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Olimpíada 2016

A dois anos da Olimpíada, Rio convive com otimismo e dúvidas

5 ago 2014 - 07h40
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A contagem regressiva começa hoje. A pressão agora não é por uma Copa do Mundo, mas pelo evento cuja marca é a segunda mais valiosa do planeta: os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro começam exatamente daqui a dois anos e ainda há muito o que fazer. “A tensão só vai acabar quando os Jogos Paralímpicos chegarem ao fim”, disse o prefeito Eduardo Paes, que vai estar a cargo da primeira cidade olímpica da América do Sul. “Acho que todos temos uma enorme responsabilidade na Olimpíada. Naturalmente, como a parte da cidade é minha, sou mais cobrado”, afirmou Paes.

Quem dá a visão do futuro é Sidnei Levi, CEO do COL Rio 2016. “Daqui a dois anos, às 19h50 da noite, vão estar chegando ao Maracanã 500 ônibus com mais de 10 mil atletas, 80 chefes de estado e toda a segurança que isso envolve, mais o público e mais os atletas que vão estar treinando. E se der tudo errado?”, perguntou. “Temos a responsabilidade de mostrar nosso país ao mundo. Mostrar que somos capazes de fazer os Jogos dentro do prazo e do orçamento”, disse Levy. O último número aponta que esse orçamento, dentro da Matriz de Responsabilidade, já chega a R$ 37,6 bilhões.

Mas esse número deve subir. Dos 53 projetos, 17 ainda não têm orçamento definido. Muitos deles são apenas ajustes, como as 15 mil cadeiras que precisarão ser alugadas para ampliar o Estádio Olímpico João Havelange, mas há outros mais complexos. “No Engenhão vamos precisar reformar a pista, alugar as cadeiras, trocar a iluminação. Não preciso gastar esse dinheiro agora. Posso fazer isso no início de 2016 e pagar menos”, disse Eduardo Paes, para quem o evento vai ser os “Jogos da economia de recursos públicos”. “Depois de Atlanta vai ser a edição com mais investimento privado”, afirmou, dizendo que 57% do orçamento previsto será privado.

Em março a desconfiança do Comitê Olímpico Internacional (COI) quanto à capacidade do Rio de organizar os Jogos era enorme. Obras e orçamentos atrasados e muitas dúvidas pelos problemas enfrentados pelo Brasil para a Copa do Mundo. Mas agora o diretor executivo Gilbert Felli avisou que as coisas mudaram. “Chegávamos aqui e tínhamos três respostas diferentes para a mesma pergunta. Agora isso mudou. As coisas estão muito bem organizadas e não tenho dúvida nenhuma de que tudo vai sair perfeito”, afirmou o homem que vai se aposentar bem antes dos Jogos, mas seguirá no Rio como consultor. “Vou estar aqui para oferecer ajuda e encontrar atalhos para os problemas”, confirmou, ressaltando o bom entendimento entre o COL e os três níveis de governo envolvidos.

Para o presidente do Comitê Organizador, Carlos Arthur Nuzman (e também presidente do COB), o mais importante é dar condições máximas aos quase 11 mil atletas que vão entrar em competição no Rio a partir de 5 de agosto de 2016. “Vão ser 42 campeonatos mundiais no Rio em pouco mais de 15 dias. Tudo o que fazemos é por causa dos atletas”, disse Nuzman. Das obras de instalações esportivas, 71% já foram iniciadas. “E muitas delas precisam apenas de adaptação como está acontecendo no Engenhão”, explicou Paes sobre a polêmica obra de ajuste da estrutura de suporte que vai levar dois anos para ficar pronta (quase o mesmo tempo de construção do estádio para o Pan de 2007). “Deodoro, e nunca escondi isso, era minha principal preocupação, mas está andando.”

