Inventor do pompom exalta cheerleaders
Lawrence Herkimer recentemente passou por um teste de audição. Na opinião de sua mulher, já não era sem tempo.
"O médico perguntou se eu por acaso passo muito tempo em locais barulhentos, e se eu trabalho com motores", disse Herkimer. "E eu respondi que sim, que costumo passar muito tempo em lugares barulhentos".
Mas Herkimer - ele pede que todo mundo o chame de "Herkie", como até mesmo sua mulher faz - passou a maior parte dos seus 83 anos de vida na companhia de algo muito mais atraente que motores, ainda que igualmente dependente do bom funcionamento das partes móveis: animadoras de torcida.
Herkimer basicamente inventou as cheerleaders, pelo menos em sua versão moderna, e depois ajudou no desenvolvimento de mais e mais gerações, até que milhões de pessoas tivessem passado pelos seus acampamentos de treinamento, usando as saias pregueadas e os suéteres justos que caracterizam as animadoras de torcida, e adquirindo os pompons que ele patenteou. As animadoras de torcida aprendiam saudações que se tornaram marcas registradas em boa parte da paisagem norte-americana. Enchiam ginásios lotados e estádios nas noites frias de sexta-feira com sua trilha sonora rítmica e seus sempre animados movimentos de cores coreografadas.
Se alguém merece crédito - ou culpa, a depender de seu apetite por barulho e por manobras cujo objetivo é distrair e entusiasmar- por tudo isso é Herkimer, que hoje escuta com a ajuda de um aparelho para surdez.
Já faz duas décadas que ele se afastou do negócio das animadoras de torcida. Mas um sentimento de orgulho ainda o toma quando as imagens de cheerleaders ocupam as telas de televisão, como farão rotineiramente durante as finais do torneio de basquete da NCAA, a associação de atletismo universitário dos Estados Unidos, ocupando as laterais da quadra e prenunciando os intervalos comerciais e retornos com seus grandes sorrisos e suas coreografias.
"Sempre que eu as vejo, com todos aqueles pompons sendo agitados", diz Herkimer, "eu digo para mim mesmo que lá estão os meus pompons".
Como se aquilo que ele criou precisasse ser ainda mais validado, seu nome certa vez serviu de resposta a uma pergunta no popular game show televisivo Who Wants to Be a Millionaire. A pergunta era: "qual o profissional mais propenso a realizar um herkie?".
O herkie é uma espécie de ponto de exclamação em forma de salto que acompanha as rotinas das animadoras de torcida. Mesmo as pessoas incapazes de imaginar do que se trate, ou incapazes de se imaginar realizando a manobra, provavelmente já a viram -um braço estendido para o alto, a mão do outro braço no quadril, uma perna estendida, a outra dobrada.
Herkimer criou inadvertidamente um dos movimentos que mais caracterizam os animadores de torcida quando ele mesmo era animador de torcida na Universidade Metodista do Sul, nos anos 40.
"Eu estava tentando um salto com separação de pernas", disse Herkimer, "mas falhei. Não gosto de contar isso às pessoas".
Hoje em dia, ele vive muito longe da agitação do mundo das animadoras de torcida, próspero com o império que construiu e depois vendeu por US$ 20 milhões em 1986. Ele mora com sua segunda mulher, Vera, em um apartamento de 500 metros quadrados 29 andares acima das ondas do Atlântico, de um lado, e de um clube de campo, do outro. Joga golfe todas as segundas, quartas e sextas-feiras, a partir das oito da manhã. Além disso, também se exercita em uma academia de ginástica durante três dias por semana. Herkimer diz ter 1,71m e pesar 75kg. Sua rotina de treinamento não inclui nenhum herkie.
"Eu estava com 60 anos quando tentei o último deles", diz. "Brinco que agora eu precisaria de um guindaste e de muitos fios de aço para fazer um deles".
O primeiro acampamento de Herkimer para animadores de torcida, conduzido em 1948 na Faculdade Estadual de Professores Sam Houston (hoje Universidade Sam Houston), atraiu 52 garotas e um rapaz, diz Herkimer. No ano seguinte, o número de inscritos subiu a 350. Ele tomou US$ 600 emprestados de um amigo de seu sogro para criar o setor de preparação de animadores de torcida, de sua garagem em Dallas.
