encontrou foi a de gênero: num país onde 92% dos 5,7 milhões de trabalhadores domésticos são mulheres (Dieese), ele ficou com receio do negócio não emplacar.
"Foi então que conversando com um amigo, ele me deu a ideia de fazer faxina. No começo eu fiquei com medo de não ter clientes, porque há muito essa ideia de que diarista é uma função feminina. Mas faxina não tem gênero. Então comecei a estudar as técnicas de limpeza pela internet e faxinar a casa dos meus amigos, sendo remunerado. Com o tempo, outros clientes apareceram”, conta.
O trabalho engrenou quando ele decidiu compartilhar nas redes sociais dicas de limpeza e produtos. “Foi o jeito que criei de encontrar a minha forma de trabalhar, e deu certo!” Hoje, ele já consegue arcar com as suas despesas pessoais, pagar a faculdade e também guardar recursos para fazer um intercâmbio. O segredo, segundo ele, é se levar a sério. “Comecei a me ver como uma empresa séria, um prestador de serviço. Tenho método de trabalho, meu próprio uniforme. Acho que a postura, que aprendi a ter com o tempo, tem ajudado muito”, disse.
Agora, com o sucesso do trabalho, Tiago pretende fazer faxina de forma voluntária para mães solo, pessoas com depressão, pessoas com deficiência, idosos e outros perfis. “Acredito que uma ajuda por pequena que for é importante”.
Contra padrões
Um dos motivos do perfil fazer tanto sucesso é o fato de um homem estar fazendo faxina. Apesar de reconhecer a repercussão, Haka não gosta de ser elogiado por isso. “Sou filho de uma mulher que criou um homem que faz faxina. Não preciso ser elogiado por isso, porque esse é um trabalho e todo mundo deveria saber limpar a casa. Num país com herança escravagista, também sempre esbarro com alguns preconceitos, como se eu tivesse que trabalhar mais do que o combinado ou se como se fosse um coitado por trabalhar com limpeza. Sempre ressalto que trabalho com faxina porque escolhi fazer isso, sou um profissional”, disse.