Honda Civic Type-R: a vingança do esportivo raiz
Quem vê preço não vê coração. Portanto, se os R$ 430 mil que a Honda cobra pelo Type-R te assustam, você não entendeu nada
A Honda não gosta de cobrar barato por seus carros. Às vezes exagera. Mas isso quando falamos de carros convencionais. Quanto o assunto é um esportivo raiz como o Civic Type-R, um carro que é uma espécie de vingança contra alguns CVT chatíssimos, preço não é algo que deve entrar em questão.
O Civic Type-R é uma joia. Rara. No Brasil, raríssima. Portanto, a Honda cobra o que ela quiser e sempre haverá quem pague. O Honda Civic Type-R simplesmente arrasa por onde ele passa. E não é um carro que provoque inveja; causa admiração.
– Parabéns pelo carro!
– Que belo carro, doutor!
– Que máquina, parabéns!
– O senhor tem bom gosto!
São tantos os elogios de quem roda com um Civic Type-R que nem vale a pena ficar explicando que o carro não é uma propriedade e sim uma experiência jornalística, proporcionada pela Honda, que é a verdadeira dona deste modelo azul das fotos, que usamos por alguns dias em estradas paulistas.
Eu já tinha dirigido o Honda Civic Type-R há alguns anos, no Japão. Mas foi numa pista de corridas e com a posição de dirigir do lado direito da cabine, o que significou trocar as marchas com a mão esquerda. Não foi fácil, mas deu para sentir que era um carro divertido.
Seis anos depois da experiência com o Civic Type-R no Japão, eis que a nova geração finalmente roda no Brasil.
O Type-R é a prova de que a Honda, quando quer, saber fazer um carro brilhante. Ele já impacta pela cor azul e pelo design. Muito baixo, sofre em algumas ruas e estradas brasileiras, mas fazer o que? Rodas grandes e pneus de perfil baixo não emocionam mais ninguém, pois até os SUVs estão usando. Elas são de 19” e eles são Michelin Pilot Sport 4S medida 265/30.
Mas os adereços e ajustes de esportividade, ah, esses empolgam. O Honda Civic Type-R tem spoiler dianteiro com passagens de ar, saias laterais e um enorme aerofólio traseiro pintado em preto, para ficar mais firme em curvas de alta velocidade.
Na parte inferior traseira, uma nervosa saída tripla de escapamento – três cornetas centrais que simplesmente humilham os carros convencionais. A suspensão é bem dura, independente, com molas firmes. O carro não absorve quase nada das irregularidades do piso – vai tudo para o tronco, os braços e a cabeça do motorista. E quem liga?
Mas é preciso tomar cuidado. Algumas rodovias têm desníveis em entradas e saídas de pontes que viram verdadeiras rampas de lançamento para o Civic Type-R, dependendo da velocidade. Dá para ajustar o modo de condução para aumentar o conforto, mas mesmo assim o carro é bem duro (como deve ser um bom esportivo).
A direção é firme, direta. O câmbio manual de 6 marchas tem engates precisos e, para dar uma boa ajuda em situações de velocidade, mostra no quadro de instrumentos a marcha que está engatada. A relação de marchas também é feita para jogar o giro do motor lá em cima. As trocas precisam ser rápidas.
Para quem tem agilidade nos pés, as pedaleiras são esportivas. O interior tem tapetes e bancos vermelhos. Nem precisava, mas há um bom espaço atrás e nisso ele é bem melhor do que o Honda Civic Si, que é totalmente claustrofóbico na traseira. O volante de direção é revestido de alcantara e tem costuras vermelhas.
Na era dos esportivos automáticos, que oferecem trocas manuais pela borboleta do volante ou trocas manuais sequenciais, o Civic Type-R novamente aparece como uma resistência do esportivo raiz. Nele, as trocas manuais exigem destreza do motorista (ou piloto): 1ª, 3ª e 5ª para frente, 2ª, 4ª e 6ª para trás; e a ré também para trás, empurrando a alavanca para baixo e depois movimentando-a totalmente para a direita e finalmente para trás.
A posição de dirigir é maravilhosa, pois o volante de direção fica na altura do peito e os bancos são esportivos mesmo, do tipo concha, com cintos de segurança vermelhos. O ronco do motor a combustão 2.0 DI DOHC VTEC Turbo de 297 cv é música para os ouvidos.
O torque é extremamente generoso: são 429 Nm disponíveis de 2.600 a 3.500 rpm. A potência máxima é alcançada a 6.500 giros, e simplesmente não dá para chegar a ela em marchas altas dirigindo nas estradas. É proibido e seria extremamente perigoso. Mas, nas arrancadas, cada vez que o motor se aproxima do limite de giros, luzes amarelas acendem no painel para que o motorista troque de marcha.
O carro é muito no chão. A suspensão dianteira tem duplo eixo com barra estabilizadora. Os amortecedores têm sistema ativo de controle da carroceria. Com 1.451 kg de peso, o Civic Type-R vai de 0 a 100 em menos de 6 segundos e atinge 272 km/h de velocidade máxima. Claro que os freios são poderosos, da marca Brembo, com quatro pistões de alumínio na dianteira e discos ventilados de duas peças com diâmetros de 305 a 350 mm.
Apesar de tudo, por culpa da gasolina brasileira, que utiliza 27% de etanol, o Civic Type-R vendido no Brasil precisou ter um acerto específico e, por isso, ficou abaixo de 300 cavalos. Há versões mundo afora que chegam a 330 cv. Mesmo assim, é um carro de respeito.
Outro detalhe interessante é o Log-R, um painel de instrumentos extra que pode ser visto e manuseado no display central. Por meio dele é possível acessar todos os detalhes do carro, como temperaturas dos fluidos e pressão do turbo, além de um escore particular do motorista-piloto e, para quem se diverte mesmo, o histórico dos tempos de voltas em circuitos fechados.
A multimídia só conecta sem cabo os smartphones iPhone; os Android ainda precisam do “velho” e bom cabo, que não combina muito com outras modernidades do carro. Se os itens do Log-R estivessem em reloginhos expostos no painel, como antigamente, o cabo seria aceitável. Mas este é um detalhe de somenos.
O Honda Civic Type-R custa R$ 429.900 aqui no Brasil. É um carro exclusivo, para se divertir. E se você ainda está fazendo contas, certamente não entendeu o espírito da coisa.
Notas
Desempenho - 10 (ótimo)
Consumo - 5 (bom)
Dirigibilidade - 10 (ótimo)
Conforto - 8 (muito bom)
Usabilidade - 7 (muito bom)
Conectividade - 9 (ótimo)
MÉDIA - 8,2 (MUITO BOM)
Dimensões
Comprimento: 4,598 m
Altura: 1,407 m
Largura: 1,890 m
Entre eixos: 2,735 m
Peso: 1.451 kg
Porta-malas: 337 litros
Tanque: 47 litros
Km/l cidade: 8,8 (g)
Km/l estrada: 11,1 (g)