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Candy Mel: "Falar sobre futuro de pessoas trans é colocar quem inventou a transfobia para resolver o problema"

No Dia da Visibilidade Trans, artista conta que se prepara para retorno da Banda Uó e fala sobre visibilidade e o futuro da comunidade trans

29 jan 2024 - 05h00
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"É muito maluco quando a gente se movimenta sendo LGBTQIA+, principalmente sendo uma travesti preta da periferia de Goiânia", afirma Mel
"É muito maluco quando a gente se movimenta sendo LGBTQIA+, principalmente sendo uma travesti preta da periferia de Goiânia", afirma Mel
Foto: Ivan Erick/Reprodução/Instagram/@melpormel

Celebrado no Brasil há 20 anos, o Dia da Visibilidade Trans tem como objetivo destacar as pautas da comunidade trans e travesti e, aos poucos, figuras como a artista Candy Mel têm expandido cada vez mais as reflexões sobre o tema e caminhado para construir novos caminhos. 

É dela, por exemplo, a curadoria da programação da VII Semana de Visibilidade Trans da Casa 1, um centro de acolhida e cultura LGBTQIAPN+ de São Paulo, que tem como mote “O Futuro Depois da Visibilidade”, que se propõe à "criação de realidades", como gosta de falar. 

"Às vezes a gente fica muito presa na análise da visibilidade, que é real por conta da violência e exclusão e é por isso que coloco o futuro depois da visibilidade, para que a gente possa sonhar e principalmente para flexionar as pessoas cis para pensar após o dia 29. Falar sobre o futuro de pessoas trans é colocar quem inventou a transfobia para resolver o problema", dispara a cantora em um papo com o Terra NÓS

"Quero que [a comunidade trans e travesti] consiga caminhar dentro da pautas, para além das nossas dores. Quero axé, acué e auê, quero sair e voltar de casa com tranquilidade e quero isso para minhas manas e manos. Quero naturalizar tanto a nossa vivência que não precise chamar atenção e que sejamos pessoas transitadas dentro da sociedae", completa ela, mostrando toda sua potência. 

Cantoras trans que estão estourando a bolha Cantoras trans que estão estourando a bolha

Potência é inclusive um termo que descreve com precisão Mel. De discurso afiado, porém afetuoso, e de muito diálogo, a artista, como gosta de ser chamada para não confundir o público e o mercado, acumula saberes e viveres: é cantora, compositora, poetisa, atriz, apresentadora e muito mais. 

Ganhou o público em 2010 quando formou, ao lado dos amigos Davi Sabbag e Mateus Carrilho, a Banda Uó, fenômeno goiano que inovou ao levar para o pop o brega, o sertanejo, o forró e outros ritmos musicais do Brasil. 

A banda entrou em hiato em 2019 e anunciou, agora em 2024, um retorno. "É um momento de resgate do que se perdeu na pandemia. A gente entrou em pausa com a banda no começo do governo Bolsonaro, quando a cultura foi depenada, então esse retorno tem sido importante". 

A contemporaneidade também ajudou na volta. Passados 14 anos, Mel visualiza um mercado muito mais aberto para receber as propostas inovadoras das criações de mais de uma década. "Ensaiando para esse reencontro percebemos que o que fizemos é ainda muito atual. O álbum 'Veneno' poderia ser lançado esse ano, com músicas como 'Sauna' e 'Arregaçada'. A gente estava de olho em um futuro que é o nosso presente hoje".

Ela cita ainda nomes como Pabllo, Anitta e Ludmilla como artistas do pop que expandiram fronteiras e se tornaram importantes inclusive no mercado internacional. "Fico feliz de ver e perceber que, hoje, existe uma estrutura muito maior pro Pop e que não vamos mais cantar em cima da caixa de sapato". 

Capa da revista Billboard na edição de janeiro ao lado das cantoras Pepita e Raquel Virgínia, onde se celebrou pessoas trans com mais de 30 anos, Mel refletiu sobre a importância de sua carreira. "É muito maluco quando a gente se movimenta sendo LGBTQIA+, principalmente sendo uma travesti preta da periferia de Goiânia, que o que a gente faz só para gente, no meu caso a música, toma proporções e ganha um peso político quando chega para o mundo". 

Mel também entende que esse avanço se deu para além da música. "É muito bom ver pessoas trans trabalhando em várias áreas, sendo vistas, a evolução das mídias. E isso é mérito da nossa comunicação. A comunidade trans se fortaleceu, permitiu que criássemos novas narrativas".

Nem mesmo a violência impediu esse crescimento de espaço para a comunidade trans. "Quando a gente pensa numa realidade como a do nosso país, tão violenta, é muito importante a gente ter investido na criação de outra realidade para nós", segue citando ainda os avanços na política institucional como a eleição da deputada federal Erika Hilton e a da sociedade civil organizada como os relatórios e articulações da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). 

E, para seu próprio futuro, os caminhos são prósperos. Além do retorno com a Banda Uó, Mel prepara seu álbum solo, em produção junto de nomes importantes como Fejuca e Navi. "Estou muito animada. Vamos ter muitas colaborações tanto na produção musical quanto em composições e definitivamente vai ser Pop. Fiz muitas experimentações durante os últimos anos e foi importante para entender onde sou boa", celebra.

Fonte: Redação Nós
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