Olimpíada do Rio de Janeiro começa daqui dois anos
Olimpíada do Rio de Janeiro começa daqui dois anos
Foto: Buda Mendes / Getty Images

Para Felli, o Brasil já viveu dois momentos bem distintos na sua caminhada de preparação para os Jogos: a euforia da vitória e uma certa baixa de moral que o caminho sempre impõe. “Começam as construções, os problemas de trânsito, de deslocamento na cidade e gera muitas dúvidas. Depois chegam os eventos-teste, começam os trabalhos de campo, os atletas, as autoridades e as dificuldades só crescem”, lembrou. “Vocês (jornalistas) precisam cobrar, mas têm que reconhecer o que está sendo feito”, disse.

Outro recorde que o Rio pretende bater em 2016 é de ser a primeira Olimpíada totalmente conectada. O COI aposta forte nisso e por isso cede US$ 1,5 bilhão (R$ 3,38 bilhões) ao orçamento do COL. “A telefonia móvel está crescendo muito e o Brasil será onde pela primeira vez teremos total cobertura digital”, disse Anthony Edgar, chefe de operações de imprensa do COL. O Terra foi pioneiro em Londres 2012 em transmissões dos Jogos para o Brasil através de celulares e tablets.

Para Eduardo Paes, o evento também precisa ficar conhecido como os “Jogos do Legado”. “Essa é nossa ambição. A cada real gasto em instalação esportiva, estamos gastando R$ 5 em obras de mobilidade”, disse, afirmando que o transporte de massa (BRTs, Linha 4 do Metrô, VLT) passará a atender a 63% da população contra 18% de hoje em dia. Mas o fato é que há ainda muito caminho a ser percorrido. As obras de Deodoro, embora o prefeito comemore, já deveriam estar bem mais adiantadas; o trânsito na cidade está cada dia mais caótico; a despoluição da Baía de Guanabara e das Lagoas da Barra da Tijuca estão andando, mas já deveriam estar prontas: “Nenhuma cidade se transformará tanto”, prometeu Paes.

Primeiro evento-teste para Jogos Olímpicos é realizado no Rio:

Mas, como disse o mesmo prefeito, ele entende a desconfiança. “Fazer coisas no prazo não é algo comum para o brasileiro”. Nisso o prefeito tem razão. O brasileiro está acostumado a ver que as obras prometidas não ficam prontas no prazo; que vigas de toneladas desaparecem da Cidade Olímpica sem deixar rastro e ninguém é punido; desapropriações muitas vezes desnecessárias de comunidades inteiras; uma nova linha de metrô que deve apenas sobrecarregar as duas já existentes; um serviço de transporte de massas com ônibus (BRT) que poderia ter nascido bonde (VLT) com mais segurança e maior capacidade do que vemos hoje e que de acordo com especialistas tem prazo curto para estarem sobrecarregadas.

Até o fim do ano serão divulgados detalhes sobre o programa de voluntariado (70 mil serão selecionados na primeira fase) e o programa da venda ingressos. “Já detalhamos ao Ministério Público como será o modelo de vendas e estamos dentro da lei brasileira em todos os detalhes”, afirmou Renato Chiuchini, diretor comercial dos Jogos. O COL quer, desde já, evitar os problemas que a Fifa teve no País antes e durante a Copa. “Esperamos arrecadar cerca de R$ 1 bilhão em venda de ingressos. Metade de Londres, mas com o cumprimento de nossa promessa de ter ingressos a melhores preços”, afirmou com o prazer de quem já fechou mais quatro patrocinadores (que serão anunciados em breve) e está perto de fechar mais três.

Além de celebrar a contagem de dois anos, o COL lança nesta terça-feira a nova identidade visual dos Jogos Olímpicos do Rio. Vai ser a nova cara do Rio para o mundo. E a Autoridade Olímpica Municipal vai hastear 12 bandeiras olímpicas no canteiro central da avenida Princesa Isabel em Copacabana. Para lembrar ao carioca e ao mundo que falta cada vez menos. E o tempo corre contra o Brasil e sua mania de deixar tudo para a última hora. “Temos que fazer as pessoas entenderem que nunca mais vão viver um momento como esse”, afirmou Levy. Há uma certa euforia no ar que os próximos meses vão dizer se são reais ou apenas mais uma história que vai precisar ser recontada. 

Fonte: Terra
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