Pernambucano relembra desmaio no Ironman no Havaí e revela que ganhou 1ª bicicleta só aos 18 anos
Bonieck Clemente revela trajetória, rotina e superações que o conduziram às principais provas do triatlo mundial
Bonieck Clemente, triatleta brasileiro de 44 anos e personal trainer, se prepara para disputar o Ironman em Aracaju, conciliando sua rotina de treinos intensos e alimentação equilibrada com a vida profissional, enquanto reflete sobre os altos e baixos de sua trajetória no esporte.
Bonieck Clemente é um atleta brasileiro de 44 anos que descobriu o amor pelo esporte na natação. Natural do Recife (PE), ele conta que sempre gostou das provas mais longas e que chegou a participar de maratonas aquáticas e travessias no início da sua trajetória como atleta, ainda na adolescência.
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O gosto por provas longas levou Clemente às competições de Aquathlon, modalidade que reúne natação e corrida na mesma prova. Com isso, novos amigos surgiram e, junto deles, o incentivo para experimentar o triatlo.
“Eu consegui me destacar e fazer novas amizades. E aí a pessoa falava: ‘Ah, você tem jeito para o triatlo, vamos fazer triatlo’”, contou o atleta.
No entanto, Clemente tinha um problema: as provas de triatlo envolviam natação, corrida e ciclismo, mas ele não tinha uma bicicleta. Foi apenas no seu aniversário de 18 anos que ganhou a primeira, de presente do pai. De lá para cá, já são 22 anos como triatleta.
Rotina de treino e alimentação de um triatleta
Às vésperas de disputar a etapa de Aracaju do Ironman 70.3, competição de longa distância que soma 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42,2 km de corrida, Clemente explica que precisa conciliar os treinos com a vida profissional, já que também é personal trainer. Por isso, costuma se dedicar de duas a três horas por dia aos treinos, uma hora, em média, para cada modalidade.
O triatleta destaca que, embora não tenha a rotina de um atleta profissional, é formado em Educação Física, o que lhe garante maior conhecimento sobre o próprio corpo. Além disso, sempre acaba treinando com seus alunos, momentos que complementam o seu treino individual.
“Eu pratico ou treino, dedicando uma hora para cada modalidade, em média, por dia. Mas isso não tem folga, é de domingo a domingo, todos os dias”, contou.
No triatlo, cada prova é única e o ambiente define a preparação. Competições em locais frios exigem estratégias diferentes das realizadas em lugares mais quentes, por exemplo.
“Se tem subida, se o percurso é plano, se a natação é na praia com água salgada, se a natação é na água doce. A gente estuda os ambientes em que a gente vai competir para poder simular nos treinos, para que na prova ocorra tudo bem”, explicou.
Além dos treinos intensos, um triatleta precisa manter o corpo bem nutrido. Ou seja: mesmo com o alto gasto calórico, a alimentação saudável continua sendo indispensável. Clemente admite, no entanto, que o doce é seu principal “escorregão” na dieta.
“Eu tento me alimentar da maneira mais saudável possível, com legumes, salada, cereais, tudo aquilo que o esporte demanda. Eu tenho poucos escorregões, mas eu gosto um pouco de doces e, talvez, isso seja o motivo maior dos meus escorregões”, revelou.
Em provas de longa duração, o corpo precisa estar bem alimentado e preparado para os desafios. Clemente diz que até mesmo o clima interfere na refeição do atleta.
“Hoje em dia, o que está diferenciando mais um atleta de outro em um pódio é a questão da suplementação, que é o quesito que tem evoluído mais nos últimos anos. Quem suplementar melhor vai conseguir usufruir melhor do seu corpo, seu corpo vai lhe ofertar mais energia e a pessoa vai ter uma vantagem nisso”, afirmou.
Como sobreviver a um triatlo
O triatlo é uma competição extremamente desafiadora, que une três esportes e é considerada um teste de resistência física e mental. Muitas vezes, a principal disputa do atleta é com o próprio corpo.
