Como as montadoras da China reorganizam o mercado automotivo no Brasil
Em artigo publicado na Bright Consulting, Oswaldo Ramos, ex-diretor da GWM, diz que ecossistema chinês reúne 65 marcas em 16 grupos
O avanço das montadoras chinesas no Brasil deixou de ser uma tendência para se tornar um movimento estruturado. A afirmação é do consultor Oswaldo Ramos, ex-diretor da GWM Brasil, em artigo publicado no boletim da Bright Consulting. O setor convive hoje com a chegada rápida de diversas marcas e grupos industriais da China, fenômeno que, segundo ele, vem mudando a dinâmica de preços, tecnologia e ritmo de eletrificação no mercado brasileiro.
Origem das empresas e estrutura dos conglomerados
Oswaldo Ramos destaca que a percepção de caos sobre a indústria chinesa não corresponde à realidade: “Fala-se que na China são mais de cem, algumas com nomes impronunciáveis – e uma multidão de SUVs elétricos, muito parecidos entre si. Na prática, o cenário é menos caótico do que parece”.
O primeiro ponto para compreender o movimento chinês no Brasil é entender a natureza dos grupos automotivos. Ramos observa que o país opera com dois grandes blocos: empresas estatais e empresas privadas de capital aberto. Em suas palavras, “a primeira distinção essencial está na origem das empresas”, o que determina o modelo de negócios, a estratégia de expansão e o apetite por investimento global.
Essas corporações organizam suas operações de forma distinta do modelo ocidental. Segundo Ramos, “é menos comum ter uma marca-mãe com produtos como filhotes diretos dessa marca”. Portanto, cada conglomerado controla diversas marcas dedicadas a segmentos específicos – SUVs, picapes, sedãs ou veículos eletrificados.
“Os 16 principais grupos automotivos chineses somam cerca de 65 marcas, que compartilham tecnologia, componentes e infraestrutura – atuando de forma complementar, e não concorrente”, explia Oswaldo Ramos. Em sua colaboração com a Bright, ele aponta quatro blocos de atuação na China:
- Gigantes nacionais – Conglomerados com grande escala, responsáveis pelo salto global da China em eletrificação e exportação. Aqui se insere a BYD.
- Empresas médias – Estatais regionais com forte presença doméstica, tendência a fusões e compartilhamento de plataformas. A GAC é um exemplo.
- Startups tecnológicas – Companhias focadas em software, eletrificação e inovação rápida. É o caso da Xpeng, que vem influenciando marcas ocidentais.
- Empresas pequenas e periféricas – Grupos com pouca escala e atuação local. São os que mais podem desaparecer, embora tenham baixa relevância internacional.
A diversificação e a velocidade de desenvolvimento dessas empresas aceleram a transição tecnológica local. Como resume o autor, “a única coisa igual entre os chineses é a velocidade com que se reinventam”. No Brasil, a entrada desses grupos tem provocado:
- maior competição entre SUVs, sedans e elétricos;
- redução imediata de preços em nichos antes pouco concorridos;
- avanço da eletrificação em faixas de preço inéditas no país;
- reorganização estratégica de montadoras tradicionais.
O que vem pela frente com tantas chinesas no Brasil
Oswaldo Ramos – que também já atuou na área de marketing de montadoras como Ford e Peugeot – observa que a questão central, agora, é entender quais grupos e quais marcas têm estratégia consistente para permanecer no mercado brasileiro no horizonte de 5 e 10 anos, e quais tendem a recuar. É por isso, por exemplo, que o Guia do Carro tem diferenciado grupos de marcas, inclusive no Prêmio Trend Car.
Oswaldo Ramos encerra seu artigo com um convite: “Quer conhecer melhor sobre as marcas chinesas, seus posicionamentos de mercado e quem continuará por aqui num horizonte de 5 e 10 anos?” Em seguida aparece no link para um novo projeto que será lançado pela Bright Consulting: a nova rota da mobilidade.