Chevrolet 100% elétrica? Saiba como a BYD pode ajudar a GM
Ao contrário da maioria das montadoras, GM faz aposta ousada e quer a Chevrolet 100% elétrica no Brasil. E a BYD pode ser decisiva nisso
Um movimento da GM em direção a uma Chevrolet 100% elétrica no Brasil surpreendeu a Anfavea e outras montadoras. Parecia haver um consenso de que o Brasil não será capaz de ter um mercado de carros elétricos robusto até o meio ou final da próxima década. A saída seria investir em carros híbridos com etanol. Mas a GM disse: estamos fora!
Executivos da General Motors brasileira tentaram convencer Detroit que a proposta do etanol poderia ser uma boa solução para o Brasil. Mas não teve conversa. A Chevrolet será 100% elétrica também no Brasil. Se o país não tiver condições de comprar um grande volume de carros elétricos a partir de 2039, então não poderá contar com a GM.
Por óbvio, ninguém falou que a GM vai virar uma Ford, apenas importando carros. Mas ficou implícito. Porém, isso seria num cenário pessimista, que é o adotado pelas montadoras que compraram a ideia do carro híbrido a etanol como uma boa solução intermediária para a descarbonização.
Acontece que os últimos acontecimentos parecem estar dando razão à GM. Segundo uma fonte da General Motors, a empresa não aposta apenas em si própria para projetar uma Chevrolet 100% elétrica no Brasil em algum momento entre 2035 e 2039. Ela também aposta no movimento de outras empresas.
A boa notícia para a GM é que a chinesa BYD – líder na venda de carros elétricos na China – entrou com tudo na Aliança pela Mobilidade Sustentável, criada pela 99. A 99 pertence à empresa chinesa DiDi Chuxing, maior empresa de mobilidade do mundo (maior do que a Uber). Outra montadora envolvida na Aliança é a Caoa Chery.
Os planos da 99 e da BYD para o segmento de carros elétricos no Brasil é ousado. A meta é aumentar a participação dos veículos elétricos entre carros novos para 10% das vendas até 2025 (hoje em 2%), criar 10 mil estações públicas de carregamento em todo o Brasil até 2025 (atualmente existem cerca de 1.500), zerar a emissão de carbono pela 99 até 2030, colocar em circulação 300 automóveis elétricos da 99 ainda esse ano e chegar a 10 mil até 2025.
É muito carro. E junto com esses carros virá uma cultura de desmistificação e aceitação do carro elétrico. Só no programa de motoristas parceiros da 99 haverá um investimento de R$ 250 milhões nos próximos três anos, sendo R$100 milhões somente em 2022.
Além da 99, da BYD e da Caoa Chery, estão envolvidas neste projeto as empresas Ipiranga, Movida, Unidas, Raízen, Tupinambá Energia e Zletric.
O que a GM ganha com isso? Tudo. Quanto mais cedo se formar um mercado de veículos 100% elétricos no Brasil, mais fácil será implantar uma Chevrolet 100% elétrica. A parte da GM nem será a mais importante, pois no momento ela se concentra em oferecer uma frota diversificada dos Chevrolet EV. Já foram anunciados o Bolt EV, o Bolt EUV, o Blazer EV e o Equinox EV. Em breve haverá o anúncio da picape Silverado EV.
Outro movimento ainda mal explicado foi a transferência do CEO da Volkswagen América do Sul, Pablo Di Si, para implantar uma Volkswagen 100% elétrica nos Estados Unidos. Pablo Di Si era o maior entusiasta da solução do etanol, tanto que conseguiu de Wolfsburg (Alemanha) o sinal verde para investir num programa global de motores a combustão “ecológicos”.
Até onde a saída de Pablo Di Si afeta este programa? Por enquanto, ninguém sabe. Por enquanto, a BYD ainda tem uma operação pequena no Brasil. Mas já colocou o modelo D1 EV, que teve 100 mil unidades produzidas no ano passado, à venda no país.
O BYD D1 EV foi criado para ser um táxi, com soluções especiais de mobilidade, tem um motor elétrico de 100 kW de potência (136 cv) e sua bateria de 53 kWh permite uma autonomia urbana de 371 km. O tempo de recarga rápida da bateria é de 35 minutos até 80% do total.
O BYD D1 EV será comercializado preferencialmente por intermédio de venda direta (B2B), com preço público sugerido de R$ 269.990.
Embora não tenha sido combinado, a BYD pode ser a grande chave do sucesso do plano da GM de implantar uma Chevrolet 100% elétrica no Brasil. Fato é que o segmento de EVs tem crescido rapidamente no Brasil e talvez a GM esteja certa em não querer se envolver no projeto de descarbonização com etanol.