Estado de SP teve 1.201 registros de estupro em fevereiro, recorde para o mês em 24 anos
Entre 2024 e 2025, houve um aumento de 20,7% de casos registrados
O Estado de São Paulo teve 1.201 registros de casos de estupro em fevereiro de 2025. O número representa um recorde para o mês na série histórica, com início em 2001, ou seja, em 24 anos. O índice também é o maior desde 2018, quando o crime passa a ser investigado por ação pública incondicional, independente da vontade da vítima.
Segundo as informações da base de dados da Secretaria Pública de São Paulo, houve um aumento de 20,7% com relação ao mesmo período do ano passado, no qual foram registrados 995 casos. Antes disso, fevereiro com o maior número de ocorrências deste tipo foi em 2023, com 1.110 registros.
Ao todo, entre janeiro e fevereiro deste ano, foram contabilizados 2.487 casos de estupro, apontando um aumento de 13,5% com relação ao mesmo período de 2024, com registros de 2.191 casos.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Todos esses números levam em conta crimes de estupro e estupro de vulnerável. Somente com relação a esse último crime, São Paulo teve registro de 1.889 casos, o que corresponde a mais da metade do total.
Ao Terra, a pesquisaora sênior do Forum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Juliana Brandão, afirmou que esse recorde aponta para o quanto permanece inseguro ser menina e mulher na nossa sociedade, que há a incapacidade de promover igual fruição de direitos, quando o recorte de gênero se coloca.
"Depois de anos de ausência de políticas públicas especialmente focalizadas na promoção dos direitos das meninas e mulheres, seguimos colhendo os frutos da proliferação de uma 'cultura do estupro', que normaliza a violência sexual, passando pela culpabilização da vítima, pelo tratamento do corpo feminino como objeto e mesmo minimizando esse tipo de violência. Além disso, lidamos com ocorrências nas quais o estuprador é, geralmente, alguém do círculo íntimo dos afetos da vítima, o que torna mais difícil o reconhecimento da violência e mesmo a sua denúncia", declara.
Juliana também leva em conta que, quando lidamos com o estupro de vulnerável, cujo aumento chama atenção, as vítimas são menores de 14 anos - ou seja, crianças e adolescentes que, não raro, além de terem que lidar com o trauma da violência sexual, enfrentam todo tipo de obstáculo quando desse estupro resulta uma gravidez.
"Isso porque, embora a legislação vigente autorize a interrupção da gestação, os atravessamentos morais e religiosos tem contaminado esse debate, que precisa ser considerado tanto como uma questão de saúde pública, quanto dialogar com a defesa de direitos sexuais e reprodutivos", salienta.
Já a delegada coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs), Adriana Liporoni, afirma que esse aumento pode significar que as pessoas estejam sendo encorajadas a denunciar, “o que é de extrema importância para o enfrentamento do crime”.
“Esse é nosso esforço, porque ainda sabemos que muitos casos são subnotificados. O aumento das estatísticas, muitas vezes, não reflete um crescimento da violência, mas, sim, um avanço na coragem das vítimas em denunciar. Especialmente nos casos de estupro de vulnerável, temos percebido que muitas vítimas hoje são ouvidas com mais respeito e acolhimento, o que encoraja outras a se manifestarem”, explicou.
Ainda segundo a SSP, o Estado possui 141 DDMs, sendo a região com o maior número de delegacias especializadas em violência de gênero no mundo. Em 2024, as DDMs realizaram 10,6 mil prisões e instauraram mais de 98 mil inquéritos (11% a mais que em 2023). Nos últimos dois anos, 473 novos policiais civis foram destinados às DDMs para reforçar as equipes.