Keeper entrega aventura sensível e criativa digna da Double Fine
Jogo reforça o talento do estúdio em fornecer experiências diferenciadas
A Double Fine é conhecida por seguir caminhos fora da curva. Desde Psychonauts até Broken Age, o estúdio sempre preferiu contar histórias de forma inusitada, brincando com o bizarro e o emocional em igual medida. Keeper mantém essa tradição, mas troca o humor excêntrico por uma jornada mais contemplativa, com foco na amizade improvável entre um farol adormecido e uma ave curiosa.
O resultado é um jogo que conquista pela atmosfera e pelo cuidado em cada detalhe visual e sonoro. Mesmo sem falas, ele consegue transmitir emoção e significado, provando que a Double Fine continua entre os estúdios mais criativos da atualidade.
Uma amizade inusitada
Em Keeper, acompanhamos a história de um farol que desperta após um misterioso incidente que ameaça a ilha onde estava adormecido. Seu despertar é causado por pequenas criaturas e por Ramo, uma ave marítima que passa a acompanhá-lo na jornada para desvendar os segredos daquele lugar e enfrentar os desafios que surgem pelo caminho.
A trama segue o estilo de aventura silenciosa, no qual o mundo e os acontecimentos ditam o ritmo da narrativa, lembrando títulos como Limbo e Inside. Apesar do silêncio ser apenas a ausência de diálogos, a trilha sonora e o design de som compensam com excelência, com composições de alta qualidade que dão vida a cada cenário. O vínculo entre o farol e Ramo é outro ponto forte, uma amizade improvável, mas construída de forma natural e cativante. Ver os dois superando obstáculos e se comunicando apenas por gestos e ações é uma das coisas mais gratificantes do jogo, um trabalho notável da Double Fine.
No início, o farol pode parecer meio desengonçado de controlar, mas novas habilidades vão sendo liberadas com o tempo. Sua luz, por exemplo, é o principal recurso do jogo, usada para iluminar caminhos, florescer plantas e fazer árvores crescerem, além de ser essencial para resolver alguns quebra-cabeças.
Outra habilidade é a investida, que serve para destruir obstáculos e abrir novas passagens. O que mais diverte nesse processo é ver como o cenário reage ao impacto do personagem, galhos, cercas antigas e pequenas construções se despedaçam quando o farol esbarra nelas, dando uma sensação divertida de peso e presença no mundo.
Ramo também tem papel importante na jogabilidade. Embora passe boa parte do tempo empoleirado no farol, ele pode interagir com o ambiente, pegando manivelas, frutas e resolvendo pequenos enigmas que exigem mais precisão. Em vários momentos, é ele quem completa as ações iniciadas pelo farol, o que reforça o espírito de cooperação entre os dois.
O foco principal do jogo está nos quebra-cabeças, que variam entre simples interações e desafios mais criativos, como um em que é possível manipular o tempo — algo que lembra Prince of Persia, rebobinando eventos até um ponto em que Ramo retorna a ser um ovo, ou virando uma pilha de ossos e se torna um fantasma. Mesmo assim, senti que o jogo poderia ter sido mais ousado nessas partes, já que boa parte da aventura é focada em seguir em frente contemplando os cenários, sem exigir muito raciocínio.
A exploração também acaba sendo limitada. Faltam incentivos para procurar segredos ou entender mais sobre o mundo, servindo mais como um complemento para quem quer conquistar 100% do jogo do que para aprofundar a experiência narrativa.
Mas o que realmente impressiona em Keeper é a direção de arte. Os cenários são belíssimos e variam entre o estranho e o encantador, com criaturas que parecem árvores vivas, pequenas cidades movidas por engrenagens antigas e paisagens que misturam um tom fantasioso. O uso inteligente da câmera, que se ajusta automaticamente para destacar cada nova área, garante momentos visuais marcantes. Uma solução elegante para um jogo que não permite controlar o enquadramento e ainda assim consegue causar impacto a cada nova descoberta.
Considerações
Keeper é um daqueles títulos que lembram por que ainda vale a pena se deixar levar por experiências autorais. Apesar de a exploração ser simples e os quebra-cabeças não exigirem muito, o jogo se sustenta pela sua sensibilidade, direção de arte encantadora e o vínculo entre seus protagonistas. É mais uma prova de que a Double Fine entende como transformar pequenas ideias em algo memorável.
Keeper esta disponível para PC e Xbox Series, podendo ser jogado também via Game Pass.
Esta analise foi feita no Xbox Series S por meio do acesso ao jogo que o Game Pass oferece.