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Flávio Silveira: motos também poluem, infernizam e matam no trânsito urbano

Imprudência e uberização dos entregadores causam tragédias e têm impacto no sistema de saúde. Muitas motos não respeitam leis de trânsito

23 jun 2025 - 13h08
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Há quatro anos, eu saía de um restaurante em Perdizes, na capital paulista, quando meu filho de, 4 anos, correu em direção à calçada. Uma moto avançava em alta velocidade por cima dela, e quase o atropelou. Por sorte, foi só um susto.

Quatro anos depois, imagens de uma câmera de trânsito de Belo Horizonte mostram um menino de 4 anos ser atropelado por uma motocicleta na frente do pai. Ambos estavam na faixa de pedestres, com total visibilidade da rua, mas a moto veio na contramão, e bem rápido. Por sorte, a criança sobreviveu.

Bastam 15 minutos nos bairros de classe média de São Paulo, de preferência em horário de almoço ou jantar, para ver que já virou regra: muitas motos não respeitam leis de trânsito.

Elas circulam em calçadas, faixas de pedestres, “no corredor” em velocidades absurdas; não respeitam semáforos, andam em sentido e local proibidos; abrem caminho na buzina e não deixam os carros mudarem de faixa. Xingam, ofendem, ameaçam. Há até quem parou de guiar na cidade por causa delas, tamanho o estresse que causam.

Na capital paulista, mais de 40 mil pessoas foram internadas só nos primeiros cinco meses de 2025, e isso apenas em hospitais públicos, vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motos.

Em quase três quartos dos municípios brasileiros (71%), os acidentes de trânsito matam mais do que as armas de fogo – e a chance de morrer em um acidente de moto é 17 vezes maior do que em um acidente de automóvel.

Em 2024, as internações envolvendo motociclistas custaram ao SUS, o Sistema Único de Saúde, mais de R$ 257 milhões.

Claro que temos os culpados de sempre – a imprudência, o álcool, etc. –, e a fiscalização insuficiente também tem peso importante no problema, mas há também outras causas, mais contemporâneas.

Primeiro, e talvez principalmente, com as empresas de entrega de comida operando forte nas grandes cidades, para os motoboys e entregadores, cada segundo conta.

Seguindo a lógica da uberização do trabalho, o motoqueiro recebe por entrega, e é tudo que ele tem. Não há um pagamento básico ou fixo, nem por tempo de espera – e esperar pela luz verde ou fazer a conversão no local certo sempre vai levar mais tempo do que seguir a lei.

Seria mais justo com os entregadores, porém obviamente menos lucrativo para eles, que o pagamento considerasse outros fatores e não deixasse a cargo do motoqueiro ganhar cada segundo para ganhar mais alguns reais no fim do dia.

Mas, para as big techs das entregas, o negócio é a tecnologia do app. Meios e responsabilidades (ou a total falta deles) são dos próprios motoristas/entregadores.

Assim, ninguém é treinado devidamente, e, como só interessa às empresas que as entregas sejam feitas, e não como são feitas, elas não têm a mínima responsabilidade. Não controlam nem sequer o estado das motos que são usadas nas entregas.

Isso nos leva a outro grave problema, com custos e dramas mais ocultos, porém não menos graves: a poluição ambiental causada pelas motos. Elas já são mais poluentes do que os carros em condições ideais, e o que vemos por aí é um número assustadoramente crescente de motos com escapes modificados.

Além de não terem catalisador adequado, e poluírem muito mais o ar, o “legal” é justamente que elas tenham escapes modificados e sejam o mais barulhentas possível – porque chamam a atenção, porque “impõe respeito”... vai entender. Então, mesmo as ruas mais tranquilas, nos picos das entregas, tornam-se extremamente ruidosas. 

Empresas que contratam motoqueiros “independentes” para fazer as entregas deveriam ser obrigadas a fazer uma inspeção periódica nas motos dos “subcontratados”, de modo a garantir a boa realização do serviço que, no contato com o consumidor, quem oferece são as próprias empresas, e não os entregadores.

Elas podem implantar uma espécie de tacômetro via app, pra coibir o excesso de velocidade, calcular o pagamento com uma equação que deixe os entregadores desesperados por ganhar cada segundo, entre outras medidas para acabar com essa loucura nas ruas. E, se não for pedir demais, poderiam implantar frotas de motos elétricas.

E obviamente é fundamental que os órgãos responsáveis pela fiscalização de trânsito também assumam sua parte da responsabilidade. Se não há multa – e apreensão, nos casos das motos barulhentas – não há respeito nem ordem. Já passou da hora das empresas de entregas – e dos órgãos de trânsito – se responsabilizarem.

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