"Eu estava ganhando mais dinheiro nos acampamentos que conduzia em férias de verão do que como professor o ano inteiro na Universidade Metodista do Sul", ele conta. "Por isso, deixei de lado o ensino e passei a me dedicar às cheerleaders em tempo integral. E o movimento cresceu sem parar".
Não demorou para que sua National Cheerleaders Association estivesse empregando 1,5 mil instrutores a cada verão, ensinando milhares de novatos em acampamentos de animações de torcida realizados em universidades espalhadas pelo país. Sua Cheerleading Supply Co. fornecia as saias e suéteres às equipes - o que não era o aspecto do negócio que mais agradava a Herkie, mas foi sempre o mais lucrativo.
Herkimer percebeu que tinha algo forte em curso na metade dos anos 50, quando voltou de uma viagem de suas semanas e encontrou sua mulher, Doris (que morreu em 1993) "sentada à mesa de jantar e recebendo tantas encomendas que ela nem teve tempo de falar comigo", conta.
Quando Herkimer percebeu que a TV em cores pedia por mais colorido e mais movimento, ele projetou pompons de papel crepe sobre uma base de madeira. Por fim, em 1971, seu projeto que mantém o cabo oculto (batizado pom pon depois que ele foi informado de que a palavra "pompom" tinha conotação vulgar em outras culturas) recebeu uma patente federal nos Estados Unidos.
Em 1987, Herkimer disse ao jornal Dallas Morning News que havia levado a animação de torcida "a novas alturas".
Ele não poderia ter sido mais oportuno. Entre as grandes viradas culturais propiciadas pela Segunda Guerra Mundial, mais e mais mulheres passaram a substituir os homens como animadores de torcida. A crescente popularidade do futebol americano deu origem às cheerleaders sempre presentes nas laterais. Pela década de 50, antes do feminismo, a chefe das cheerleaders era a acompanhante oficial do capitão do time de futebol americano, e se enquadrava perfeitamente à cultura popular do doo-wop e do drive-in.
"Ele elevou o status e a visibilidade das animadoras de torcida", diz Jeff Webb, fundador e presidente da Varsity Brands, hoje a empresa dominante do setor. "Transformou a posição de cheerleader em aspiração".
Webb, ex-animador de torcida da Universidade do Oklahoma e instrutor da associação nacional, se tornou funcionário de Herkimer em 1971, mas logo partiu para criar uma empresa rival e recebe crédito por ter mantido o crescimento do movimento, tendo trabalhado para popularizar as competições entre animadoras de torcidas e conseguido levá-las à televisão. Agora, sua empresa controla as antigas companhias de Herkimer, que foram compradas e vendidas algumas vezes depois que o pioneiro se aposentou.
Herkimer visita acampamentos e competições algumas vezes por ano, mas diz que a animação de torcidas é coisa do passado para ele.
"Estava difícil continuar sendo um animador de torcida aos 60 anos, e eu não conseguia mais pensar como uma menina de 15 anos", disse. "Nós fazíamos reuniões para decidir que tecido comprar, e eu recomendava que não comprassem demais um certo padrão. Mas alguém me dizia que aquele era o tecido mais vendido no catálogo para as cheerleaders mais jovens".
Ele se preocupa com o fato de que agora as animadoras de torcida estão mais preocupadas em competir com outras equipes do que em torcer pelas equipes que deveriam apoiar - algo que Webb também diz preocupá-lo.
Herkimer diz que "estou espantado por o movimento ter chegado onde chegou, mas não sei para onde por ir, daqui. Em minha opinião, está em queda. Se as animadoras de torcida deixarem de ajudar a escola e as atividades da escola, podem perder espaço".
Seria difícil imaginar, especialmente em uma era como a atual, na qual as cheerleaders oferecem um pano de fundo visual e sonoro para os jogos.
Herkimer folheou alguns catálogos de material para cheerleaders que apanhou em uma estante.
"Olha, eles nem vendem mais suéteres no catálogo de uniformes", disse.