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Olimpíada 2016

Aos 30, Falavigna teme "geração perdida" no taekwondo

9 mai 2014 - 07h58
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Falavigna está iniciando ciclo olímpico com dificuldades dentro e fora das competições
Falavigna está iniciando ciclo olímpico com dificuldades dentro e fora das competições
Foto: Getty Images

Natália Falavigna comemora 30 anos nesta sexta-feira com grandes desafios, energias renovadas e um temor: de que a geração do taekwondo que se prepara para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, acabe perdida em meio ao “boom” das modalidades e não gere frutos duradouros. Em entrevista ao Terra, ela fez o alerta usando a experiência de quem ajudou a escrever a história da modalidade no Brasil. “A gente não critica toda hora, mas não consegue ver a melhora. Se a melhora for momentânea e não estruturada na base, as gerações vão se perder”, afirmou.

O desafio da única brasileira do taekwondo a conseguir medalha de ouro em Mundiais - foi campeã em Madrid 2008 - e a subir no pódio em Olimpíadas - foi bronze em Pequim 2008 – é retomar o alto nível após um início complicado de ciclo olímpico. Primeiro, ficou dez meses tratando lesão no joelho, o que a fez perder o Mundial de Publa, no México. Na volta, ficou sem vaga na Seleção Brasileira ao acertar golpe ilegal na final da seletiva nacional e ser desclassificada. Isso tirou dela uma fonte de renda. Apesar disso, tem as energias renovadas para buscar a vaga olímpica.

Taekwondo: muito mais do que apenas uma modalidade esportiva :

“Não encaro como complicado, encaro com naturalidade. Você tem que pegar o ritmo de luta, é um processo longo e eu tenho que estar bem no momento certo”, apontou Falavigna, que aos 30 anos, metade deles dedicados ao esporte, prevê ainda “mais sete ou oito anos” de carreira se seu corpo assim permitir. Ela só teme que o taekwondo brasileiro continue vivendo de destaques individualizados, sem conseguir estruturar suas categorias de base. A oportunidade perfeita para isso está passando. “É um esporte muito aberto, e o Brasil não tem aproveitado isso”, lamentou a lutadora.

Confira a entrevista de Natalia Falavigna

Falavigna é a única brasileira a conseguir medalha olímpica no taekwondo
Falavigna é a única brasileira a conseguir medalha olímpica no taekwondo
Foto: Getty Images
Terra - você completa 30 anos como uma atleta extremamente experiente e com boas expectativas para o ciclo olímpico do Rio 2016. Qual é a avaliação da carreira até agora? Está onde acha que poderia?

Natália Falavigna - A minha vida é essa, não tenho como mudar o passado. Chego aos 30 anos com muito orgulho daquilo que fiz, principalmente porque saí de uma modalidade que praticamente não existia no Brasil e fiz as pessoas conhecerem um pouco. Fui a única atleta a conseguir as principais conquistas, e acho que escrevi meu nome no esporte no Brasil. Mas não estou satisfeita, não. Tem muitas coisas que ainda posso conquistar. Estou em um momento bom, e a questão da idade é muito relativa. O atleta mais experiente vai entendendo melhor o treino, luta de forma diferente, consegue se desgastar menos. Vislumbro bastante coisa. A principal é ser feliz, fazer o que gosto e aproveitar cada momento. Tenho 15 anos de taekwondo e posso prever mais sete ou oito anos, se eu quiser. Minha carreira está mais perto do fim que do começo, mas quero aproveitar cada segundo, curtir um pouco mais. Faço por prazer e sou feliz com o que conquistei.

Terra – Você acha que o taekwondo vive um bom momento no Brasil? Esse ciclo olímpico tem sido bom para a modalidade?

Natália Falavigna - Aumentou o número de praticantes e começamos a ter uma geração de qualidade, mas nada sólido no País enquanto equipe para brigar lá fora. Acho que esses talentos se devem muito mais a fatores individuais e isolados desses atletas, dos treinadores, do que ao trabalho da confederação. A gente não critica toda hora, mas não consegue ver a melhora. Se a melhora for momentânea e não estruturada na base, as gerações vão se perder. Não tem continuidade, e isso é falta de trabalho. Fico preocupada porque é um momento bom, e o País pode perder isso. Como o taekwondo é um esporte novo – dentro do programa olímpico, em favores de treinamento e montagem – vale a pena ser investido, descobrir novas fórmulas, novos métodos. É um esporte muito aberto, e o Brasil não tem aproveitado isso. O México tem aproveitado, a Espanha tem tradição, a França cresceu muito. São países que estão com resultados consequentes. Nós temos mais talentos individuais.

Terra - Esse ciclo olímpico já teve uma lesão que a deixou afastada dez meses e a fez perder o Mundial de 2013. Depois, ficou fora da Seleção (foi eliminada na final da seletiva por acertar um golpe ilegal no rosto da adversária Ana Carolina Souza). Para você, ele começou mais complicado do que o esperado?