Clemente revelou que a prova mais difícil da qual participou foi o Ironman do Havaí, quando não conseguiu concluir a disputa: “Eu estava muito bem fisicamente, mas negligenciei alguns fatores de hidratação e suplementação durante a parte do ciclismo, porque eu estava focado em fazer um determinado tempo. Cada vez que eu pedalava, que eu olhava no relógio, via na minha previsão que era possível alcançar o que eu tinha treinado. Então, foquei tanto nisso que negligenciei os pontos importantes, que eram cuidar do meu corpo”, contou.
O atleta pernambucano desmaiou no quilômetro 16 da maratona, depois de concluir a natação e o ciclismo. “Eu paguei um preço muito caro. Então, para mim, foi a prova mais difícil, porque apesar de ser competitivo, de querer sempre vencer, eu gosto muito de cruzar a linha de chegada.”
Clemente já participou do Ironman do Havaí cinco vezes e, apenas em uma delas, não conseguiu cruzar a linha de chegada. Quando o cansaço e o desânimo aparecem, ele diz pensar nas pessoas que torcem por ele.
“As minhas raízes, os alunos que me patrocinam, meus familiares que me acompanham, que veem minha luta no dia a dia, que sabem o quanto o triatlo é importante para mim. Então, o esporte de endurance tem muitos altos e baixos, não só físicos, mas psicológicos também”, recordou.
A família ganha uma importância ainda maior. “É como se eu olhasse para a torcida e enxergasse que era tudo para mim, assim. Eu acho que me sinto mais forte quando eles estão presentes. É como se eu me tornasse fortificado com a presença, com a voz de cada um, com o incentivo de cada um.”
A lesão como maior adversário de um atleta
Em 22 anos de triatlo, era inevitável que surgissem dificuldades. Clemente contou que sofreu duas lesões que o afastaram das provas por algum tempo: uma no joelho direito e outra no esquerdo. A primeira aconteceu em 2010, enquanto a segunda surgiu dez anos depois.
Na primeira, precisou passar um ano fazendo aplicações no joelho. Ele havia se classificado para o Mundial, mas estava lesionado e só pôde fazer a cirurgia após a competição. Foi um ano difícil, em que não pôde treinar corrida como gostaria, mas ele afirma que as lesões o tornaram mais conservador, sempre buscando reduzir o risco de novos problemas.
“A lesão é o adversário mais difícil que o atleta pode ter. Porque ela te impossibilita de melhorar a sua performance. Então, a luta não é contra ninguém, ela é contra o seu corpo”, afirmou.
Viver de triatlo ou viver para o triatlo?
Bonieck Clemente revela que não tem como abandonar a carreira de personal trainer e que não conseguiria viver apenas do esporte: é necessário trabalhar para sustentar a carreira. “Uma bicicleta em média, para você competir o triatlo, pode custar de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Tem bicicletas até de R$ 200 mil”, revelou.
Ele lembra que já recebeu a Bolsa-Atleta do Estado de Sergipe e participou de outros programas de auxílio, além de contar com patrocínio privado. Segundo ele, são esses apoios que permitem que atletas consigam viver para o triatlo. “Viver diretamente de ganhos do esporte, de premiações: isso no triatlo não existe. Nem mesmo os atletas profissionais conseguem viver de premiação do triatlo”, reforçou.
Ao longo da carreira, Clemente já visitou diversos lugares e acumulou muitas experiências. Foram cinco viagens ao Havaí, duas à Flórida e três ao México. Ele também esteve na Argentina e, mais recentemente, na Nova Zelândia. E decretou: “Não existe viagem ruim”, mas o Havaí é “inacreditável”.
Neste domingo, 30, Bonieck Clemente estará em Aracaju (SE) para a última etapa de 2025 do Ironman 70.3. Mais perto de casa, talvez ele possa contar até com a força da família na torcida.
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