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Após falha em cartão, mãe e filha são constrangidas em loja do Grupo Carrefour

O caso aconteceu em unidade do Atacadão, em Salvador, quando ambas tiveram as compras desembaladas na frente de outros clientes

12 dez 2022 - 12h25
(atualizado às 16h09)
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Imagem mostra fachada de uma unidade do Atacadão, que pertence ao Grupo Carrefour.
Imagem mostra fachada de uma unidade do Atacadão, que pertence ao Grupo Carrefour.
Foto: Divulgação / Alma Preta

Após uma falha no cartão de vale-alimentação, duas mulheres negras denunciam que foram vítimas de constrangimento após terem as compras desembaladas dentro de uma unidade do Atacadão, recém-inaugurada no bairro do Cabula, em Salvador, que pertence ao Grupo Carrefour.

O caso aconteceu no início do mês (3/12), após mãe e filha, identificadas como Maria Bárbara e Amanda Esteves, irem ao atacadista. Ao chegar no local, Amanda se dirigiu a uma funcionária e perguntou se o mercado aceitava o Vale Card, cartão-alimentação que ela e a mãe utilizam para fazer as compras. Após a confirmação, elas fizeram as compras e, antes de passar os produtos no caixa, a atendente também confirmou que o cartão estava sendo aceito.

No entanto, após passar as compras, avaliadas em R$ 576,17, máquina de cartão rejeitou o pagamento e a caixa pediu para que ela se deslocasse ao setor de atendimento para realizar o pagamento, onde ela foi informada que o sistema estava fora do ar e que a loja contava apenas com uma máquina de leitura do cartão.

Ao questionar qual seria a solução do caso, já que se tratava de uma falta de comunicação entre os funcionários da loja, a funcionária do setor de atendimento disse que não poderia fazer nada por ela e, então, ela e a mãe tiveram as compras desembaladas na frente de todos os clientes do mercado e saíram de sacolas vazias do supermercado.

À Alma Preta Jornalismo, Amanda Esteves conta que, além do constrangimento, ela e a mãe também foram vítimas de discriminação racial, já que foram desprezadas e tratadas de forma indiferente pelos funcionários do atacadista do Grupo Carrefour. Amanda também ressalta que a mãe chegou a passar mal por causa da situação.

"Não foram com palavras, mas nós que somos negras sentimos a indiferença, a falta de um mínimo esforço pra tentar resolver um problema que foi causado pela falta de informação dos próprios funcionários. A mulher do atendimento mal olhou pra mim e já me disse que não podia fazer nada por mim, outro funcionário que estava do lado dela, branco, me olhou com desprezo o tempo inteiro e sequer tentou ajudar", comenta Amanda.

Após o caso, as vítimas abriram um boletim de ocorrência e estão sendo acompanhadas por um advogado. Em conversa com a reportagem, o advogado David Miranda, explicou que o caso pode ser tipificado em constrangimento ilegal e venda casada, já que os funcionários não solucionaram o problema causado pelo supermercado e ainda ofereceram o cartão de crédito da empresa como uma das únicas opções para resolver o caso.

"Foram perguntadas várias vezes se o cartão poderia ser utilizado, se o sistema estava tudo correto e foi dito que sim e ao fazer a compra inteira, demorar horas fazendo a compra, os cartões não passaram. Mais uma vez, pode verificar também uma venda casada porque as compras não passaram e eles prontamente se utilizaram da esperteza oferecendo um cartão para ela parcelar. É uma prática totalmente ilegal porque você condiciona a compra de um produto para adquirir outro", explica o advogado.

À Alma Preta Jornalismo, o advogado diz que também há configuração de racismo estrutural, visto o tratamento de negligência com as clientes por parte dos funcionários do mercado, que pertence ao Carrefour.

"Houve uma negligência por parte dos funcionários do supermercado no descaso com a consumidora e isso se agrava pelo fato do racismo estrutural porque o Atacadão é do Carrefour, que tem um histórico de racismo no Brasil", destaca.

Segundo David Miranda, que representa a defesa das vítimas, o ideal seria que o supermercado conduzisse as clientes para um local mais adequado e tentar solucionar o caso, sem a exposição delas.

"A responsabilidade objetiva é da empresa e o funcionário é responsável pela empresa também. Se vários funcionários ratificaram que o cartão estava funcionando, ele deveria estar funcionando e a empresa tem que cumprir a oferta. O fato do cartão não estar funcionando é culpa única e exclusiva da empresa e o consumidor não tem nenhuma gerência sobre isso", completa o advogado.

Posicionamento

A equipe entrou em contato com a assessoria do Atacadão, do Grupo Carrefour, e questionou o motivo do mercado contar com apenas uma máquina de leitura dos cartões de vale-alimentação e qual o tipo de suporte prestado às clientes. Além disso, também perguntamos quais são as orientações repassadas aos funcionários em casos semelhantes e se a unidade conta com ações antirracistas.

Em nota, o Grupo Carrefour informou que lamenta a situação e que após identificar que a operadora do cartão estava fora do ar, acolheram as clientes e ofereceram a opção das mercadorias ficarem reservadas até que o sistema fosse normalizado.

A assesoria também disse que a situação ocorreu por causa de um problema na administradora do cartão e que "asseguramos os melhores padrões de atendimento aos nossos consumidores".

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Alma Preta
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