Hein? Brasileiro treina Argentina, mas pode ser rival no Rio
Vitor Alves Teixeira ajudou Argentina a carimbar vaga no Rio como treinador, mas quer disputar Olimpíada como atleta brasileiro
Você se lembra de Vitor Alves Teixeira? Se tem menos de 30 anos, provavelmente não. O brasileiro, atualmente com 57 anos, já foi um dos grandes nomes do hipismo nacional, com participação nas Olimpíadas de 1984 (Los Angeles), 1988 (Seul) e Barcelona (1992). Contudo, no Pan 2015 o atleta foi um dos personagens por outro país: a Argentina. Como treinador, o cavaleiro foi um dos responsáveis pela medalha de bronze – à frente dos brasileiros - e classificação dos rivais. Mas ainda quer ir para Rio 2016 como cavaleiro montado. Por qual país? Brasil.
Sim, a situação inusitada pode ocorrer: sem a convocação para defender o País no Pan – seu último foi em Winnipeg 1999 -, Vitor Alves Teixeira recebeu um convite do presidente do Comitê Olímpico da Argentina, Gerardo Werthein, para classificar o país para 2016. Conseguiu, assim como já havia alcançado em 2004, última Olimpíada que o país se qualificou nos saltos por equipes do hipismo. Nem mesmo a vontade de ainda representar o Brasil – e por tabela ter qualificado possíveis rivais – interfere na cabeça do atleta nacional.
“Eu acho que eles sabem que minha prioridade é o Brasil. Se não estou sendo útil ao Brasil, aí sim posso prestar uma ajuda para outra equipe”, explicou. “Vou esperar o convite vir deles (comissão técnica do Brasil). Se eu for chamado pelo Brasil, a prioridade sempre é o Brasil. Meu objetivo era só até aqui. Vou voltar para cima do cavalo e vou estar à disposição. Tenho dois bronzes em Pans, quero estar dentro”, disse, relembrando as medalhas conquistadas em Havana 1991 e Winnipeg 1999.
O trabalho com a equipe argentina começou em novembro do último ano e deu resultado a curto prazo. A meta era a classificação para a Olimpíada por meio do Pan, que levava as duas equipes mais bem classificadas – excluindo Estados Unidos e Brasil, já garantidos. Em Toronto, a classificação foi conquistada ao lado do Canadá. Muito por causa do trabalho feito pelo brasileiro, que diz não se importar em vestir um boné e a camisa da Argentina.
“Eu estou no mercado. Eu ajudei a classificar a Argentina para a Olimpíada de Atenas, eles se lembraram disso. E agora diante de uma dificuldade e com a necessidade de classificar de novo a Argentina para a Olimpíada, me chamaram. Eu estava livre no mercado, o Brasil também conta com a experiência de um técnico francês. Estou com a sensação de dever cumprido”, afirmou.
A sensação de dever cumprido, contudo, esbarra na tristeza por não representar o Brasil. Mas o que faltar? Para Vitor Teixeira, um cavalo a nível olímpico, como o dos atletas atuais da Seleção Brasileira – diz ele estar quase fechado com um novo animal para tentar encantar a comissão técnica a poucos meses da disputa.
Com três Olimpíadas no currículo como atleta e outras três como treinador, o brasileiro tem o desejo de encerrar o ciclo olímpico em casa. E olha que não se importa nem com o país: no último ano, tentou, junto a outros três cavaleiros, se naturalizar paraguaio para ir à Olimpíada – também classificou o Paraguai ao Pan como técnico. A tentativa foi esbarrada, e agora Vitor aguarda uma nova chance na Seleção. Ou será “inimigo íntimo” em casa como técnico dos argentinos.