PUBLICIDADE

ATP

Melhor Sub-19 do mundo, gaúcho luta contra falta de jovens no top 100

2 nov 2012 - 10h29
(atualizado às 11h21)
Compartilhar
Henrique Moretti

O Brasil conta com o melhor do ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) até 19 anos de idade. Natural de Porto Alegre, Guilherme Clezar é o 208º colocado da lista e ilustra um cenário no qual os jogadores mais experientes dominam e o ano de 1989, quando o americano Michael Chang conquistou Roland Garros aos 17 anos e três meses de idade, mostra-se uma realidade bastante distante.

Clezar não vê ninguém mais jovem a frente no ranking desde 21 de outubro, data do 20º aniversário do australiano Bernard Tomic, 49º colocado da lista. "Na verdade não sabia disso, mas é bom, né? O trabalho está sendo bem feito", diz o gaúcho de frases curtas, em entrevista por telefone ao Terra.

Guilherme nasceu em 31 de dezembro de 1992 e tem nesta semana o melhor posicionamento na ATP na carreira. No último dia 23, superou por 6/4 e 6/2 o romeno Adrian Ungur, o 118 do mundo e tenista de segundo melhor ranqueamento que já venceu na vida, pela primeira rodada do Challenger de Porto Alegre.

Um dia depois, Clezar perdeu por 7/6 (7-3) e 6/2 para o holandês Thomas Schoorel, o 258. Nessa idade "é difícil emendar uma sequência de bons resultados", admite o jovem, que prega paciência enquanto avalia ter "um potencial legal para evoluir".

Essa dificuldade não é vivida somente pelo brasileiro. Atualmente, Tomic e o americano Ryan Harrison, 66º colocado do ranking, são os únicos top 100 com até 20 anos de idade.

"Na época em que eu jogava a força física era importante, mas não tinha a influência direta que tem hoje. Obviamente uma boa técnica sempre faz a diferença, mas a questão da força está muito mais presente", analisa João Zwetsch, 44 anos, treinador de Clezar e 231º melhor tenista do mundo em 1991. "Nas finais dos torneios os caras ficam quatro, cinco horas batendo fortíssimo na bola em uma intensidade altíssima. Na idade de 17 a 19 anos os jogadores estão ainda no processo de desenvolver capacidade física".

Zwetsch viaja 80% do circuito com Clezar, o único atleta com o qual trabalha diretamente. O técnico se ausenta nos quatro Grand Slams, quando acompanha mais de perto os outros brasileiros - tarefa de capitão da Copa Davis.

Ex-integrante do Instituto Gaúcho de Tênis (IGT), Clezar passou a treinar com Zwetsch na temporada passada e destaca a "tranquilidade" do ex-técnico de Flávio Saretta e Thomaz Bellucci. "Os resultados melhores não vão vir muito em breve, tenho fixado na cabeça de jogar meu melhor tênis daqui a dois, três anos", afirma.

Até lá, Clezar, que faz um trabalho para evitar lesões com o fisioterapeuta Paulo Campos desde maio de 2011, estará no auge físico e contará com mais experiência, algo que o jogador de 1,83 m e 77 kg reconhece faltar na atual transição para o profissional.

Ex-número 13 do ranking juvenil da Federação Internacional de Tênis (ITF), Clezar foi vice-campeão de duplas dessa categoria em Roland Garros 2009 ao lado de Liang-Chi Huang, de Taipei. Em 2010, perdeu nas quartas de final do Aberto da Austrália em simples para o americano Sean Berman, que cairia na decisão diante do também brasileiro Tiago Fernandes. Dois anos e nove meses depois, Berman é o 757 da ATP e Fernandes, o 630.

Em maio passado, Clezar bateu o chileno Paul Capdeville, então 114º colocado do ranking, por 7/6 (7-4) e 6/3 na final em Rio Quente e venceu o primeiro challenger da carreira. Foi um passo a mais rumo à "afirmação completa" que reconhece ainda buscar.

A conquista veio na quadra dura, piso que domina o circuito de tênis atual e no qual ele conquistou oito vitórias e duas derrotas em challengers neste ano; no saibro, superfície predileta dos brasileiros e na qual se formou, acumulou oito vitórias e 18 derrotas.

"Tenho boa desenvoltura para jogar na quadra dura, buscando a definição na primeira bola, tentando comandar os pontos", afirma o atleta, que nas palavras de Zwetsch "saca bem e tem uma bola muito pesada", mas precisa melhorar "o jogo de rede e a movimentação".

Fã de Gustavo Kuerten, Clezar cita que o tricampeão de Roland Garros teve "bastante" influência principalmente quando começou a praticar tênis, aos cinco anos de idade. "Mas hoje tento me basear nos quatro melhores, que estão muito acima da média. Tento tirar um pouquinho deles", ressalta ele, com referência ao suíço Roger Federer, 31 anos, ao sérvio Novak Djokovic, 25, ao britânico Andy Murray, 25, e ao espanhol Rafael Nadal, 26, que repartiram os títulos de Grand Slam de 2012.

Com o sobrenome de origem alemão - lê-se Clézar -, o jovem gaúcho, que divide os treinos entre São Leopoldo e Porto Alegre, é destro, gremista e filho do empresário Emerson e da médica Denise, já guarda pelo menos uma semelhança com Kuerten, 36 anos.

Veja os melhores tenistas do ranking da ATP até 20 anos de idade:

49. Bernard Tomic (Austrália) - 825 pontos (21/10/1992)
66. Ryan Harrison (EUA) - 710 pontos (07/05/1992)
164. Denis Kudla (EUA) - 323 pontos (17/08/1992)
166. Jack Sock (EUA) - 319 pontos (24/09/1992)
178. Agustín Vellotti (Argentina) - 284 pontos (24/05/1992)
179. Diego Sebastián Schwartzman (Argentina) - 284 pontos (16/08/1992)
185. Javier Martí (Espanha) - 272 pontos (11/01/1992)
192. Yuki Bhambri (Índia) - 253 pontos (04/07/1992)
197. Facundo Argüello (Argentina) - 247 pontos (04/08/1992)
205. Damir Dzumhur (Bósnia) - 238 pontos (20/05/1992)
208. Guilherme Clezar (Brasil) - 236 pontos (31/12/1992)

Veja os recordes de juventude do tênis mundial na Era Aberta*:

Mais jovem número 1 do mundo: Lleyton Hewitt (Austrália) - 20 anos e oito meses em 2001
Mais jovem top 10: Aaron Krickestein (EUA) - 17 anos e 11 dias em 1984
Mais jovem campeão de Grand Slam: Michael Chang (EUA) - 17 anos e três meses em Roland Garros 1989
Mais jovem campeão de torneio: Aaron Krickestein (EUA) - 16 anos e dois meses em Tel Aviv 1983
Mais jovem a vencer uma partida de chave principal: Franco Davin (Argentina) - 15 anos e um mês em Buenos Aires 1985

*A Era Aberta começou em 1968, quando os tenistas profissionais foram liberados para participar dos Grand Slams

Guilherme Clezar exibe em Rio Quente o troféu do primeiro challenger vencido na carreira
Guilherme Clezar exibe em Rio Quente o troféu do primeiro challenger vencido na carreira
Foto: Wander Roberto/Try Sports / Divulgação
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade