Menos de uma semana após membros da Mancha Alviverde tentarem agredir Valdivia em um aeroporto de Buenos Aires, os jogadores, preocupados com a segurança, passaram a responsabilizar exclusivamente o gesto obsceno do chileno para um torcedor, com o intuito de diminuir a sensação de que a organizada é violenta. Mas a diretoria vai mudar a logística das próximas viagens.
Para o jogo da última quarta-feira, contra o Tigre, mesmo com o temor inicial da recepção na Argentina, a delegação foi só com dois seguranças, metade do número usado na viagem para o Paraguai, na semana anterior, para a partida contra o Libertad. O presidente Paulo Nobre acreditou nas palavras de dirigentes do clube argentino e diminuiu seu contingente. Mas se esqueceu de sua própria torcida.
Causou estranheza no clube a viagem com uma dupla de seguranças. Mesmo os jogadores comentaram entre eles, principalmente após a confusão na Argentina, que a diretoria optou por economizar em um setor fundamental. O argumento é de que os seguranças conhecem os membros mais violentos da Mancha e, por isso, poderiam intimidá-los com mais facilidade antes de qualquer problema.
Agora, inclusive em viagens pelo Brasil, no interior paulista ou até em partidas na capital, pelo menos quatro seguranças devem acompanhar a delegação, o dobro do número que costuma seguir comissão técnica e jogadores. A medida também é uma garantia após o rompimento das relações com organizadas, anunciado na quinta-feira por Nobre.
Mas uma orientação importante é que os jogadores se cuidem não só evitando festas e baladas. O pedido é que o elenco saiba lidar com a pressão. Dirigentes, comissão técnica e atletas, incluindo o próprio Valdivia, acreditam que o gesto de apontar os órgãos genitais para Zeca Urubu, membro da Mancha que já trocou agressões com João Vitor e Fabinho Capixaba, despertou a ira da organizada.
"Foi um episódio isolado pela atitude que um jogador tomou e que desagradou. Se não tivesse aquilo no aquecimento, talvez nada teria acontecido", comentou Márcio Araújo, que se posicionou à frente do meia para evitar agressões.
"Não tive medo, tanto que levantei. E se não tivéssemos nos manifestado, seria bem pior. Mas sobrou para um, sobrou para todos", discursou o volante, também contestado por boa parte da torcida. Com um tom de voz calmo, Márcio Araújo sugere o mesmo para os colegas. "A pressão por ter caído (no Brasileiro) existe, e temos que conviver não só com a nossa torcida. Somos chacoteados por todas as torcidas. É normal, precisamos saber lidar", indicou.
A agressão de uma torcida organizada do Palmeiras aos jogadores nesta quinta-feira, em um aeroporto da Argentina, foi apenas mais um capítulo das confusões envolvendo torcedores do clube com atletas e técnicos. Membros da organizada cobraram jogadores após a derrota por 1 a 0 para o Tigre e partiram para cima de Valdivia no saguão. Relembre outros dez casos, do mais recente para o mais antigo:
Foto: AFP
Em janeiro de 2013, o lateral direito Fabinho Capixaba foi xingado por torcedores nas imediações de um salão de cabeleireiro, e entrou em conflito físico com o agressor, em uma rua na frente do Palestra Itália
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Em outubro de 2011, o volante João Vitor foi agredido por um grupo de torcedores quando estava com mais dois amigos na loja oficial do Palmeiras para comprar camisas. O jogador teria sido provocado e entrado em um enfrentamento com os torcedores, saindo com a boca machucada por causa de chutes no rosto. O atleta foi afastado do elenco pouco depois e deixou o clube
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Antes ídolo do clube, o atacante Kleber foi alvo de protestos em outubro de 2011, quando um grupo de torcedores foi até o condomínio onde o jogador mora, em Osasco, com uma faixa para pedir sua saída do clube. Já em frente ao Palestra Itália, um boneco do jogador foi surrado e queimado. No mês seguinte, ele saiu do Palmeiras rumo ao Grêmio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Na chegada da delegação palmeirense ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para um jogo contra o Internacional em junho de 2011, alguns membros de torcida organizada hostilizaram os jogadores. O volante Marcos Assunção se revoltou e discutiu asperamente com os torcedores, chegando a ser ameaçado, para defender atletas criticados como Luan e Adriano "Michael Jackson"
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Após a goleada por 6 a 0 sofrida para o Coritiba em maio de 2011, pela Copa do Brasil, o atacante Luan foi quem pagou o preço. Um coquetel molotov (arma incendiária) foi atirado para dentro do CT Academia de Futebol e atingiu o carro do jogador, quebrando o vidro da janela. Luan continuou sendo criticado por torcedores, e em 2013 acertou sua saída do clube
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Em abril de 2010, no jogo de ida pelas quartas de final da Copa do Brasil contra o Atlético-GO, o meia Diego Souza foi substituído e muito xingado por um grupo de torcedores no Palestra Itália. O jogador, que já vinha sendo criticado pela torcida desde o fim do Brasileiro de 2009, ficou furioso e respondeu com muitos palavrões. Acabou saindo do Palmeiras no mês seguinte e acertando com o Atlético-MG
Foto: Getty Images
Em dezembro de 2009, o atacante Vagner Love, principal contratação alviverde do ano, foi agredido por três torcedores quando saía de uma agência bancária na capital paulista. O atleta teve seu carro chutado e também recebeu pontapés. Após o episódio, acertou sua transferência para o Flamengo para a temporada 2010
Foto: Reinaldo Marques / Terra
Na semana anterior à agressão contra Vagner Love, o também atacante Lenny também passou por situação muito semelhante. O jogador estava saindo de um banco quando foi cercado e ameaçado por torcedores organizados do Palmeiras
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Em novembro de 2008, foi a vez do técnico Vanderlei Luxemburgo sofrer com a violência de torcedores organizados. Em embarque do Palmeiras no Aeroporto de Congonhas, cerca de 20 torcedores causaram confusão e trocaram empurrões com o treinador, que precisou imobilizar o braço machucado após o episódio. Ele deixou o Palmeiras em junho do ano seguinte, após polêmica envolvendo o atacante Keirrison
Foto: Helio Suenaga / Gazeta Press
Hoje ídolo no Corinthians, o técnico Tite também foi ameaçado por torcedores organizados em setembro de 2006, em episódio que culminou com seu pedido de demissão do clube. O treinador saiu alegando desavenças com o diretor Salvador Hugo Palaia, e foi alvo de protestos de torcedores no Aeroporto de Cumbica, precisando de escolta policial para deixar o local