Natália Falavigna - Eu acho que não. Não encaro como complicado, encaro com naturalidade. Você tem que pegar o ritmo de luta, é um processo longo e eu tenho que estar bem no momento certo. A seletiva nacional na verdade não representa nada. Quando você roda os campeonatos internacionais, é o seu nome que faz diferença, e eu continuo rodando. Encaro de maneira bem positiva, quero sempre melhorar. São quatro anos de ciclo, então é importante dosar tudo e, na hora certa, estar bem.

Terra – Nesse sentido, a medalha de prata nos Jogos Sul-Americanos do Chile, em março, serviu como uma espécie de recomeço?

Natália Falavigna - Sempre é importante você medalhar, estar no pódio. Estar ali brigando pelas primeiras posições significa que você está competitivo. Tenho sentimento de vitória, de que os objetivos estão sendo alcançados. Independentemente da medalha, aquilo que eu precisava fazer eu consegui. Estamos no caminho certo, e isso é importante. Hoje, depois de ter ficado tanto tempo afastada, aprendi a curtir qualquer medalha.

Terra – Quais foram os efeitos da sua volta a Londrina?

Natália Falavigna - Foram bastante positivos. Voltei às origens. É um reencontro, um renascimento. É o local onde comecei, onde tenho o carinho dos amigos, da família. Londrina é uma cidade pequena em que as pessoas me conhecem, são carinhosas comigo. E trabalhar com o técnico que havia me treinado antes. Quando fui para o Rio de Janeiro, ele ficou em Londrina. Eu só olho de maneira positiva: estou perto dos amigos, da família, estou treinando bem.

Falavigna exibe medalha de bronze da Olimpíada de Pequim, em 2008
Falavigna exibe medalha de bronze da Olimpíada de Pequim, em 2008
Foto: Getty Images
Terra – Sua preparação passa por problemas financeiros como parte dos atletas olímpicos? Principalmente por ter ficado tanto tempo parada, depois ter perdido a seletiva da Seleção.

Natália Falavigna - Nunca é fácil, mas esse ciclo está mais difícil. No Brasil, vive-se do momento. Quem é bem sucedido em Olimpíada tem tranquilidade maior para treinar e competir. Eu acabei me machucando em Londres, então tive que começar do zero. A medalha não garante nada, não mesmo e não acho que tenha que garantir. Mas o Brasil é um País de memória curta para o potencial dos atletas. Meu momento não é fácil, é de reconstruir tudo com a minha família, as pessoas que gostam de mim e estão afim de ajudar independentemente do retorno financeiro. Graças a Deus tenho pessoas ao meu lado, posso contar com elas para reconstruir minha trajetória. Eu gosto de lugar e vou continuar lutando.

Terra – Ter ficado fora da Seleção tirou uma fonte de renda também, certo? Você recebe o Bolsa Atleta e tem apoio do Exército, mas até então ganhava também por estar na Seleção

Natália Falavigna - Tirou o salário da Petrobrás (patrocinador principal da Confederação Brasileira de Taekwondo). O critério que eles usam é que estar na Seleção, então eu, o Diogo (Silva, também derrotado na seletiva nacional) e outros acabamos ficando de fora. É um projeto que não abrange todos, mas quanto a isso não tenho muito o que comentar. Fiquei em segundo (na seletiva) e não tenho direito à verba.

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Terra – Para 2016, como vai ser a pressão de competir em casa, principalmente por você ser um dos expoentes da modalidade?

Natália Falavigna - Realmente tem uma pressão, mas eu já competi em casa, já passei por momentos como esse, disputei algumas edições de Jogos Olímpicos. Com toda essa bagagem, tenho uma ideia de tudo o que devo fazer. E a maior pressão que pode existir é interna. Sabendo aproveitar cada minuto, com gosto e com prazer, a chance de sucesso é maior. Sinceramente, tenho 30 anos, mas não me enxergo assim. Eu me vejo como uma garota nova que tem muito chão pela frente, muita fome pelas coisas. A idade está na cabeça das pessoas, e eu sempre me cuidei. Sou uma menina ainda (risos).

Terra – Prever que tem mais sete ou oito anos de carreira significa que você vai passar, pelo menos, por mais um ciclo olímpico. Mas, ao mesmo tempo, há algo que você planeje para quando a aposentadoria chegar? Algo que já esteja preparando agora, aos 30 anos?

Natália Falavigna - Sempre tive essa preocupação. Eu gosto de viver do esporte, mas não faço só isso. A vida inteira procurei ter uma válvula de escape em relação aos treinos. Procurei estudar, fiz faculdade, faço mestrado, tenho academia de artes marciais. Vou mais sete, oito anos se meu corpo aceitar, mas com o passar do tempo você aprender a treinar com mais inteligência, em volume maior e com mais intensidade. Isso permite tempo para pensar em outras coisas. Gosto de pensar que estou preenchendo meu currículo. Quando tenho oportunidade de fazer cursos, estar em contato com órgãos esportivos, coisas diferente, isso é algo que eu gosto de fazer porque me dá bagagem para, depois, escolher o que eu gosto. O que pintar de diferente, se não atrapalhar os treinos, estou sempre aceitando.

Fonte: Terra
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