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“Drag vai muito além de se vestir de mulher”, diz ator

Artistas contam como é conquistar espaço fora das capitais. Neste dia 16, é comemorado o Dia Internacional das Drags

16 jul 2022 - 05h00
(atualizado às 09h01)
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Coletivo ArtDarg Sul/BA e Drags de Maktub busca expandir a arte drag em cidades do inteiror
Coletivo ArtDarg Sul/BA e Drags de Maktub busca expandir a arte drag em cidades do inteiror
Foto: Divulgação/Larissa Paixão

Até 2019, os palcos das casas noturnas, bares, teatros e outros espaços públicos da cidade de Ilhéus, na Bahia, não recebiam com frequencia, shows de artistas drags. Na cidade, porém, a arte drag pulsava em cada artista isolado e mesmo em pessoas que nunca tinham se “montado” antes. Foi naquele ano que o ator, diretor, palhaço e comunicólogo Fábio Nascimento descobriu que com o novo talento - dando vida à Mademoiselle Brigith Gioconda Close - era possível mobilizar as drags que estavam escondidas na cidade do interior e mudar a configuração da cultura local. 

“Cursei artes cênicas na Universidade Federal da Bahia, e percebi que em Salvador a cultura e a arte drag já era bem conhecida entre o público comum. Lá as drags ocupavam vários espaços, participavam de eventos. Quando voltei pro interior percebi a ausência dessa arte na rua. Então mobilizei conhecidos e fizemos uma apresentação na Tenda do Teatro Popular de Ilheus”, contou.

 O antes e depois de Fábio Nascimento com sua drag Mademoiselle Brigith Gioconda Close
O antes e depois de Fábio Nascimento com sua drag Mademoiselle Brigith Gioconda Close
Foto: Divulgação/Drags de Maktub

O impacto da apresentação foi tão grande, que o grupo precisou pensar em outra intervenção, dessa vez com pessoas que nunca haviam feito drag antes. “Muitas drags nasceram dessa experiência, que chamamos de vivência. Foi um mergulho profundo porque fizemos aulas de interpretação, lemos artigos acadêmicos sobre a cultura drag, pesquisados o que dizia a filosofia. Várias áreas de conhecimento foram consultadas. Muitas pessoas só tinham referência do que era ser drag por causa do reality RuPaul”

RuPaul’s Drags Race é um reality show americano que escolhe “a próxima estrela drag americana”. Premiado, o programa já foi líder de audiência, rendeu a drag RuPaul seis Emmys e fez sucesso internacional, popularizando a arte. 

“No interior, fazer drag é uma arte isolada. Muitas drags já faziam suas exposições, sem saber as camadas que essa arte carrega. Durante a pandemia conseguimos fazer esse mergulho. Com o projeto Drags no Interior, democratizamos essa arte, mobilizamos pessoas e locais e construímos espaço pra gente poder existir”, detalhou Fábio. O processo virou o projeto Drags no Interior do coletivo Drags do Maktub

CONFIRA A PLAYLIST - PROCESSO DRAGS NO INTERIOR

Mesmo conservadora, Ilheus tem Parada Gay na cidade e pouco histórico de proibir ações em favor da comunidade LGBTQIA+. “Por enquanto preferimos uma abordagem mais didática, para mostrar as pessoas o que é ser drag, combater esteriótipos. Depois faremos coisas mais ousadas. Fazer drag vai muito além de um homem vestido de mulher. Há performance, há militância, há maquiagem, há construção de personagem. Tem muitos outros aspectos envolvidos”, explicou. 

Ser drag

“Ser drag nos liberta da masculinidade tóxica, daquela ideal que a gente nunca consegue alcançar. A drag me cura de todas as feridas provocadas no meu lado mais afeminado, quando com um gesto, um tom de voz já era motivo para ser xingado de bicha, viado”, destacou. 

Fábio explica que objetos usados como “tortura” para que as mulheres alcancem um padrão do feminino, como o salto alto que machuca os pés e a maquiagem carregada, nas mãos de um home são usadas como ferramentas de libertação. “E sempre trazemos um questionamento. Desses padrões, dos gêneros”. 

Drags do interior da Bahia se mobilizam contra anonimato da arte
Drags do interior da Bahia se mobilizam contra anonimato da arte
Foto: Divulgação/Larissa Paixão

“Holy é a parte de mim que encara o passado com dignidade e o futuro com coragem”, diz Karol Vital, que dá vida a Holy Hepburn e é uma das mulheres que se montam drag. Sua drag faz questionamentos sobre as divisões de gênero. 

Esteriótipos

Randal Savino fez um livro-reportagem sobre o processo de transformação das dragsqueens de Mogi das Cruzes e região
Randal Savino fez um livro-reportagem sobre o processo de transformação das dragsqueens de Mogi das Cruzes e região
Foto: Divulgação

Quando decidiu fazer um livro-reportagem sobre dragsqueens na região onde mora para o seu Trabalho de Conclusão de Curso, o jornalista Randal Savino teve ainda mais certeza da necessidade de abordar o tema. Ao falar sobre com uma amiga, ouviu como resposta “Você tem coragem de falar sobre esse tipo de gente?”. Ela, explica o jornalista, confundia dragqueen com travestis em situação de prostituição. “Muita gente ainda não reconhece as drags como expressão de arte. E isso é falta de informação. Então voltei pra casa tendo mais certeza de que deveria fazer o livro”. 

No livro BAM! Explosão da Cultura Drag, ele entrevistou e fotografou artistas em processo de montagem de suas personagens. “Em uma das entrevistas, quando o artista terminou a maquiagem e o processo de transformação ele fechou os olhos e ficou ali, em silência por alguns segundos. Quando abriu os olhos, era outra pessoa. A voz, o jeito de falar, a expressão. Ele realmente incorporou a personagem de sua drag, era como se tivesse duas identidades. Foi muito impactante de ver” contou. 

Randal também fez o experimento. Deu vida a Raveena Manzano “mulher corajosa, sem filtro na lingua e com ar de celebridade, mesmo não sendo uma”, como define. “Nunca mais me montei de novo, porque prefiro ver o processo de fora. É necessário muito entrega para fazer drag. Você se doa, em tudo”, conclui. 

"Usei retalhos para criar a drag queen que salvou minha vida":
Fonte: Redação Nós
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