Conheça Juliana Souza, a advogada por trás da maior sentença por racismo e injúria racial no Brasil
Juliana foi uma das advogadas envolvidas no caso de racismo e injúria contra a Titi, filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank
A trajetória de Juliana Souza, 33, se confunde com a luta por justiça racial no Brasil. Criada na favela Santa Rita, em Osasco, por uma mãe solo que migrou da Bahia para fugir da violência doméstica, ela foi a primeira da família a ingressar no ensino superior. Formada pela PUC-SP e mestre em Direitos Fundamentais, Juliana construiu uma carreira marcada pela defesa de vítimas de racismo e pela promoção da justiça social.
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Seu nome ganhou projeção nacional ao conseguir a maior sentença já aplicada em um caso de racismo e injúria racial no Brasil: a condenação da socialite Dayane Alcântara a mais de oito anos de prisão por ataques contra Titi, filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. A decisão, inédita no país, reforçou sua atuação em um Judiciário que ainda carrega desigualdades estruturais.
“Espero que essa decisão remodele a forma como julgamos casos de racismo, para que a justiça não dependa de conta bancária, CEP ou origem social”, diz Juliana em entrevista à Maria Claire. Um mês após a sentença, ela foi reconhecida pela ONU com o prêmio Mipad, que homenageia as pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo.
Além da advocacia, Juliana fundou o Instituto Desvelando Oris, que oferece suporte jurídico gratuito para vítimas de racismo, além de projetos de educação e cultura para pessoas negras.
Com sede no Jardim Paulistano, bairro nobre de São Paulo, o Instituto Desvelando Oris ocupa um espaço em que pessoas negras raramente estão em posição de liderança. "A escolha desse endereço é social e simbólica", explica.
O instituto trabalha em três frentes: justiça racial, cultura e educação. Oferece programas de capacitação para mulheres e jovens negros, assistência jurídica gratuita para vítimas de racismo e LGBTQfobia, cursos de idiomas, além de um closet solidário para quem precisa de roupas para entrevistas de emprego. Tudo é mantido por doações e parcerias.
"Ao longo da história, mulheres negras como minha mãe foram invisibilizadas. Quero que elas possam desfrutar do reconhecimento em vida", afirma Juliana.
Filha de uma trabalhadora doméstica, Tercília Conceição, ela migrou com a mãe da Bahia para São Paulo quando ainda era bebê, fugindo da violência doméstica. Cresceu em meio à vulnerabilidade, mas sempre com o desejo de transformação. Aos 13 anos, começou a trabalhar como eletricista de manutenção para ajudar nas despesas de casa.
Agora, Juliana pensa em explorar uma nova frente: a da música. "Depois de descobrir o poder da minha voz ao falar, percebi que cantar poderia ser ainda mais transformador", diz. O projeto deve sair ainda este ano.