38 anos de Metal Gear: o clássico do MSX que lançou Hideo Kojima ao estrelato
Muito antes de Metal Gear Solid virar febre no PlayStation, Kojima já mostrava que se esconder podia ser mais interessante do que atirar
Em julho de 1987, um jogo lançado discretamente para o computador MSX2 no Japão mudaria para sempre o curso da história dos videogames. Metal Gear, desenvolvido pela Konami e idealizado por um jovem game designer chamado Hideo Kojima, não apenas introduziu conceitos inéditos para a época, como também marcou o nascimento de uma das franquias mais influentes e reverenciadas da indústria.
Naquela época, a maioria dos jogos era focada em ação frenética e combates diretos, com os protagonistas resolvendo tudo na base da porrada ou tiros. Metal Gear chegou para desafiar esse padrão ao colocar a furtividade como um elemento fundamental da jogabilidade.
Os jogadores assumiam o controle de Solid Snake, um agente de elite novato encarregado de se infiltrar na fortaleza militar Outer Heaven, auxiliado via rádio por seu comandante Big Boss, e com a missão de destruir o Metal Gear, um tanque bípede com armas nucleares. A grande sacada que Kojima teve foi a de não fazer de Snake um super-herói invencível, com o combate frontal muitas vezes sendo a pior estratégia.
O jogador era encorajado a evitar confrontos e usar a furtividade como sua principal arma. Esconder-se de inimigos, desativar câmeras, usar disfarces e evitar confrontos diretos eram cruciais para o sucesso das missões. Essa ênfase na discrição e na estratégia era revolucionária para a época, e pavimentou o caminho para o que hoje conhecemos como o gênero stealth, ou furtivo.
Surgiu por causa das limitações do MSX2
Hideo Kojima não foi o criador original de Metal Gear. Ele entrou no projeto após ser designado por um colega mais experiente da Konami, numa fase em que o jogo ainda era pensado como um título de ação militar convencional. A ideia inicial era simples: um jogo de tiro com temática de guerra moderna, no estilo dos populares arcades da época.
Mas havia um problema: o hardware do MSX2. Com sérias limitações técnicas, o MSX2 não permitia que muitos inimigos ou projéteis fossem exibidos simultaneamente na tela. Além disso, sua rolagem de tela era lenta e truncada, dificultando qualquer tentativa de emular a fluidez de um arcade. Para muitos, essas restrições significavam um fracasso anunciado.
Mas ao invés de abandonar o projeto, Kojima propôs uma reviravolta: transformar a fraqueza do sistema em base para uma nova abordagem de jogabilidade. Se não era possível encher a tela de tiros e inimigos, que tal fazer o jogador evitá-los? Assim surgiu a espinha dorsal de Metal Gear: a furtividade. Não mais correr e atirar, mas se esconder, observar, escolher o momento certo para agir - ou não agir.
Narrativa complexa
Além da jogabilidade inovadora, Metal Gear também se destacou pela sua narrativa complexa e imersiva. Embora limitado pelas capacidades técnicas do MSX2, Kojima, um grande fã do cinema de Hollywood, conseguiu tecer uma trama intrigante, cheia de reviravoltas e personagens memoráveis. As comunicações via rádio com diversos personagens, cada um com sua personalidade e função, contribuíam para a profundidade do universo do jogo, algo incomum em 1987.
O sucesso desse primeiro Metal Gear no MSX não apenas solidificou a reputação da Konami no mercado, mas também garantiu uma sequência direta, Metal Gear 2: Solid Snake (1990), e lançou o nome de Hideo Kojima ao estrelato no Japão. Sua visão única e sua paixão por contar histórias de forma interativa se tornaram sua marca registrada.
Nos anos seguintes Kojima trabalhou em outros projetos e só voltaria para Metal Gear em 1998, com o lançamento do icônico Metal Gear Solid para o PSOne. Mantendo a jogabilidade de furtividade, mas explorando uma ambientação 3D e uma narrativa cinematográfica, o jogo se tornou um sucesso gigantesco, e Hideo Kojima se tornou famoso no mundo inteiro e uma figura cultuada na indústria de games.
E vale lembrar: apesar de Metal Gear do MSX2 ser o primeiro lançamento da série, cronologicamente ele está situado no meio da história que envolve todos os jogos lançados, incluindo os de PlayStation, com os títulos Metal Gear Solid 3: Snake Eater (2004), Metal Gear Solid: Peace Walker (2010), Metal Gear Solid V: Ground Zeroes (20141) e Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (2015) situados antes dele.
Legado de Metal Gear
Hoje, 38 anos depois, Metal Gear continua sendo uma referência. O jogo original do MSX pode parecer simples para os padrões atuais, mas sua importância histórica é inegável.
Ele foi a semente de uma das franquias mais influentes e celebradas da história dos videogames, e o ponto de partida para a carreira brilhante de Hideo Kojima, um verdadeiro gênio excêntrico no mundo digital.
O legado de furtividade, narrativa profunda e inovação que Metal Gear estabeleceu em 1987 ecoam até hoje, inspirando incontáveis desenvolvedores e cativando novas gerações de jogadores, inclusive presentes no trabalho mais recente de Kojima: Death Stranding 2.