Hideo Kojima fez 62 anos e promete continuar criando ‘enquanto viver’
Da furtividade à ficção científica: a jornada de um dos maiores autores dos games
"Pretendo continuar criando coisas enquanto viver". A frase, dita por Hideo Kojima no dia em que completou 62 anos de vida, neste último domingo, 24 de agosto, não soa como exagero, mas como uma promessa.
O lendário game designer japonês reafirmou sua condição de autor incansável e mostra que o tempo não diminuiu em nada sua criatividade. Se nos cinemas nomes como Quentin Tarantino ou David Lynch são reverenciados como artistas com estilo único, no mundo dos games essa cadeira é ocupada por Kojima, que há décadas transforma códigos e pixels em narrativas inesquecíveis, mas com uma dose de excentricidade e surrealismo ainda maior.
Seu aniversário é o gatilho perfeito para revisitar a jornada do mestre da narrativa nos games.
O arquiteto de mundos conflitantes
Nos anos 80, quando ainda buscava seu espaço na Konami, um jovem Kojima já demonstrava inquietação criativa. Em 1987, apresentou Metal Gear, um jogo que introduziu o gênero furtivo ao mundo e abriu caminho para uma das franquias mais influentes da indústria.
Logo depois, com Snatcher (1988) e Policenauts (1994), mostrou que seu olhar estava voltado para além dos videogames, trazendo elementos de cinema, ficção científica e narrativas policiais complexas para os padrões dos games da época.
Mas a fama mundial veio mesmo em 1998, com Metal Gear Solid no PlayStation, transformando o nome Kojima em sinônimo de inovação. Cada lançamento da série se tornava um evento global, misturando espionagem, filosofia e política em tramas tão ousadas que rivalizavam com blockbusters de Hollywood — sempre temperados pela marca registrada do criador: o humor excêntrico e a surrealidade que só um gênio ousaria inserir no meio da tensão.
Kojima encerrou seu trabalho com MGS, que hoje é uma franquia que pertence apenas à Konami, mas quem estiver curioso em conhecer a série, vale a pena dar uma conferida em Metal Gear Solid Delta: Snake Eater, remake de Metal Gear Solid 3, lançado originalmente em 2004 para o PlayStation 2 e idealizado por um ainda funcionário Hideo Kojima.
Death Stranding e uma nova era
Desde sua saída polêmica e turbulenta da Konami em 2015, Kojima provou que ainda tinha muito a mostrar. Por meio do seu estúdio, a Kojima Productions, lançou o primeiro projeto dessa nova era, Death Stranding (2019), o jogo do "simulador de carteiro" que dividiu opiniões, mas que consolidou sua fama de "visionário fora da curva", disposto a quebrar as regras em favor de uma visão artística única.
A sequência, Death Stranding 2, que foi lançada recentemente no PlayStation 5, conseguiu expandir ainda mais esse universo excêntrico e a jornada do "carteiro" Sam Porter Bridges, interpretado por Norman Reedus (The Walking Dead), e mostrando que o estúdio Kojima Productions veio para ficar.
Kojima e Hollywood: uma relação de mão dupla
Se em seus primeiros jogos Kojima apenas homenageava o cinema com referências e inspirações, hoje ele está completamente inserido no universo de Hollywood. Em Death Stranding, reuniu um elenco digno de um grande filme: além de Norman Reedus, estão presentes nomes como Mads Mikkelsen (Hannibal), Léa Seydoux (Bastardos Inglórios, 007: Sem Tempo para Morrer), Lindsay Wagner (A Mulher Biônica), entre outros.
Sua proximidade com cineastas também é notória, começando com Guillermo del Toro (Círculo de Fogo) e passando por Nicolas Winding Refn (Drive) e George Miller (Mad Max), que emprestaram suas aparências para personagens icônicos em Death Stranding.
Não é raro ver celebridades visitando o estúdio Kojima Productions e posando para fotos em seu famoso sofá de couro preto — quase um ponto turístico da indústria dos games.
Essa ponte entre jogos e cinema fez de Kojima uma figura única: ele não apenas bebe da fonte de Hollywood, mas também devolve algo de novo, mostrando que os games podem dialogar em pé de igualdade com o cinema.
O futuro: horror e Jordan Peele
Com 62 anos, Kojima mostra-se mais ativo do que nunca, com projetos que prometem levar sua criatividade a novos limites. Após o lançamento de Death Stranding 2, Kojima atualmente trabalha em parceria com a Microsoft em "OD", um projeto envolto em mistério, descrito como algo inédito na forma de unir interatividade, terror e cinema - ou, como o próprio criador sugere, provocar uma “overdose de medo”.
A colaboração neste novo projeto conta ainda com Jordan Peele, o aclamado diretor dos filmes Corra!, Nós e Não! Não Olhe!, que só reforça o quanto Kojima está determinado a cruzar ainda mais as fronteiras entre games e a sétima arte.
O elenco do game já conta com alguns grandes nomes de Hollywood, como Sophia Lillis (Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes), Hunter Schafer (Euphoria) e o veterano Udo Kier (Carne para Frankenstein). Ainda não há previsão de lançamento, mas já está claro que se trata de um dos projetos mais ousados da carreira do game designer.
O legado de um visionário incansável
Chegar aos 62 anos com energia para mais uma década de experimentações não é para qualquer um. Se muitos criadores desaceleram com o tempo, Kojima parece estar apenas esquentando para sua fase mais ousada. Seu legado já está garantido — Metal Gear definiu gêneros, Death Stranding redefiniu a narrativa e OD promete mudar de vez como entendemos a fusão entre cinema e games.
A pergunta agora não é se Kojima vai continuar inovando, mas até onde ele será capaz de levar os games como meio artístico. Como o próprio disse, ele vai criar até viver. E para os fãs, isso significa que ainda há muito terreno desconhecido esperando para ser explorado e que é melhor se preparar para as próximas "bizarrices" desse gênio inconfundível.